A 18ª edição do Mundial de Jiu-Jitsu começa na próxima quinta-feira, dia 30, em Long Beach, e os principais atletas no páreo não veem a hora da largada.
A gaúcha Gabrielle Garcia, estrela principal do time feminino da Alliance, quer seu quarto título mundial absoluto. A vitória para ela não é novidade, mas seu jogo, segundo ela, pode surpreender muita gente.
“Eu estou me achando melhor por baixo que por cima. Estou confortável fazendo guarda”, disse ela, em bate-papo instrutivo com GRACIEMAG. Confira o que aprendemos de melhor com ela, a seguir.
GRACIEMAG: Você costuma treinar com feras como Léo Nogueira, Tarsis Humphreys, Michael Langhi, Antônio Peinado e outros faixas-pretas temidos. Como isso tranquiliza para a batalha?
GABRIELLE GARCIA: A tensão pré-Mundial é sempre grande, mas o clima na academia está muito bom, um ajuda o outro e os treinos estão pegando fogo. O Fabio Gurgel está nos cobrando muito e espero que isso traga resultado. É muito tenso, eu brinco que aqui é uma espécie de UTI. Você sai do coma, abre os olhos e enxerga a luz toda vez que o treino acaba (risos). Vejo que eles treinam duro comigo, não me dão moleza. Treinam como se eu fosse homem e isso me diferencia das outras mulheres. Meu treino sempre foi com homens, nada pode ser mais difícil. Nenhum campeonato é mais difícil que um treino na Alliance. Meu treino está muito mais forte do que jamais foi, mas com um diferencial a mais: este está mais focado na técnica. Saio da academia acabada e ainda faço a preparação física com o Tiago Heck quatro vezes na semana.
O que você mais tem afiado nos treinos para a competição?
Estou me achando melhor por baixo que por cima. Estou confortável fazendo guarda. Antes eu me apavorava e isso era um erro grave. Mas, o Fabio sempre foi me falando, dando dicas, me controlando quando eu caía nestas posições no treino e hoje já me sinto afiada e confortável. Eu até gostaria muito de fazer um campeonato todo fazendo guarda, mas nunca dá tempo, as meninas chamam antes (risos). Lógico que não vou dar um show de guarda e berimbolo, mas garanto que não será fácil passar minha guarda hoje em dia. Minha pegada de costas também estava horrível, algo que venho corrigindo muito. Não tenho vergonha de falar meus erros, mas podem ter certeza que qualquer posição em que eu cair estarei bem treinada.
Você está invicta há muito tempo no Jiu-Jitsu. Como se faz para extrair valiosas lições quando se ganha?
É que eu lembro muito bem o sabor da derrota. Não faz muito tempo que perdi, não tenho vergonha alguma das minhas derrotas, pois foram elas que me fizeram treinar tanto e isso que me faz não querer perder. E o Fabio sempre faz questão de me lembrar (risos). Consigo tirar muita coisa das vitórias, me cobro muito. Quero crescer tecnicamente a cada dia, pois forte sempre fui. Eu preciso sempre estar aprimorando minha técnica, e mesmo vencendo tem lutas que não saio satisfeita, pois erro muito. Sei onde estão meus erros, e treino sempre em cima disso, sempre em cima das posições que ainda me deixam desconfortável. Esta semana passei muito mal nos treinos e o Michael Langhi foi decisivo, um grande campeão e amigo me falando: “Vamos Gabi, treina doente mesmo. Falta pouco. É nessas horas que sabemos quem são os campeões. Todo mundo está cansado, você não pode errar”. Era tudo que eu precisava ouvir. Mesmo doente, sempre tem alguém do seu lado cobrando e puxando. A Alliance é realmente uma fábrica de campeões. Sou grata por tudo que minha equipe faz por mim, sem eles eu não teria chegado a lugar algum.
Você a cada ano se torna uma referência maior para mulheres praticantes de Jiu-Jitsu. O que isso representa para você?
Fico feliz com o carinho, são muito emails e recados, pessoas que se inspiram em mim. Têm várias meninas já com tatuagens minhas! Tenho sete perfis no Facebook, fica até difícil administrar tudo. Estou migrando tudo para um só, a minha página oficial, porque não consigo atender todos. Chego aos campeonatos hoje e mal consigo andar, as pessoas querem demonstrar o carinho e admiração. Fico muito feliz, é resultado de tanto suor e de tanto tempo de treino. As pessoas sabem o quanto me dedico a este esporte, o quanto amo o que faço. Espero que as mulheres olhem para mim e vejam que é possível se dedicar e viver do Jiu-Jitsu.
Qual é seu maior segredo, além do amor pelo Jiu-Jitsu?
Adoro o momento, adoro estar com a minha equipe durante a competição, Jiu-Jitsu é unir os amigos. Acho que meu segredo é não ter medo da derrota, nunca penso no depois, eu penso sempre no durante. Tenho muita confiança no meu treino e também nunca penso, “Ah, eu sou a Gabi Garcia”… Porque o dia em que pensar algo assim acho que posso me acomodar. Não sou invencível e estou longe disso, mas para ganhar de mim serão preciso dez minutos de muita luta. E se eu perder alguma hora foi porque realmente a menina mereceu mais. Outro fator é contar com grandes profissionais ao meu lado, como por exemplo o Dr. Paulo Muzy e o nutricionista Rodolfo Peres. Eles também têm participação neste segredo.
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