O carioca Thomas encerrou sua temporada de treinos de Jiu-Jitsu em 2014 um pouco chateado, pode-se dizer enfezado mesmo. A razão: ele estava doido para mudar de faixa, mas ganhou somente um novo grau.
Lhe perdoe a pressa, amigo leitor: Thomas tem 10 anos. Na impaciência própria da molecada de sua idade, achou que merecia a nova faixa, que muitos amiguinhos receberam, na academia Leão Teixeira, na Gávea, Rio de Janeiro.
Fora da academia, Thomas é ótimo menino, e por seu comportamento ganhou dos pais uma viagem dos sonhos: esquiar na Europa, junto com eles e mais os dois irmãos menores. De quebra, fugir do calor que vem apavorando o carioca.
As férias estavam uma delícia. Popular, o rapazote brasileiro já havia angariado a amizade de uns garotos americanos, hospedados no mesmo hotel familiar. Estavam todos no salão das crianças, lotado de jogos e brincadeiras divertidas, e liberdade das liberdades, longe dos adultos. Clima perfeito, até que surgiu ele: o capetinha alemão.
Era um perfeito Joselito louro, a se meter nas brincadeiras sem, digamos, a menor sutileza. Perito em arremesso de brinquedos na cabeça dos outros, o pequeno Panzer germânico não tinha freio. O faixa-vermelha Carlos Gracie ensinava que o Jiu-Jitsu é a última instância, e que a boca é a primeira grande arma do praticante – para conversar e acalmar o eventual agressor. Mas como dialogar naquele salão infantil globalizado? O papo reto em inglês não fazia efeito contra o capetinha. Foi quando o alemãozinho partiu para cima de uma criança americana. Thomas entendeu na prática o que era “última instância”.
Sua atitude foi fria, indolor e eficiente: encaixou um mata-leão para apartar a briga, protegendo a vítima e afastando o agressor, a quem soltou na mesma hora. Mas quem consegue parar um Panzer com uma simples bandeira branca? O alemão agora estava uma fera, e avançou contra o herói brasileiro. Thomas não brincou em serviço. Sentou-se, ajeitou-se e encaixou o triângulo salvador – sob os urros da molecada em volta, felizes por ver o bom Jiu-Jitsu em ação.
Para quem acha que ficou aquele clima de 7 a 1 ao avesso, muito pelo contrário, nada de vencedores nem vencidos. O alemãozinho aprendeu a lição, recuperou o fôlego, acalmou-se e sentou-se tranquilo, já amigo da galerinha.
Com um golpe só, o pequeno Thomas realizou alguns feitos: restabeleceu a ordem no recinto, provou para americanos e alemães a eficiência do Jiu-Jitsu de Carlos Gracie Jr como método de defesa pessoal e reforçou a competência das aulas na escola de Zé Beleza.
Se ele gostou de esquiar? Ninguém conseguiu descobrir. Todos os coleguinhas (e alguns repórteres curiosos, amigos da família) só pedem para ele contar de novo a história de como o Jiu-Jitsu salvou o dia naquele simpático hotel austríaco.