Não se engane pelo título pomposo e a capa colorida em excesso. “Filho teu não foge à luta” (Editora Intrínseca), que já chegou a livrarias do Rio de Janeiro e tem seu lançamento oficial na próxima terça-feira, na livraria Travessa do Barra Shopping, é um livro sóbrio, cuidadoso, completo e especialmente divertido sobre a saga do MMA no Brasil.
O autor, Fellipe Awi, premiado ex-repórter de “O Globo” e hoje no Sportv, contou ao GRACIEMAG.com que perdeu a conta de quantas lutas precisou assistir para remontar, com talento, a saga do vale-tudo no Brasil, dos desafios de Carlos Gracie aos berros de Galvão Bueno, das lutas de fundo de quintal ao UFC avaliado em 1 bilhão de dólares.
“Sinceramente, não sei quantas lutas eu vi. Foram muitas, sem dúvida, embora o livro não se prenda às lutas em si. Eu me preocupei mais em contar as histórias em torno das lutas, ou seja, contextualizá-las para que o leitor entenda por que esse é o esporte que mais cresce no mundo e por que os brasileiros foram tão importantes para isso. Mas, entre as lutas que vi, Minotauro x Sapp e Royce x Akebono jamais serão esquecidas”, comenta Awi, que teve a ideia do livro após uma reportagem nos subúrbios do Rio.
“A ideia surgiu de uma conversa com o editor de projetos nacionais da Editora Intrínseca, Bruno Porto. Ele leu uma reportagem que fiz pra ‘Revista O Globo’ sobre os vale-tudos que são disputados nos subúrbios do Rio, com bolsas irrisórias, mas que ajudam no sustento de muitas famílias. E daí eu passei a me interessar mais pela história do esporte, até que ele me convidou pra escrever o livro”, lembra ele, acostumado a cobrir futebol há mais de uma década.
“Muito mais profissionais que jogadores de futebol”
“O que me impressionou muito foi o nível de profissionalismo e de comprometimento dos lutadores na preparação para uma luta. Cubro futebol há muitos anos e não tenho dúvidas de dizer que eles são muito mais profissionais que a maioria dos jogadores”, afirma.
“Minha relação com o MMA é bem mais recente que com o futebol. Na verdade, minha preferência pelos lutadores vai mais pela história de vida deles do que pela qualidade ou pelo estilo em cima do octógono. Acho a trajetória do Minotauro extraordinária – só ele daria um filme sozinho. O Cigano me impressiona pela rapidez com que se tornou um artista das artes marciais, depois de começar a lutar tão tarde (aos 21 anos). Entre os Gracie, admiro muito o Rickson. Acho que ninguém conseguiu fazer tanto pelo vale-tudo ou MMA lutando tão poucas vezes, talvez pela postura admirável que ele manteve no Japão. Digo ‘lutando poucas vezes’ vale-tudo, claro, porque o cartel dele no Jiu-Jitsu é extenso”, destaca.
O livro de Awi tem muitos méritos e alguma polêmica. Até quase a página 120, é dedicado aos feitos da família Gracie, dos desafios impagáveis à explosão do UFC 1. Logo de cara, ele abre com um estranhamento entre Royce Gracie e Anderson Silva.
O jornalista também narra em detalhes as primeiras brigas entre o Jiu-Jitsu e o muay thai, em Teresópolis, apura como a Globo exibiu a guerra de Wallid e Eugênio Tadeu, arranca de Rudimar Fedrigo e Wanderlei Silva depoimentos sobre a reação exagerada e imatura de ambos na briga entre Chute Boxe e BTT no café da manhã no Japão, antes de um Pride, e ainda relembra barracos, como a mãe de Vitor Belfort se embolando com uma ex-namorada do craque do UFC, a então musa Marinara. Entre as polêmicas, a principal talvez seja a informação de que Carlson Gracie recebeu dinheiro de bicheiros do Rio.
Polêmica forte do MMA ficou fora do livro
“É claro que, quando você se aprofunda num tema, surgem informações polêmicas. Procurei checar todas. As que eu consegui confirmação, publiquei. Caso contrário, deixei de fora. Sim, houve informações importantes (uma delas fortíssima) que, por falta de comprovação ou confirmação, não entraram no livro”, lembra Awi, que entrevistou mais de 50 personalidades do Jiu-Jitsu e do MMA, no Brasil e nos EUA, do empresário Oscar Maroni ao policial Hélio Vígio – este no dia do nascimento de seu filho, Arthur Awi.
O carinho pelo tema fez o jornalista se encantar não só com personagens e estilos, mas com os próprios veículos especializados, como a GRACIEMAG. “Vocês têm a história do MMA nas mãos e isso não é pouca coisa”, elogiou ele, só deixando claro que dificilmente vai comprar um kimono, muito menos luvas. “Não levo jeito para coisa, pode ter certeza. Quem sabe um dos meus dois filhos”, brinca.
Lamenta-se apenas que o livro “Filho teu não foge à luta” não conte, por motivos óbvios, como fica o MMA no Brasil após a provável coqueluche do TUF na Globo. Como Wanderlei Silva, um dos capitães, repete sempre: “O que está por vir para o MMA é realmente muito maior do que tudo que vivemos”.
Agora é aguardar as cenas dos próximos capítulos. Para relembrar tudo que aconteceu antes, leia o livro de Awi.
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