Pensar em se tornar professor de Jiu-Jitsu vai além de ter um punhado de alunos dispostos a aprender o bom Jiu-Jitsu. Aluguel do espaço, manutenção das finanças e administração das aulas e dos alunos pode ser um desafio muito maior do que lecionar as técnicas e filosofia da arte suave.
Pensando nisso, Rafael Ferraz, proprietário da GB Panamby, escola que completa cinco anos de sucesso em São Paulo, destrinchou os desafios que enfrentou – financeiros e administrativos – para o leitor que sonha abrir sua própria academia não passar nenhum susto. Confira!
Como pagar o aluguel
“O primeiro desafio era saber como pagar o espaço, já que o aluguel de cerca de 10 mil reais era elevado. Eu era advogado e nunca tinha pensado em ser professor, ter uma academia. Até que meu professor Carlos Liberi me ofereceu essa oportunidade, e decidi abraçar.
“Para completar a equação, minha escola foi a primeira na cidade de São Paulo, não havia experiências anteriores nem outro professor para indicar contatos, sugerir mão-de- obra ou recomendar alunos. Muitas vezes o faixa-preta precisa desbravar o desconhecido.
“Aprendi então que para garantir a receita do aluguel era preciso formar a primeira turma, e ensinar em dez horários diferentes para assim perceber as horas mais procuradas pelos alunos. Sem uma boa turma não há receita e não há um ambiente que atraia mais praticantes.”
A competição como método de atrair alunos
“Abri a academia em 2012, e eu já tinha competido antes. Mas percebi que, já que eu viveria disso, era preciso também aparecer nos campeonatos. Treinei forte e fui bicampeão paulista na faixa-preta master em 2014 e 2015, além de outros torneios.
“Ao lutar, você ganha o respeito e o reconhecimento da comunidade onde sua escola está. Lutar ajuda você a formar um time de competidores e um também um time de instrutores prontos para ajudar você. Hoje temos uma turma de faixas-roxas excelente, na faixa de 20 anos.
“Vale destacar que formar uma boa equipe de instrutores não é suficiente: é preciso ensiná-los acerca de responsabilidades e dos métodos de trabalho, o que por serem jovens também é uma batalha boa. O melhor é criar seus instrutores do que contratar prontos. Demora, mas vale mais a pena e os laços de lealdade são mais fortes em geral.”
Reveja os horários e metas
“Tenho uma meta como professor: formar alunos campeões mundiais no futuro. Pode anotar isso que vai acontecer. Mas para isso é preciso ir além, trabalhar duro, inovar e investir na turma de competição, além de dar atenção aos jovens. Hoje aumentamos a quantidade de horários, e temos um treino corujão tarde da noite e turmas quase particulares para lapidar os alunos dedicados.”
Viva como samurai e fique pronto para tudo
“Quando você decidir abrir sua academia, é preciso estar pronto para alunos e figuras que aparecem para medir o nível do professor. E a academia tem a cara do professor. Se você não estiver bem treinado, pronto para qualquer desafio e pronto para defender sua bandeira, na hora que o problema aparecer, não adianta. Na minha academia apareceu muito cara das academias ao redor para conferir. Ensinar Jiu-Jitsu é estar pronto para todas as batalhas, como um samurai ao acordar.”
Acumulando tempo de tatame
“Só abra sua própria escola depois de ter um tempo considerável de tatame. Só com muita milha acumulada nos dojôs você vai ter a vivência necessária para ensinar e passar suas técnicas adiante. Não se apresse e se precipite
nesse aspecto, pois a falta de maturidade prejudica muito o dono de academia.
“Não é apenas o conhecimento técnico que faz um bom professor, mas a cultura, a convivência naquele ambiente, a experiência sobre que erros evitar, em quem confiar. Ganhe a sua faixa-preta, mereça a graduação e só depois procure viver do Jiu-Jitsu. Só depois de 11 anos de Gracie Barra eu abri minha escola.”
Como garantir um ambiente convidativo
“Sem um ambiente saudável, nenhuma academia de Jiu-Jitsu hoje dá certo. É preciso entender muito bem que tipo de aluno você tem. Todo mundo é amigo até alguém esticar demais o braço de um aluno e alguém se machucar e abandonar os treinos.
“Demora, mas você vai chegar a um grupo perfeito, com a sua cara. ‘Atrás de um general forte há soldados fortes’, não esqueça do ditado. E lembre-se, você vai ensinar de crianças a senhores de mais de 70 anos, homens ou mulheres, competidores ou não, por isso é preciso aprender a diferença e a necessidade de cada tipo de aluno – e tratá-los todos iguais.
“É importante manter o ambiente convidativo para todos, para evitar panelas. Procure também não se empolgar com o primeiro bom trabalho e já querer abrir uma filial. Aguarde até formar alunos duros e instrutores de confiança para expandir.”
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