Os pesquisadores Luiz Otávio Laydner e Fabio Quio Takao garimparam uma pepita em seus estudos mais recentes sobre Mitsuyo Maeda, o Conde Koma, o japonês que ensinou Jiu-Jitsu ao grande mestre Carlos Gracie, em Belém do Pará.
Em artigo publicado nesta segunda-feira no site de “O Globo”, a dupla de pesquisadores levanta dúvidas sobre a chegada de Conde Koma ao Brasil em novembro de 1914, data encontrada em suas documentações pessoais. Segundo notícias veiculadas em jornais da época, o lutador teria desembarcado no Brasil meses antes, após suas famigeradas excursões pela Europa, Estados Unidos, Cuba e outros países. No mesmo ano, o japonês já teria começado a fazer demonstrações do Jiu-Jitsu em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Para divulgar o esporte consagrado pelos Gracie anos depois, mestre Maeda anunciava, no jornal carioca “Gazeta de Notícias”, no dia 11 de março de 1915, um Campeonato de Jiu-Jitsu a ser realizado em maio do mesmo ano no teatro Carlos Gomes, certamente um dos torneios precursores no país. O torneio se chamava 2º Campeonato de Jiu-Jitsu, mas nada é informado sobre onde e quando teria sido o primeiro.
Na “Gazeta de Notícias”, Maeda anuncia as rudimentares regras do nosso Jiu-Jitsu:
“Regulamento da luta:
1. Todo lutador deverá se apresentar decentemente, com as unhas das mãos e dos pés perfeitamente cortadas;
2. Deverá usar traje kimono, que o Conde Koma lhe facilitará;
3. Não é permitido morder, arranhar, pegar com a cabeça ou com o punho;
4. Quando se fizer uso do pé nunca se fará com a ponta e sim com a curva;
5. Não se considera vencido o que tenha as espáduas [costas] em terra ainda que tenha caído primeiro;
6. O que se considera vencido o demonstrará dando três palmadas sobre o acolchoado ou sobre o corpo do adversário;
7. O juiz considerará vencido o que por efeito da luta não se recorde que deve dar três palmadas;
8. As lutas se dividirão em rounds ou encontros de cinco minutos por dois de descanso. Tendo o juiz de campo que contar os minutos em voz alta para maior compreensão do público;
9. Se os lutadores caírem fora do tapete, sem que nenhum deles tenha avisado, o Sr. Juiz deve obrigá-los a colocar-se de novo no centro do acolchoado, em pé, frente a frente;
10. Substituirão em suas obrigações ao sr. Juiz os srs. Jurados. Nem a empresa nem o lutador que vencer é responsável pelo maior mal que possa sobrevir ao vencido, se por tenacidade não quiser dar o sinal convencionado para terminar a luta e declarar-se vencido.
* Ficam convidados os doutores em medicina, os representantes da imprensa local e os professores de física e esgrima que se encontrarem no recinto a tomar parte no júri.”
No campeonato, Maeda e seus companheiros vindos da academia Kodokan no Japão venceram diversos wrestlers da Europa e fizeram ainda demonstração de defesa pessoal com facas e outros “golpes, inclusive os proibidos”, como dizia a gazeta.
Havia ainda um desafio aberto ao público: Conde Koma pagaria 5 mil francos a quem o vencesse, e 500 francos para quem durasse mais de 15 minutos contra ele sem dar os três tapinhas. Depois de maio de 1915, Koma e sua trupe de lutadores partiram para Belo Horizonte, Nordeste até o mestre japonês chegar a Manaus e, por fim, se estabelecer em Belém do Pará.
Segundo Luiz Otávio Laydner, a pesquisa está apenas começando: “Ainda existem algumas lacunas a serem preenchidas na fascinante história do Conde Koma no Brasil, da trajetória precisa da trupe até eventuais passagens por Porto Alegre e Salvador. Outra vasta área de pesquisa é o estudo de como evoluiu a técnica de Maeda ao longo de sua vida, do judoca da Kodokan no Japão, passando pelo wrestler que competiu no teatro Alhambra em Londres, pelo artista que se apresentou pelos palcos do Brasil até a convergência de volta ao judô da Kodokan ao longo de sua estada em Belém”.
Já Quio Takao lembra: “Temos um livro escrito pelo próprio Maeda aguardando alguma federação, empresa ou entidade que dê apoio para financiar sua tradução”.
Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
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