Ensinar pessoas com deficiência visual uma luta que precisa do tato e do contato físico para ser praticada. Esse é o objetivo do projeto “Jiu Jitsu Com Tato”, desenvolvido no Instituto de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz (IAPQ), no Recife. Três vezes por semana, uma turma de seis alunos parcial ou totalmente cegos aprendem os ensinamentos do Jiu-Jitsu.
O projeto começou em março, idealizado pelo professor Danilo da Cruz, 31 anos. Faixa-marrom e praticante da arte suave há 10 anos, o brasiliense teve a ideia à partir de uma experiência no local onde treinava, no Distrito Federal. Quando Danilo atuava como monitor das aulas da Constrictor Team na Universidade de Brasília (UnB), virou instrutor de um novo integrante, cego.
Danilo percebeu, então, que o aluno tinha um desempenho semelhante e muitas vezes superior às demais pessoas do grupo. Segundo ele, a diferença estava na didática; o movimento precisa ser passado pelo tato, já que ele não vê o professor demonstrando como se faz. “Meus alunos precisam pegar na minha perna, no meu braço, para saber como eu me coloco, como me movimento. Depois disso eles reproduzem as posições como qualquer outro atleta que vê. É uma luta agarrada, por isso o tato – junto com a inteligência – é o sentido fundamental para se aprender a arte marcial”, explicou Danielo.
Danilo também percebeu que as pessoas com deficiência visual tinham a necessidade ampliar o contato com o esporte e o condicionamento físico. “Em muitos casos são pessoas que nunca praticaram qualquer modalidade esportiva, que sempre ficavam de fora até de brincadeiras de infância, porque não existe a preocupação em incluí-los e adaptar atividades à falta de visão.”
Para ele, portanto, o potencial do projeto vai além do simples ensino do Jiu-Jitsu, pois auxilia os cegos a conhecer o próprio corpo, melhorar o condicionamento físico, a mobilidade diária, a coordenação motora e estimula uma vida mais saudável. Possui ainda benefícios indiretos, mas igualmente importantes: cria um espaço de interação social e ensina valores que são os pilares da arte marcial: disciplina, respeito, não violência. “E, como todo esporte, abre portas e amplia horizontes”, acrescenta.
Cláudia Tavares, 35, é massagista no Instituto de Cegos e uma das alunas cegas do Jiu Jitsu Com Tato. Para ela as aulas despertaram a vontade não só de praticar mais atividade física, mas seguir uma trajetória no esporte. “Minha experiência está sendo proveitosa. É um exercício muito bom. Sempre digo que, além de me exercitar bem eu quero competir, provavelmente lá na frente”, planeja. A atleta também destaca outros benefícios do projeto: “A gente termina conhecendo nossas pessoas, fazendo novas amizades. E com o exercício o corpo em si melhora muito, tem ajudado bastante na minha vida”.
Qualquer pessoa com deficiência visual pode participar das aulas, que ocorrem no ginásio do IAPQ, no bairro de Graças, às segundas, quartas e sextas-feiras, de 10h20 às 12h. Atualmente, porém, há uma limitação de alunos por causa do tamanho do tatame e da necessidade de apoio financeiro para o projeto. O professor trabalha de forma voluntária, e luta para conseguir uma renda para continuar a dar as aulas e criar novas turmas.
Empresas, organizações sem fins lucrativos e pessoas físicas são bem vindas para firmar parcerias com o projeto Jiu Jitsu Com Tato. “Já consegui uma parceria com uma marca de kimonos de Brasília, que nos concede descontos expressivos para a compra dos trajes para os alunos. O instituto também vive de doações e por isso não dispõe recursos para garantir toda a estrutura. Mesmo assim, compraram os tatames que temos e se esforçam para adquirir novas peças, aos poucos, na medida do possível”.
Para realizar doações ou firmar parcerias os interessados podem enviar um e-mail para jiujitsucomtato@gmail.com. Pessoas que se encaixem no público alvo e que queiram praticar Jiu-Jitsu também podem entrar em contato pelo endereço eletrônico ou procurar a secretaria do IAPQ para fazer a matrícula.
(Fonte: Assessoria de imprensa)
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