*Por Cleiber Maia
Quando a referência emocional para agir é o medo, surge a ideia de que é necessário haver controle do mesmo para se tomar uma decisão. Todos tem medo, e nega-lo chega a ser irresponsável, justamente pela tendência à falta de controle.
Essa é uma lógica recorrente na formação da personalidade – adotar um mecanismo de defesa derivado do medo para lidar com a responsabilidade, e que, até certo ponto, pode ser muito útil sob o ponto de vista de quem não quer lidar com riscos. Só que quem não assume riscos e compromissos não amadurece.
Cada vez mais pessoas se posicionam como vítimas das circunstâncias, pois assumir o papel de agente da mudança cria conflitos e é arriscado demais.
A vivência no Jiu-Jitsu pode ajudar a desconstruir esse mecanismo que compromete a coerência na tomada de decisão em conflitos, além de retardar o amadurecimento de uma pessoa. Com o tempo de prática, desenvolve-se a expertise para mapear estrategicamente o cenário de conflito, possibilitando a ação virtuosa de forma espontânea no momento oportuno.
A necessidade de lidar com essa questão emerge quando nos encontramos num cenário que se apresenta misterioso ou complexo demais para ser entendido completamente, ou dinâmico demais para ser sistematizado pela mente humana a tempo de agir de forma coerente. Nesses momentos prospera quem se propõe a improvisar corajosamente a cada respiração, fluindo de acordo com a tensão momentânea da vida.
Para quem treina Jiu-Jitsu, improvisar não significa agir irresponsavelmente. É se libertar para agir de forma não predeterminada, sem adotar como referência experiências passadas que poderiam distorcer a percepção da demanda necessária. O lutador deve ter o foco no momento e a capacidade de ser coerente em momentos incertos.
São tantas variáveis, e elas se alternam de uma forma tão dinâmica em cada situação, que o praticante de Jiu-Jitsu acaba se habituando, por força da circunstância, a agir coerentemente, tanto em situações urgentes onde a reação deve ser imediata quanto em momentos mais estáveis onde há tempo para refletir sobre as alternativas, assim como em momentos onde teoricamente não há mais energia suficiente, mas que ainda há um ímpeto inabalável que vem do coração de quem está imbuído de realizar uma missão.
Isso é o que eu chamo de integrar o instinto, o intelecto e a emoção para agir em sintonia com o universo em conflito. Só quem se prepara para lidar corajosamente com o caos terá a segurança necessária para assumir riscos e compromissos na vida. Esse é o caminho ideal para lidar com a dúvida inerente ao sentimento de medo e alcançar a maturidade com sabedoria, sem perder a fé na capacidade de enfrentar desafios.
O medo cria a ideia de que é preciso ter controle para assumir uma escolha e a coragem dá a convicção de que podemos conquistar a liberdade para assumir riscos e compromissos.
*Cleiber Maia é faixa-preta de Jiu-Jitsu, líder da nossa GMI LPM Jiu-Jitsu, em Laranjeiras, Rio de Janeiro.
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