Faixa-preta de Jiu-Jitsu há 15 anos, Rodrigo Prujansky (GB Botafogo) se apaixonou pela defesa pessoal desde o primeiro treininho, quando ainda era uma criança que sofria bullying. Hoje, o professor de 38 anos é um instrutor requisitado entre as forças policiais, com experiência em cursos nos EUA, Israel e Brasil – e no Rio de Janeiro tão conturbado que conhecemos. Batemos hoje um papo com ele, que detalhou lições bacanas sobre a arte de ensinar policiais, e explicou por que a arte suave é fundamental para salvar vidas durante operações de segurança.
GRACIEMAG: Você vai começar mais um curso de defesa pessoal para forças de segurança em novembro, no Rio de Janeiro. Como você começou a ensinar Jiu-Jitsu para policiais?
RODRIGO PRUJANSKY: Comecei esse projeto de disseminação do Jiu-Jitsu assim que me apresentei num Batalhão de Polícia de Choque, em dezembro de 2013. Na unidade, no Rio, já existia um dojo, doado pelo Dedé Pederneiras e por meus amigos Minotauro e Minotouro, mas não estava sendo utilizado. Fiz o pedido ao comandante do Batalhão, à época o então coronel da PM Vidal, que entendeu as razões e permitiu a utilização do espaço para a prática do Jiu-Jitsu e da defesa pessoal. No início, organizamos uma agenda com treinos de judô e Jiu-Jitsu. Depois disso, houve dois cursos no Batalhão, o Curso de Policiamento em Praças Desportivas e o Curso de Táticas de Patrulhamento Urbano e enxerguei muito potencial para eu colaborar. A partir daí, passei a ministrar aulas de defesa pessoal nos cursos de especialização do Choque e em diversas unidades da Polícia Militar do Rio.
Qual é o maior benefício do aprendizado do Jiu-Jitsu para forças de segurança? A técnica física ou a frieza mental?
Eu comento isso quase todos os dias quando estou ensinando Jiu-Jitsu. Um dos ensinamentos mais valiosos para todos que treinam de kimono, e acredito que isso vale mais ainda para os policiais, é o desenvolvimento do controle emocional. É esse o atributo e o benefício do Jiu-Jitsu que nos permite raciocinar sob pressão. Policiais no Brasil são verdadeiros heróis, pois vivem diariamente uma realidade de guerra, encarando bandidos armados com fuzis, metralhadoras e granadas, sem saber se voltarão para casa ao fim do dia. Somente a partir de um controle emocional que permita pensar com tranquilidade e acerto em momentos de perigo, pressão e cobrança, eles conseguem ter uma vida normal, e sobreviver na hora do perigo. Por isso a importância de um treinamento contínuo, de repetição de situações, e do Jiu-Jitsu, que ajuda a cabeça a trabalhar isso tudo.
Você tem viajado muito, certo? Como anda o ensino de defesa pessoal para oficiais nos EUA, comparado ao Brasil?
Nos últimos anos tive a oportunidade de ensinar tanto em Israel como nos EUA. A realidade dos EUA é completamente diferente do Brasil, e o comportamento dos criminosos também, o que acaba por reduzir a preocupação dos mesmos para essa realidade. Posso dizer que o ensino da defesa pessoal para a polícia americana, infelizmente, ainda não é dos melhores, mesmo que possuam todos os equipamentos, infra-estrutura e orçamento. O ensino de Jiu-Jitsu durante os cursos de formação ainda é muito fraco, e pelo que pude perceber, acabam por se apoiar nos equipamentos, em especial nas armas eletro-incapacitantes. Mas e se tais armas não funcionarem, ou não der tempo de usá-las? O Jiu-Jitsu é a melhor opção no que se trata de controle de contato, portanto.
Em que boas escolas e corporações importantes você ensinou?
Em 2016, tive a oportunidade de ministrar cursos para as unidades especiais do exército e da polícia de Israel. No Rio, como comentei, comecei no Batalhão de Choque em 2013, e ainda fui no Comando de Operações Especiais da PM. Mais recentemente , pude ministrar treinamento para a polícia de Boyton Beach junto do meu professor Alexandre “Café” Dantas, em 2018, e este ano pude dar instrução para a polícia de Boca Raton, junto com os professores Sergio Costa e Fabiano Carvalho, da GB Boca Raton, que me convidaram. O resultado foi excelente, de onde surgiram mais convites para corporações de Morgate e até do Canadá.
Qual para você é a principal diferença entre ensinar policiais e praticantes recreativos?
Primeiro quero pontuar que qualquer pessoa que abdique de uma vida normal para manter o bem estar do próximo merece todo nosso respeito, seja em que país for. Esses profissionais sacrificam suas próprias vidas, seu bem estar, em prol da segurança dos demais. E sinto a obrigação de reforçar que todas as forças de segurança possuem, em sua maioria, pessoas de bem, honestas e capacitadas, como tenho visto durante esses anos todos. Respondendo a pergunta, a diferença no ensino entre policiais e praticantes recreativos reside em diversos fatores. Há, por exemplo, a individualidade e velocidade de aprendizado que varia de praticante para praticante. Mas o principal é que os policiais entendem que a defesa pessoal pode definitivamente ser o fator que vai salvar sua vida ou a de um companheiro diante de uma ameaça iminente. Um outro aspecto menos percebido é que o Jiu-Jitsu evita excessos e problemas de abuso de autoridade, pois a arte resolve confusões de forma muito mais eficaz e suave.
Você foi da seleção brasileira de polo aquático, certo? Quais as semelhanças e diferenças do lutador para o atleta de alto rendimento?
Olha, creio que todo atleta de alto rendimento possui no seu interior a vontade de vencer, aquela superação de tentar alcançar o seu melhor, dia após dia. Mas o lutador, acredito, é um ser humano diferente dos demais. Ele acorda, come, respira e pensa o tempo todo numa coisa: que é preciso estar pronto para o combate – a qualquer hora, em qualquer lugar. Um nadador, por exemplo, se alimenta de modo regrado porque isso será melhor para seu rendimento; já o lutador precisa se alimentar bem para estar pronto para a luta, para o próximo desafio contra outro cara, daqui a alguns minutos. É outro nível. E posso dizer com propriedade pois me dediquei às piscinas por anos, tendo duas medalhas de prata em Pans. Mas é diferente – na natação, há uma raia de distância para o adversário, sem toque ou contato. No polo não, há de fato bons paralelos com os lutadores. Em vez de brigar contra o cronômetro, os jogadores precisam sobreviver num ambiente hostil como a água, e ainda brigar por espaços contra adversários, entre socos, cotoveladas, cabeçadas, chutes, agarrões e muitos caldos. É um verdadeiro coliseu aquático. A porrada canta firme!
Pode ser pior que o UFC então? (Risos)
Os caras são guerreiros, mas a grande diferença é que no polo aquático há um time jogando com você. Então é possível que um “gladiador” do mesmo time nade para auxiliá-lo quando você estiver em desvantagem, o que não ocorre na luta. O lutador sabe que ali, dentro do tatame, do ringue, de onde quer que ele esteja, existem somente ele e o adversário, e nada mais importa do que superá-lo, do que manter-se vivo. Ele sabe que não pode contar com o apoio de mais ninguém que não seja ele mesmo. Daí a necessidade de fazer do seu corpo o seu templo e da sua cabeça o seu porto seguro, ciente das suas forças e fraquezas. Por isso o lutador de Jiu-Jitsu e MMA deve acordar e dormir pensando somente nisso, em como superar suas fraquezas e alcançar novos limites. É uma vida de samurai.
Perfeito. E quando você percebeu que viveria esta vida, Rodrigo? Que faria do Jiu-Jitsu seu ganha-pão?
Entrei no Jiu-Jitsu quando eu tinha 11 anos de idade, e lá se vão 27 anos. A minha primeira aula foi de defesa pessoal, e durou a semana inteira. Eu sofria naquela época o que chamamos de bullying hoje, e reconheço que aquela semana foi fundamental na minha vida. Aqueles pequenos e simples movimentos mudaram o meu rumo – pois alteraram para sempre o meu modo de pensar e de me comportar. O Jiu-Jitsu me trouxe autoconfiança, disciplina, respeito e acima de tudo, autoconhecimento. Nos melhores e nos piores momentos da minha vida ele sempre esteve presente. Então, com 17 anos, ainda faixa-roxa, pus na minha cabeça que precisava tentar divulgar tudo aquilo que eu senti para todas as pessoas que eu viesse a conhecer.
Você hoje administra a GB Ipanema, Botafogo e Copacabana. Onde você começou a ensinar?
Após ter uma oportunidade na academia onde treinava, na Gracie Ipanema do Marcelo Yogui, que tinha feras como Bruno Severiano, Helio Soneca, Leandro Slaib, Alexandre Café, Jair Sorriso e muitos outros, tive a certeza de que queria para sempre ter aquela sensação que todo professor tem ao ver o brilho nos olhos dos seus alunos. É um brilho que surge quando eles entendem a técnica, mas que não desaparece: dia após dia, enquanto eles vão melhorando em seus universos pessoais, o brilho só fica mais forte. O Jiu-Jitsu é muito mais que uma arte de defesa pessoal, ou uma arte marcial, é um verdadeiro estilo de vida. Hoje, tenho o prazer de dividir o tatame com a minha esposa Bruna, meu filho Enzo, meu irmão Felipe e também com meus sobrinhos, Ryckson e Felipinho! Não é à toa que estamos sempre divulgando o Jiu-Jitsu para todos, pois essa é a nossa vida, e conhecemos de perto suas vantagens. Oss!
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