O praticante de Jiu-Jitsu que procura treinar religiosamente e ser abençoado com uma subida de produção constante deve evitar os vícios nocivos à saúde, do corpo, da mente e da alma. Em artigo publicado originalmente na edição de GRACIEMAG #133, nossa equipe escalou mestres e faixas-pretas consagrados para ajudar o leitor a perseguir as virtudes e ser um lutador mais iluminado, seja qual for a sua religião.
Confira a seguir os sete pecados capitais aplicados à vida do lutador de Jiu-Jitsu, e confesse: qual deles atrapalha hoje sua evolução? Reconhecer o problema e lutar contra ele pode ajudá-lo a melhorar os seus treinos hoje mesmo. Para o professor Fabio Gurgel, da Alliance, por exemplo, nada é pior que a soberba ou vaidade na academia. Não à toa, trata-se do primeiro pecado capital para os católicos.
“A luta talvez seja o pior lugar para se cometer pecados capitais”, refletiu Fabio Gurgel. “Afinal, o preço além de alto é cobrado rapidamente. Cedo ou tarde o lutador mostra quem de fato é – seja na ira que atrapalha o seu raciocínio, na inveja que o faz reparar mais nos outros do que em si próprio, ou na preguiça que não lhe deixa treinar”.
1. Soberba
Também conhecida como vaidade ou orgulho. É o pecado de quem demonstra orgulho excessivo, arrogância e vaidade. “A soberba talvez seja o pecado mas comum. É o cara que se acha melhor do que os outros, que precisa estar sempre no topo de tudo, que precisa ser citado em todas as matérias na revista e que se acha mais importante que os demais”, refletiu Gurgel. “Quando a máscara desse sujeito cai, porém, vemos um indivíduo fraco, medíocre, que não aprendeu as lições básicas do Jiu-Jitsu”. Para Gurgel, a soberba tem um remédio tiro-e-queda: a humildade. “É o único remédio. O lutador deve se preocupar apenas com sua evolução constante e não em despertar a inveja dos outros”. O General ainda acrescentou: “A vaidade é uma armadilha em que muitos caem e dificilmente conseguem se reerguer”.
2. Avareza
É o defeito dos gananciosos, que exibem um apego descontrolado aos bens materiais. Nos dojôs, o pior pecado é ser mesquinho com as técnicas e não dividir conhecimento com seus companheiros de treino. Para Xande Ribeiro, há ainda o atleta avarento, que não exibe nos campeonatos mais do que uma ou duas técnicas, suficientes para vencer nas vantagens. “O Jiu-Jitsu nasce para ser uma arte rica, para apresentar milhares de opções de saída para um mesmo problema”, lembrou Xande. “O avarento teima em só fazer a mesma coisa e fica feliz com essa economia de técnicas. De tão mesquinho, acaba grosso, pobre de amigos, e ninguém quer mais treinar com ele”.
3. Luxúria
A luxúria é o desejo passional e egoísta por todo o prazer corporal e material, e pode ser a ruína daquele que se deixa dominar pelas paixões e vícios. Grande mestre Carlos Gracie pregava o sexo com moderação para lutadores e, mais importante, dizia que cuidar bem da alma não significava abandonar o corpo: “Seja qual for a orientação filosófica ou religiosa que sigamos, não deverás jamais significar menosprezo ou desatenção pelo corpo com que viemos a este mundo”.
4. Inveja
É o pecado de quem ignora as bênçãos que possui e deseja exageradamente o status e as habilidades que o outro conquistou. “Você não deve se comparar jamais aos companheiros de treino, e sim a si mesmo, à sua versão antiga de tempos atrás, quando começou a treinar. É o melhor modo de aferir sua evolução e não sucumbir à pressão de ter a mesma habilidade dos colegas em volta. Ninguém é igual a ninguém”, diz mestre Carlos Rosado. Portanto, não inveje, treine duro.
5. Gula
É o desejo insaciável por comidas e bebidas. A gula impede que o lutador coma de forma adequada, respeitando as horas de digestão e a escolha sábia dos alimentos, como frutas, saladas e refeições leves antes dos treinos. “Quando a gente se alimenta bem, está sempre leve para treinar e tem uma boa digestão. Quando o cara bate um pratão, demora a poder treinar ou chega na academia lento e pesado”, disse Royler Gracie. “Nosso corpo trabalha que nem máquina. Se você bota combustível adulterado, ele reclama; se bota gasolina comum, ele anda bem. Se investe na gasolina azul, ele anda muito melhor. Eu não tomo álcool e sigo a Dieta Gracie, e recomendo”.
6. Ira
É a cólera, que enlouquece a pessoa. Nos treinos, é um pecado altamente nocivo, que faz o lutador machucar os colegas e ser mal visto. Nos campeonatos, é o melhor caminho para ser derrotado. “O Jiu-Jitsu tem de ser encarado com frieza, com profissionalismo e também com uma pitada de diversão”, ensinou Rubens Cobrinha. “A ira não é um sentimento útil na luta pois deixa o atleta mais nervoso que o normal, e impede que ele acompanhe o raciocínio e a movimentação do adversário. Depois da luta, você pode até ficar irado com a derrota, e treinar o triplo para ir à forra, usando a raiva como motivação. Mas nunca durante a competição ou o treino.”
7. Preguiça
É o estado da negligência, desleixo e moleza, de causa orgânica ou psíquica. No Jiu-Jitsu, o praticante excessivamente moroso pode irritar os instrutores. É o pecado capital de quem se atrasa para os treinos por desleixo, e também de quem não se dedica a manter o kimono limpo e asseado. Para a campeã e comentarista Kyra Gracie, a preguiça é a principal inimiga da consistência nos treinos. “Há sempre aqueles dias em que o corpo não quer sair da cama, mas a preguiça não pode dominar jamais. Uma vez traçado o plano de treinamento, temos de cumpri-lo à risca. É nos dias chuvosos e nublados que nascem os verdadeiros campeões, como diz o ditado”, disse Kyra.