Com apenas oito meses de faixa-marrom e uma carreira meteórica no Jiu-Jitsu, o ex-atleta de MMA Mahamed Aly apavorou os seus sete adversários, no último sábado, para conquistar o ouro duplo no Mundial de Jiu-Jitsu, na divisão superpesado e no absoluto marrom.
Com um jogo rico em quedas sonoras e chaves variadas, o Aly do Jiu-Jitsu não teve luta fácil no absoluto. Começou vencendo Lucas Hulk (academia Marcio Rodrigues), o campeão meio-pesado, e terminou a odisseia finalizando o duríssimo Guilherme Augusto, da Alliance. A vitória veio por meio de uma chave de pé, depois de uma guerra insana, numa das melhores lutas do evento da IBJJF – Aly também saiu mancando após ter o joelho arrochado.
Fomos bater um papo com Mahamed e colhemos boas lições de Jiu-Jitsu para você. Confira!
GRACIEMAG: Com apenas oito meses de faixa-marrom, você já é o melhor do mundo. Já esperava isso?
MAHAMED ALY: Comecei a acreditar que seria um dos nomes para ganhar esse Mundial quando venci o Europeu da IBJJF, em janeiro, ao ser campeão no peso e no absoluto finalizando todas as lutas. Claro que eu sabia que no Mundial o negócio era bem diferente. Eu estava muito preocupado com a minha categoria, que estava duríssima. Então, tirei a pressão do absoluto. Para a minha surpresa, o favorito do absoluto, o Victor Honório, não se classificou. Aí comecei a acreditar mais ainda que seria possível. Não me sinto pressionado agora até porque não me vejo como o melhor faixa-marrom do mundo. Sinto que sou um deles, mas não o melhor. Na verdade, de dois anos para cá, venho revezando no pódio com várias pessoas. Desta vez, fui o que estava em primeiro, mas é só isso. Qualquer um deles pode me ganhar a qualquer momento, por isso treino tanto. Sou fã de vários atletas de quem ganhei. Então, tento afastar qualquer pensamento egocêntrico da minha cabeça.
Como foi, na sua visão, a batalha contra Guilherme Augusto na final do absoluto?
A final do absoluto foi uma guerra. O Guilherme me deu um leglock na mesma perna que eu já tinha tomado outra chave, do Lucas Hulk. Eu realmente preciso treinar defesas. Quando ele encaixou a posição, meu joelho já tinha estalado todo. Logo depois, começou a ficar dormente. Senti que estava rasgando tudo, não sei por que não bati naquela posição. Depois que ele soltou, eu não tinha como ir para cima. Então tentei atacar o braço, e variei para o joelho dele. Desde faixa-branca eu luto para finalizar. Na verdade, esse foi o motivo pelo qual já perdi tantas vezes: sempre esqueço os pontos quando sinto que dá para finalizar. E nem sempre dá.
O que você tem aprendido com o professor Lloyd Irvin?
O Lloyd tem colocado na minha cabeça que a gente pode fazer o que quiser. Se você trabalhar duro e acreditar, uma hora você chega. Uma caminhada de 10 mil km começa com o primeiro passo. Às vezes, você vai conseguir correr. Às vezes, não terá forças nem para andar. Mas é importante sempre acreditar e caminhar para frente, por mais devagar que seja. O Lloyd sabe explorar meus limites quando estou desmotivado e me desacelera quando a motivação está alta demais. Algumas vezes cheguei à academia com muita vontade de treinar e ele disse: “Mahamed, hoje você não treina. Você está muito cansado. Vai para casa”. A gente se dá bem.
Para você, qual foi o saldo disso tudo?
Fiquei feliz de ter lutado com raça e com vontade, mesmo depois de uma lesão que me deixou quase três meses parado. Fiquei feliz de ver meus adversários me aplaudindo do lado de fora, quando ganhei a final. Ver as outras equipes batendo palma quando acabavam as lutas foi uma das melhores sensações da minha vida. É muito bom ver que as pessoas admiram o trabalho duro, mesmo quando não se é da mesma equipe. Eu também sou assim. O absoluto mundial na faixa-marrom era um dos objetivos de 2015, mas o objetivo principal não mudou. Quero ser bom no que eu faço, bom de verdade. Quero estar entre os melhores. Quero realizar meu sonho de um dia poder viver do Jiu-Jitsu, ainda estou naquela correria que todo mundo conhece. Peço a Deus para que nenhuma vitória me faça pensar que sou melhor do que alguém. E que nenhuma derrota me faça me sentir pior. Somos todos iguais, e não há nada como um dia após o outro.