Não consigo gostar de Jon Jones. Eu admito!
Posso estar diante do maior lutador da história do MMA, em um futuro não muito distante, e ainda assim não consigo simpatizar com o atual campeão do peso meio-pesado do UFC. Juro para os amigos leitores de GRACIEMAG que não estou sendo desarrazoadamente patriótico e depreciando o americano por ter derrotado Shogun, Machida e, mais recentemente, Glover Teixeira.
Nem mesmo por achar que Jones pode vir a tomar o posto de Anderson Silva como o maior lutador de todos os tempos. Não ignoro sua notável capacidade técnica. Não menosprezo suas impressionantes vitórias e recordes. Admiro, sim, suas muitas qualidades. A verdade é que não consigo gostar dele justamente por sua aparente perfeição.
Todos os fatores parecem convergir para tornar Jon Jones imbatível. Tem uma genética ideal para as artes marciais: alto, veloz, a maior envergadura do UFC, reflexos impecáveis, elevada capacidade de recuperação de lesões e com facilidade para perder peso que resulta em baixíssimo percentual de gordura às vésperas das lutas (daí o apelido “Bones”, algo como “magrelo” ou “ossudo” em tradução livre). Uma verdadeira aberração, no melhor sentido possível.
Todavia, se engana quem atribui todo o mérito de Jones à hereditariedade ou ao Papai do Céu. Trabalho duro e aprimoramento em todos os aspectos do MMA o tornaram um atleta completo. Wrestler de alto nível, Jones tem um dos maiores percentuais do esporte em eficiência nas quedas e em defesa contra derrubadas. Na trocação, seus jabs e cotoveladas são mortais. Sua esquiva é precisa. No chão, se garante no Jiu-Jitsu e já é o maior finalizador da história do UFC na categoria meio-pesado – cinco finalizações.
Focado, Jon Jones também é um grande estrategista e não corre riscos desnecessários. Segue à risca a cartilha do seu técnico Greg Jackson e faz sempre o suficiente para ganhar. Tudo muito perfeito. Perfeito até demais.
O que nos motiva no esporte é torcer para que nossos ídolos ou equipes superem as adversidades e nos maravilhem. A chance real de que venham a perder ou de que façam algo esplêndido são os fatores que emocionam. O divertimento está justamente em não saber o que vai acontecer. Nenhum videoteipe tem a mesma graça de um jogo ao vivo, principalmente por já conhecermos o resultado.
Quando os carismáticos campeões Cain Velasquez, José Aldo ou Anthony Pettis entram no octógono, sabemos que têm pontos fortes e vulnerabilidades. Favoritos sim, inalcançáveis não. Além disso, gostam de dar aos fãs o que eles gostam e tendem a se aventurar em busca do nocaute ou da finalização.
Concordo com o escritor Ruy Castro quando ele decreta que a falível condição humana é essencial à obra de arte. A impecabilidade robótica de Jones impede de nos conectarmos emocionalmente a ele. Suas idiossincrasias mais visíveis são a arrogância e a agressividade pouco ética em alguns golpes. Longe de humanizá-lo, essas características só o distanciam mais dos fãs. Ao vê-lo no octógono, me vem à lembrança Ivan Drago, o caricato inimigo russo de Rocky no quarto filme da série.
Anderson Silva também ostenta uma certa arrogância, mas nossa idolatria por ele decorre da improvisação, da malemolência, de não sabermos o que esperar cada vez que ele entra na arena. Essa genialidade perigosa é que cria as lendas.
Muhammad Ali, Ayrton Senna, Michael Jordan e Pelé não são eternos apenas por causa dos seus recordes (muitos deles já quebrados por novos atletas). São mitos porque ganhavam e perdiam fazendo o espetacular.
Falta a Jon Jones aquilo que nenhum número ou estatística consegue exprimir.
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