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Roger Gracie e a vitória no Strikeforce: “Usei o pisão que aperfeiçoei com Lyoto”

Roger Gracie se embola com Keith Jardine e solta joelhada

Roger Gracie se embola com Keith Jardine no Strikeforce, e desfere a joelhada alta. Fotos: Esther Lin/Zuffa/Divulgação

O Strikeforce de sábado será reprisado nesta terça-feira no canal Showtime dos EUA, então se você quiser assistir sem saber o final é bom pular esta nota.

Se ignorou o aviso e quis continuar, é porque já deve saber como foi a luta de Roger Gracie contra Keith Jardine, válida pelo card principal do evento em Portland, Oregon. O tricampeão mundial absoluto obteve uma convincente vitória por decisão unânime dos jurados após três rounds – o que não significa que Roger não tenha vivido momentos de tensão, ou de aprendizado, como os bons mestres de Jiu-Jitsu preferem.

Em bate-papo com o GRACIEMAG.com, direto da casa de Lyoto Machida em Los Angeles, onde o pequeno Tristan Gracie conheceu os filhotes Machida, Roger lembrou que começou a passar perrengue antes de encarar o feroz barbichinha no tablado cinza. “Quase fui carregado para bater os 84kg. Depois tomei seis litros de água direto, sem nem vontade de ir ao banheiro”, diverte-se o Gracie, agora que deu tudo certo. Mas deixemos que ele mesmo conte:

O valor de ter lutado os três rounds:

“Apesar de o ideal ser a finalização, o desfecho dessa luta foi valioso para mim. Foi uma luta em que pude aprender muita coisa, desde a perda de peso até o meu comportamento como lutador, tanto nos momentos de domínio como nos de risco.

“Eu pude notar que há aspectos onde estou realmente confortável, e outros que eu ainda não consegui botar em prática na luta, por falta de confiança. Chega na hora, se você não está realmente confiante naquele golpe, você trava e não usa. Os meus jabs e chutes frontais eu usei, por exemplo, mas não joguei minha direita nem usei nenhuma combinação de golpes, algo que treinei muito. Mas nas próximas vou me soltando.”

A perda de peso:

“Deixei para perder muito peso na última hora, e acredito que cansei no terceiro assalto muito por conta disso. O que pegou foi que eu precisei perder nove quilos de quinta-feira até a pesagem de sexta. Isso me matou. Tive de fazer sauna quinta e sexta, quase pedi para ser carregado.

“O corpo desidrata demais desse jeito. Depois de bater o peso eu bebi seis litros de água direto e nem fui ao banheiro. Nunca mais deixo isso acontecer, porque o corpo sente mesmo.”

Roger lamentou não ter usado mais combinações de socos, mas os punhos e a envergadura do Gracie foram úteis para afastar Jardine.

Roger lamentou não ter usado mais combinações de socos, mas os punhos e a envergadura foram úteis para afastar Jardine.

Aprendizado no jogo de chão:

“Aprendi em especial que, apesar da minha superioridade técnica em termos de Jiu-Jitsu, não é tão fácil assim finalizar todo mundo. E o mais importante foi me achar nessa situação, para eu aprender a ir dosando a energia. Não posso ir igual um maluco tentando qualquer coisa, nem me afobar porque o oponente não ofereceu uma boa chance. Houve uma hora em que caí do lado dele, e ao buscar a montada eu dominei o braço dele umas duas horas. Ali eu penso agora que eu poderia ter tentado bater mais, buscando o nocaute ou um bote para finalizar.

“Mas, por outro lado, a gente tem visto isto acontecer direto: o lutador de Jiu-Jitsu monta, escolhe socar para nocautear, o juiz quase interrompe mas o tempo acaba ou o cara quase apaga e se recupera. Aí, você fica cansado e o cara volta inteiro. Aconteceu com o [primo] Gregor no One FC, ele esteve em superioridade em vários momentos, quase nocauteou e depois cansou. Isso vem na cabeça na hora da luta, não tem jeito. Então acho que foi útil, não finalizei nem desci a mão para nocautear, mas consegui raciocinar, avaliar e me dosar.”

Os melhores momentos no Jiu-Jitsu:

“Houve algumas chances de pegar. No segundo round, fiquei nas costas dele um bom tempo, tranquei o triângulo na barriga dele, mas essa posição, se é ruim dele sair, também me travou um pouco. O que houve ali nas costas foi que fiquei meio preso na grade e acabei ficando muito alto nas costas dele. Tentei arrochar o pescoço, mas o suor e o sangue contribuíram para que ele escorregasse. Em resumo, eu estava nas costas mas não estava tão confortável para atacar.

“Acabou que escorreguei dali para a montada e fui para o katagatame, mas o golpe não encaixou porque desisti não. Ele que escorregou e escapou – além dele o tablado também tava ensopado a essa hora. Quando ele escorregou e escapou foi que eu larguei o katagatame, e voltei para a montada.”

A hora de lutar exausto:

“E no terceiro round, enfim, o cansaço bateu. Cansado não, ali eu estava exausto. Minha sorte foi que ele estava tão cansado quanto eu, e ainda tinha de correr atrás. Eu imaginava que tinha vencido os dois assaltos, então passei a lutar para não gastar mais força e não me expor. Vou jogar malandramente no erro dele, pensei. E quando ele veio para cima de mim, usei o jab e o pisão frontal que aperfeiçoei com o Lyoto. Eu já usava muito esse pisão com a perna esquerda nas outras lutas, mas agora pratiquei com o Lyoto usando a perna de trás. Funcionou bem.

“Quando acertei uns dois pisões, vi que ele sentiu e parou. Isso me deu mais tranquilidade para me manter afastado. Mas houve um momento em que senti perigo, no terceiro assalto. Foi quando ele combinou um golpe que terminou num cruzado na minha testa. Ali eu fiquei meio bamba. Cheguei a pensar: ‘Não acredito que eu vou perder…’ Mas me recuperei. Ele talvez não tenha percebido quão abalado eu estava. Voltei ao normal rapidamente e passei a afastá-lo e a esquivar de novo.”

Futuro próximo no Strikeforce:

“O evento foi legal pois teve bastante lutas da minha categoria, então pude ver o pessoal do meu peso em ação. Acho que nas próximas tenho de ficar mais ligado, pois a tendência é enfrentar caras mais jovens, com punhos ainda mais rápidos e mais explosivos no chão. Desta vez eu treinei bastante a esquiva daquela direita potente dele. Uma eu esquivei e saí, outra eu entrei e derrubei.

“Sei que agora é continuar treinando para ganhar mais confiança em alguns aspectos do meu jogo em pé, sem descuidar do Jiu-Jitsu e dos ajustes no chão. Cada adversário vai apresentar uma dificuldade diferente e é bom estar pronto. O Jardine, por exemplo, no chão parecia que não tinha muito pescoço e um queixo para dentro, ficou ainda mais duro de finalizar. Mas é continuar treinando, vou ficar ajudando nos treinos da Black House até a luta do Lyoto no UFC on Fox 4 (contra Ryan Bader), no dia 4 de agosto.”

Após a luta, missão cumprida: "O Roger está se tornando um lutador melhor e um homem melhor a cada desafio desses", comentou Renzo Gracie, seu córner.

Após a luta, missão cumprida: “A cada desafio o Roger está se tornando um lutador e um homem melhor”, comentou Renzo Gracie, seu córner no Strikeforce.

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