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Marquinhos Souza e o ouro em Abu Dhabi: “O medo de perder me fez campeão”

Marquinhos Souza em luta contra Victor Estima, na final do WPJJC. Foto: Dan Rod/ GracieMag

O faixa-preta Marcos Souza (Bonsai) venceu o peso até 82kg na quinta edição do WPJJC, em Abu Dhabi. Marcos aplicou uma queda na pedreira Victor Estima para levar os dólares de premiação e a medalha de ouro para o Japão, onde reside com o mano Roberto Satoshi.

Como ele conta a GracieMag, o professor passou por dificuldades de inscrição e passagem para voar até a capital dos Emirados Árabes, e no fim a vitória lhe sorriu.

GracieMag: Você chegou muito bem nesta categoria até 82kg, em Abu Dhabi. Qual foi o detalhe para vencer?

MARCOS SOUZA: Quando acordei no dia da competição senti algo muito diferente dentro de mim, não sei explicar. Estava com uma energia boa e muita vontade de lutar. Quando me classifiquei para final, vi meu irmão perder a semifinal para Leandro Lo no peso dele. Foi curioso, pois ao mesmo tempo em que fiquei triste, aquilo me fortaleceu. Quis muito ganhar por ele, porque não queria vê-lo totalmente triste. Fiz apenas o necessário para ser o campeão. Nas outras competições sempre entro para finalizar ou acabo vencendo por uma boa margem de pontos, mas dessa vez admito que joguei para não errar e fiz apenas o necessário para ser campeão.

Como foi a final com Victor Estima, o Carcarazinho?

O Estima é um lutador que dispensa comentários, ele tem uma das pernas mais perigosas na categoria. É capaz de finalizar em qualquer posição, sabe? Eu não podia errar. Posso ser muito melhor do que mostrei durante a final, se acontecesse de ele me raspar, por exemplo, eu provavelmente abriria o jogo para voltar à frente do placar. Já se voltasse em pé tentaria derrubar. Enfim, no fim da luta eu até pedi desculpas a ele. Victor me disse: “Você fez o certo, se fosse ao contrário eu faria a mesma coisa. Você soube administrar a luta e venceu”. Era um título importante em jogo e eu mais do que nunca queria vencer. Em relação à queda, eu pensei em puxar para a guarda ou deixá-lo me puxar. Não combinei nada e acabei indo para cima e quedando.

Qual foi seu pior momento que em Abu Dhabi?

Foi bater o peso, estava oito quilos acima e tiver de perder em um dia. Não foi fácil. E também quando vi meu irmão perder, fiquei muito triste.

O que você acha que faltou para seu mano Roberto Satoshi vencer Leandro Lo e tentar o bicampeonato?

O Satoshi tem menos de um ano e meio competindo na faixa-preta, perdeu apenas duas lutas por pontos até agora, e já venceu quase todos do peso leve. Ele está sempre entre os três da categoria. É habilidoso e tem uma vontade de vencer fora do comum. Meu irmão luta para frente e acho impressionante que ele nunca pensa numa estratégia, ele entra ali e luta. Na minha opinião, para vencer o Leandro Lo hoje tem de ser na estratégia, porque ele tem um Jiu-Jitsu diferente, incomum mesmo. É difícil ganhar dele.

Que perrengues você penou até o topo do pódio? O que houve?

A maior verdade é que o medo de perder me fez campeão. Passei por muitas complicações antes de aterrissar em Abu Dhabi. Os organizadores no Japão não haviam permitido que brasileiros lutassem a seletiva, exigiam visto permanente ou passaporte japonês. Foi uma briga para eu me inscrever na seletiva. Com a ajuda do meu amigo Douglas Santos, fiz a inscrição no último dia de prazo. Mas faltava a passagem do meu irmão. Demos seminários no Havaí e levantamos a grana. Mesmo como atual campeão, o Satoshi não teve moleza. O resultado de tudo é que foi muita correria, e acabei lutando o torneio sem treinar (risos)! Eu não estava preparado tecnicamente. Se por um lado isso reduzia a cobrança pessoal, ao mesmo tempo me incutiu um medo de perder danado. No fim, o medo me fez errar muito pouco e me fez mais estratégico.

Que lições você aprendeu?

Nada disto dura muito: as lutas, a medalha de ouro ou o dinheiro da premiação. A medalha vai enferrujar um dia, as lutas serão lembradas por pouca gente e o dinheiro está quase acabando (risos). O mais valioso no Jiu-Jitsu é a oportunidade de viver momentos especiais para sempre. Seja no almoço, no hotel, nos treinos com todos juntos e até mesmo na sauna, em todos os cantos você se diverte. A amizade e os bons momentos são para sempre. O resto é passageiro, tem pessoas e momentos em Abu Dhabi que vou carregar para sempre no coração. Algumas pessoas não sabem realmente o que o Jiu-Jitsu pode fazer em sua vida e dão mais importância em ser campeão ou a um simples metal dourado. Outra lição importante: se poucos acreditarem em você, lute pelas poucas que acreditam. É por elas que você deve dar seu melhor, e não importa o que outros disserem. O sonho é seu, persiga.

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