O que Anderson Silva, Dan Henderson, Marcus Bochecha e Melvin Guillard têm em comum?
Recentemente, todos eles venceram lutas mesmo após terem sido dominados e montados. Uma tendência que está se tornando cada vez mais comum, talvez mesmo banal, no UFC, mas que assola até o Campeonato Mundial de Jiu-Jitsu, como no caso de Bochecha, em luta contra Rodolfo Vieira.
Incomodado com a frequência com que isso vem ocorrendo, GRACIEMAG.com bateu um papo com o faixa-preta de Jiu-Jitsu Fabricio “Morango” Camões, um dos últimos a ter visto isso de perto, bem de perto, no UFC 148.
“É realmente frustrante quando acontece com a gente”, disse o lutador da Gracie Humaitá, após a derrota por decisão dos jurados para Melvin Guillard.
Os melhores momentos da conversa e das reflexões de Morango estão a seguir.
1. A questão do tempo no MMA
“Todos que entram naquele octagon sabem que vão cometer erros e acertos, e aprender com eles. Meus treinadores ficaram satisfeitos com o que apresentei, o Melvin é uma das pedreiras do peso e me saí bem. Dei uns vacilos no final de cada round, como o soco rodado e o chute rodado e ele se aproveitou desses erros. Na montada, senti ele muito preparado e esperto na defesa. Fiquei com medo de o tempo estar acabando, e fiquei em dúvida sobre se eu descia a mão ou se atacava o braço, e ele se aproveitou para empurrar meu joelho e fugir o quadril muito bem e sair da posição. Vou corrigir isso, porque é frustrante quando acontece com a gente, montar é uma posição boa demais.”
2. A montada e a lição de Rickson Gracie
“Uma vez conversava com o Rickson sobre Jiu-Jitsu e vale-tudo, e ele me disse: ‘Quando você monta no vale-tudo, o mais importante é não perder aquela posição. É não retroceder, manter o cara sob domínio, e depois naturalmente partir para definir a luta.’ E realmente se eu não deixo ele escapar ali, fatalmente ele teria me dado um braço ou virado as costas, ou ao menos eu teria pontuado até o fim do round e teria vencido pelos jurados talvez. Vou trabalhar alguns pequenos detalhes da minha montada com o Royler para não perder mais.”
3. A questão técnica
Perguntamos então se o pessoal não está cada vez mais treinado na defesa, e se a montada não está sendo negligenciada nos treinos pelos faixas-pretas que atacam. Morango acha que a coisa é mais física do que técnica: “Repare na luta como o Melvin não parava. Ele o tempo todo tentava o upa, virava para os dois lados buscando o espaço, e ficava o tempo todo explodindo para sair. O escape da montada realmente está sendo muito estudado nos treinos, principalmente pelos atletas que sabem que podem ficar por baixo ali. Questão de sobrevivência. E os bichos têm a força e a explosão necessária para sair, mas o principal realmente é a gente não se afobar e se manter por cima custe o que custar. Naturalmente o nocaute ou a finalização será oferecida, acredito”, diz.
4. A questão dos jurados
“Realmente está cada vez mais comum montar e acabar perdendo a luta, mas tem um lado desse debate que mais me incomoda. Será que os jurados entendem como a montada é valiosa? Quem monta está obtendo os pontos merecidos pela posição que alcançou? Eu acho que não. Pode ver que até a galera da plateia vibra mais quando alguém escapa do que quando alguém tenta uma finalização ou monta. Isso cai em outra questão. Ao meu ver, os jurados não estão premiando quem sobe lá procurando vencer e finalizar, mas quem sobe lá apenas para não perder. O cara só se defende, não se expõe, não tenta derrubar, e alguns jurados caem nessa. No UFC 148 os jurados demonstraram ter critérios diferentes, pois minha luta e a do Tibau foram parecidas. Se eu perdi, o Tibau venceu. O Tito Ortiz derrubou e jogou no chão, e também perdeu para os jurados. Acho que eles estão cada vez mais premiando quem treina para amarrar, quem treina para não lutar, e a gente fica na dúvida: será que o melhor não é treinar para não se expor, em vez de treinar para finalizar ou nocautear no UFC?”
Com a palavra, o leitor do GRACIEMAG.com.
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