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BJJ Stars: 11 pontos positivos e 1 negativo

João Gabriel desencantou e bateu Buchecha. Foto: Carol Haber/BJJ Stars

1º) A palavra das estrelas

A opinião parecia unânime: era o torneio de lutas casadas mais bem produzido em São Paulo, e provavelmente no Brasil, em muitos anos. E a opinião vinha justamente das pessoas mais bem posicionadas durante o BJJ Stars: os próprios lutadores, que assim que saíam das pelejas faziam questão de elogiar e agradecer, no microfone da apresentadora Dani Bolina, o excelente trabalho da organização na noite de 23 de fevereiro. Fepa Lopes aproveitou e anunciou o BJJ Stars 2, marcado para Manaus em outubro, e com Saulo Ribeiro x Roberto Godoi como uma das atrações.

2º) Nicholas Meregali

Num torneio estrelado por astros como Leandro Lo, Marcus Buchecha, João Gabriel Rocha, Felipe Preguiça e os favoritos dos paulistas Roberto Godoi, Marco Barbosinha e Bia Basílio, o gaúcho Nicholas Meregali perigava ser visto como coadjuvante. Talvez por isso, ele tenha declarado dias antes da luta: “A gente só escreve nosso nome na História vencendo grandes desafios”, postou ele. “Leandro Lo é meu adversário e vou fazer meu nome em cima dele, pois não aceito ser segundo colocado. Leandro Lo está no meu caminho, e vai sair.” Lo não gostou nada do que ouviu, e na pesagem no próprio sábado empurrou Nicholas longe, com as mãos no peito. O aluno de Mário Reis não reagiu. Umas oito horas depois, Meregali mostrou-se inabalável: numa tentativa de raspagem balão de Lo, o jovem gaúcho caiu em pé feito um felino. Quando o 0 a 0 parecia entalhado no placar, Nicholas deixou os torcedores de Lo atônitos ao deslizar para as costas e começar a apertar o pescoço do atual rei mundial absoluto. Leandro se contorceu para não bater, mas o tempo era curto para tentar virar o 4 a 0 no placar. “Autoconfiança não é arrogância”, diria Nicholas depois. “Eu sei que serei o rei do esporte”.

3º) A forma de Godoi

No vasto salão do Hebraica reservado para o aquecimento, o veterano professor Roberto Godoi, 22 anos só de faixa-preta, não parava de se movimentar, exibindo boa forma física. Na hora do combate com Renato Babalu, com sua torcida cantando feliz, o “Jason” deixou fluir a boa forma técnica, e venceu por 2 a 0: “Era para sair uma raspagem simples que costumo fazer sentado da guarda aberta”, explicaria depois. “Mas o Babalu defendeu bem e acabei me jogando numa raspagem da guarda-X. Eu gosto de usar essa nos treinos: em vez de subir na guarda X e ter de gastar muita energia contra a molecada, eu dou pressão como se fosse subir e, quando o camarada defende, jogo ele para trás somente na manha, sem força.”

4º) João Gabriel, o imune

No dia seguinte ao BJJ Stars, João Gabriel Rocha tinha consulta marcada com a médica oncologista. Foi uma consulta simbólica pois fechava de forma vitoriosa o ciclo de cinco anos de acompanhamento, após uma difícil fase quimioterápica. E pensar que no Hebraica João derrotou o maior recordista em títulos mundiais do Jiu-Jitsu, o brabo Marcus Buchecha. “Foi muito difícil interromper a carreira no auge, para tratar uma doença tão complicada”, disse João, emocionado após o combate. “Mas continuei trabalhando e acho que o segredo da vida será sempre esse: continuar em frente”. O momento mais tenso da luta foi no fim, quando Buchecha, quase nos limites do dojo, tentava inveter e cair por cima de João Gabriel. O árbitro interrompeu, o paulista caiu por cima e a galera pediu os pontos. Mas não havia raspagem: João forçara a passagem cruzando o joelho e obrigou Buchecha a se posicionar em quatro apoios. A manobra rendeu uma vantagem no placar a João e descaracterizou a guarda de Buchecha, daí não ter havido pontos na inversão aplicada pelo atleta da CheckMat.

5º) Bia x Nicolini no duelo de gerações

A luta feminina do evento foi uma das melhores da noite, e talvez merecesse ser realizada mais tarde – bem como a final do Grand Prix. Bia Basílio levantou a galera ao demonstrar por que é uma das mais temidas lutadoras da atualidade, chegando a cair montada na estrela Michelle Nicolini e abrir 7 a 0. Mas a defesa da lutadora do One FC estava em dia, e depois de alguns minutos, ela livrou-se de um estrangulamento na agulha. No fim, 9 a 2 para Bia e muitos aplausos para ambas.

6º) A festa da torcida

As grandes, médias e pequenas academias de São Paulo foram um dos pontos altos do espetáculo, ao promoverem cantos e gritos de guerra para seus professores, em especial Marcos Barbosinha, que superou Wellington Megaton em luta em pé eletrizante. O clima era perfeito, com torcedores de todas as idades, e na área VIP via-se convidados como o chef Alex Atala papeando sobre Jiu-Jitsu com a lenda Murilo Bustamante, entre muitos outros campeões. Patrick Gaudio, vencedor do bom duelo contra Tim Spriggs, levou sua filhota no colo na hora de receber o troféu. Mais família impossível.

7º) O jovem Pé de Chumbo

Escalar ex-astros do UFC como Renato Babalu e Delson Pé de Chumbo foi outra boa cartada do evento. Pé de Chumbo e Tererê fizeram um bonito duelo de ex-campeões mundiais, e o faixa-preta da serra de Teresópolis não deu moleza para o astro do morro do Cantagalo. Delson pôs muita pressão na guarda aberta de Tererê, passou e estrangulou do cem-quilos, a 4min de luta. “Eu ainda sou um garoto!”, celebrou, após dar seu famoso salto mortal.

8) Emoções no Grand Prix

Após ser capaz de manter a frieza diante das câmeras e do microfone, Luis Marques (LM Jiu-Jitsu) desabou. Sentado num canto escondido do Hebraica, o lutador chorou lágrimas de esguicho após passar por três pedreiras: Diogo Almeida, Paulinho Procópio (finalização) e Jurandir Conceição, na final. “Machuquei o ombro e o pé antes do evento, e achei que não daria”, explicou.

9) Mackenzie e as perguntas

Mackenzie Dern não se limitou a ficar torcendo pelo papai Megaton: subiu ao palco para perguntas técnicas e interessantes aos atletas. Golaço do evento. Para nossa reportagem, falou também da gravidez de 7 meses: “Vou voltar ao UFC ainda este ano. Quero também lutar o ADCC na Califórnia em setembro, pois é um torneio ótimo para treinar as chaves de tornozelo e voltar à forma”, disse a campeã.

10) Tererê e o charme

Todo evento de Jiu-Jitsu que se preze deveria contar com Fernando Tererê. O astro carioca foi saudado pela torcida, talvez reflexo dos anos em que morou e treinou em Sampa. Mesmo derrotado, roubou a cena ao jogar todo seu dengo na direção da competente apresentadora Dani Bolina, que só ria.

11) Jiu-Jitsu é roquenrol

O intervalo entre as lutas é sempre um desafio para a produção. E, se de fato poderiam haver duas lutas a menos (o evento foi até as 2h da matina), a solução encontrada foi perfeita: música ao vivo com uma banda competente tocando velhos sucessos do rock. Belo embalo para a plateia.

12) O ponto negativo

E, por fim, o descontrole. Ao término da confusão, quando ninguém se machucou, alguém até tentou brincar: “A organização na próxima vez pode por uma grade em vez de tatame aberto, para ninguém repetir o Erberth Santos e sair correndo atrás da torcida…”. Mas o ocorrido não teve graça nenhuma. É a velha moral da história: atletas que pretendem lutar por bolsas de profissionais jamais podem agir como amadores.

Clique aqui e veja as considerações finais de Fepa Lopes, organizador do evento.

Clique aqui e veja a nota de esclarecimento de Erberth Santos.

BJJ Stars 1
Clube Hebraica, São Paulo, SP
23 de fevereiro de 2019

Felipe Preguiça venceu Erberth Santos por desistência (Erberth correu em direção da torcida)
João Gabriel Rocha venceu Marcus Buchecha por 3 vantagens a 0
Nicholas Meregali venceu Leandro Lo por 4 a 0
Roberto Godoi venceu Renato Babalu por 2 a 0
Marco Barbosa venceu Wellington Megaton por 2 a 0 (punições)
Isaque Bahiense venceu DJ Jackson na decisão dos árbitros
Patrick Gaudio venceu Tim Spriggs por 14 a 2
Delson Pé de Chumbo finalizou Fernando Tererê no estrangulamento aos 4min
Gabriel Rollo venceu Celsinho Venicius por 3 vantagens a 2 (0 a 0)
Bianca Basílio venceu Michelle Nicolini por 9 a 2
Ricardo Pingo finalizou Carlos Eduardo “Cadu” na chave de braço aos 7min43s, após variar do triângulo para a omoplata e então para o armlock

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