No Jiu-Jitsu, Ricardo “Demente” Abreu, 29 anos, já era um faixa-preta respeitado há tempos. No mundo do MMA, o lutador formado pela Nova União começa a ganhar notoriedade este ano, com sua participação promissora no “TUF Brasil” na Rede Globo, reality show do UFC em que já acumula duas vitórias.
Invicto nos ringues e cages, o hoje peso médio (84kg) Demente bateu, nesse domingo, 6 de abril, o mineiro Guilherme “Bomba” Vasconcelos, por decisão unânime dos jurados após dois assaltos eletrizantes. Mas seu talento nas artes marciais quase foi desperdiçado. Relembre um pouco da história de Ricardo, neste artigo de GRACIEMAG, publicado em nossa revista no início do ano de 2010.
********
Durante três anos, Ricardo Abreu acordava toda manhã e era obrigado a encarar um homem triste, com um nó no pescoço e outro no peito. Olhava-se no espelho, ajeitava a roupa e perambulava infeliz por fóruns, varas de família e escritórios de contabilidade. Em 2009, o campeão voltou. Desfez o nó da gravata, trocou o terno escuro pelo paletó branquinho de algodão trançado e passou a apertar o pescoço dos outros.
Foi o que ele fez, por exemplo, em novembro de 2009, no Campeonato Sul-Americano da CBJJ, em São José, na Grande Florianópolis, evento que contou com 900 competidores.
“A rotina de advogado era algo que não me dava nenhum prazer. Aquele não era meu ambiente. Todo dia era uma gotinha no balde, até a hora em que transbordou, e voltei para o Jiu-Jitsu”, recorda o faixa- preta formado pela Nova União.
Sulmatogrossense nascido em Dourados (“Bem na fronteira com o Paraguai”, explica) e criado em Ribeirão Preto, Demente havia ficado famoso no Jiu-Jitsu em 2006, ao ingressar no seleto clube dos competidores que venceram o craque André Galvão na faixa-preta, numa etapa do Campeonato Estadual de São Paulo. Logo após o feito, o aluno de Robson Moura terminou os estudos de Direito e foi seguir carreira como advogado.
Hoje, o tempo afastado das competições produz um efeito curioso no estilo de jogo de Demente, como percebe o parceiro Bruno Bastos: “Ele está lutando às cegas, afinal não conhece ninguém nos campeonatos, não sabe se o adversário é guardeiro, judoca, nada… Ele assiste aos caras ali na hora, impõe o jogo e vence. A gente fica preocupado, liga ao ver as chaves para dar as dicas para ele. Mas ele próprio não se preocupa”, diz Bruno.
De fato, no Jiu-Jitsu Ricardo gosta do básico. Repete contra quase todo mundo seu jogo de puxar para a guarda, raspar rapidamente e partir para cima, como fez na final do absoluto do Sul-Americano, contra Diego Herzog (6 a 0), e na semifinal – uma das melhores lutas do campeonato – contra Alexandro Ceconi (12 a 0).
Leve e baixo para sua categoria, o lutador super-pesado de 1,82m e 94kg pretende alçar voos ainda maiores: ser campeão mundial na preta. Para tal, porém, o ex-advogado vai precisar enquadrar ninguém menos que Roger Gracie, hexacampeão do peso e atual campeão absoluto – e que finalizou Demente na decisão do ouro no Mundial 2009. “Minha vontade não é necessariamente vencer o Roger, e sim ser o número um. Nada é impossível. Até lá, vou treinar muito onde sou vulnerável e lapidar meus aspectos fortes”, diz.
Descer de peso é uma alternativa? Bem, nada assusta mais Demente do que fazer dieta. “Ficar sem comer me deixa retardado… Estou fora”, ri ele, que ganhou o apelido do professor Robinho Moura aos 14 anos, por gostar de se misturar com os mais velhos na academia e ficar provocando e tomando amasso dos adultos mais pesados.
*****
* Curtiu o artigo e gostaria de ficar por dentro dos bastidores do Jiu-Jitsu e do MMA? Assine GRACIEMAG hoje mesmo, com desconto e outras facilidades. Clique aqui.