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Exclusivo: Romulo Barral revela segredos de sua guarda blindada

André Galvão na guarda de Rominho Barral. Foto: Ivan Trindade/GRACIEMAG

* Artigo publicado originalmente nas páginas da GRACIEMAG #250. Para mais conteúdos exclusivos com o melhor do Jiu-Jitsu mundial, assine a revista mais tradicional do esporte em formato digital *

Era o Mundial de Jiu-Jitsu de 2001, no Tijuca Tênis Clube, no Rio de Janeiro. O mineirinho Romulo Barral, então com 18 anos, zarpou de Diamantina para o Rio de Janeiro apenas para aplaudir seu instrutor, o atleta da escuderia Gracie Barra BH Cristiano “Titi” Lazzarini. Mesmo sem lutar, Barral aprendeu lições fundamentais, que revolucionaram sua visão sobre a arte marcial.

“Fui apenas para assistir ao Mundial, e vi o Titi raspar todos os seus cinco adversários na faixa-marrom com aquela técnica de guarda – uma das mãos na gola e um pé no bíceps. Ele foi campeão e eu resolvi adotar aquele estilo”, recorda Barral, hoje um faixa-preta campeão membro do Hall da Fama da IBJJF e professor radicado na Califórnia.

Na entrevista a seguir, o pentacampeão mundial (só na faixa-preta) e ouro no ADCC 2013 recorda como construiu seu temido jogo. Estude e aprenda com ele.

GRACIEMAG: Como você aprendeu, ainda jovem, a lutar por baixo com uma das mãos na gola e um pé no bíceps, ponto de apoio para uma série de raspagens, finalizações e ataques?

ROMULO BARRAL: Eu era faixa-azul, e a coisa toda aconteceu como num clique. Eu estava no Mundial de Jiu-Jitsu de 2001, e havia ido para o Tijuca Tênis Clube apenas para assistir ao Titi, meu instrutor, que estava lá para disputar o peso pesado, na faixa-marrom. Ele lutou cinco vezes e raspou todos os cinco adversários com aquela técnica, de modo rápido e bonito. Todo mundo parava na frente dele e saía voando, pois não conseguiam estourar a pegada. O Titi entrava embaixo, fazia a alavanca e invertia, ao estilo de um tomoe-nage. Uma raspagem que, além de eficiente, era linda. Ali eu percebi que precisava copiar aquele jogo, e voltei para a academia em Minas Gerais com essa ideia. Pedi para ele me ensinar tudo sobre a posição. Nem sei quem foi que criou, nem me preocupei com isso. Queria era saber fazer bem.

Você já era guardeiro na academia?

Nada! Adotei esta guarda única e exclusivamente para facilitar meu jogo por cima. Eu gostava era de dar queda – adorava dar kata-guruma e baiana! – e passar guarda, era o meu estilo e onde eu me sentia confortável. Quando confirmei no Mundial que aquela técnica do Titi era eficaz para raspar qualquer um, de modo seguro e fulminante, eu logo percebi que cairia bem no meu estilo; era do que eu precisava, uma técnica para o caso de eu cair por baixo, que me facilitasse para raspar logo para poder voltar a ficar por cima. A partir daí a coisa foi mudando aos poucos, e fui me tornando guardeiro.

A guarda com o pé no bíceps vem da guarda-aranha. Você acha que reinventou esse tipo de guarda aberta, de algum modo?

Não, eu tenho consciência de que nunca inventei nada. Apenas aprendi com lutadores mais antigos do que eu. Não me preocupo com isso, de nomear técnicas nem nada. Acho que quem pode realmente reivindicar algumas criações são os mestres e campeões mais antigos. Sempre escutei o Vinicius Draculino contando que o Roberto Gordo inventou a meia-guarda para compensar um joelho machucado, ou que o Roberto Roleta criou aquela raspagem helicóptero para surpreender; esses caras sim estavam lá, fizeram do tatame grandes laboratórios. A gente modifica e melhora aqui ou ali, mas o jogo já existia – mesmo posições vistas como modernas já eram feitas há muitos anos.

Você acha que esta guarda é restrita para alunos com algum biótipo, ou é uma técnica para todos?

Não acredito nesse tipo de limitação. Qualquer técnica pode servir para qualquer tipo de aluno, com as devidas adaptações particulares. O que é importante é o praticante se colocar na posição, experimentar, entender suas particularidades e o que deve fazer para fazê-la funcionar, treino a treino. Claro que cada aluno vai se identificar com um jogo diferente, mas todos podem aprender todas as técnicas, se estiverem a fim. A manha é fazer bastante treino específico daquela posição, experimentá-la de todos os jeitos, conhecer suas defesas e ataques. E é preciso lembrar que isso não é coisa para um dia ou uma semana: só com dois ou três meses você se aperfeiçoa numa nova técnica a ponto de aplicá-la com qualidade.

Quando você percebeu que esta técnica de guarda seria uma espécie de boia salva-vidas para você nos campeonatos?

Acredito que a gente começa a sentir isso nos treinos mesmo. Porque todos os seus colegas já estão esperando aquilo, estão aprendendo junto contigo a executar aquilo, e mesmo assim a coisa está funcionando. E isso te obriga a desenvolver uma série de variações e pequenas minúcias para surpreendê-los. Por isso nos campeonatos muitas vezes o jogo flui até mais fácil, porque os oponentes não conhecem seu jogo como seus amigos na academia. O meu jogo começou mesmo a fluir na faixa-roxa, nos treinos e competições – foi quando a guarda encaixou como uma luva no meu estilo e venci várias competições lutando por baixo. Passei a ser guardeiro, começando 95% das minhas lutas fazendo guarda.

Como você vê a guarda? Primeiro você gosta de lapidar o lado ofensivo ou o lado defensivo dela?

No início eu peguei muito mais rapidamente o poder ofensivo dela, vendo o que o Titi fazia. Mas, ainda naquele início, como faixa-roxa, eu já percebia que minha guarda era muito boa ofensivamente mas que era preciso que eu melhorasse defensivamente. Por exemplo, se eu perdesse a pegada ou o cara saísse do meu triângulo, o oponente acabava passando a guarda. Então depois de confiar no poder de ataque dela, eu passei a corrigir os pontos fracos, a reposição, o controle. Mas eu costumo ensinar aos alunos tanto os aspectos de ataque como de defesa, para que eles aprendam de modo equilibrado a usar a técnica.

A guarda aberta deixa um pé um pouco vulnerável às chaves, não? O que você recomenda para proteger os pés também?

Sim, a guarda aberta pode deixar o aluno com um pouco de medo de tomar uma chave de pé reta. O que é importante, na guarda-aranha por exemplo, é não perder o controle das mangas; já na guarda com o pé no bíceps e mão na gola, o crucial é usar a mão na gola para tirar a base do passador. Apesar, então, de o adversário estar com as mãos livres, ele dificilmente vai conseguir conectá-las para dar um bote no pé, porque a pressão do meu pé no bíceps impede.

Que luta mais marcou sua carreira?

Talvez a que eu guarde com mais carinho foi minha primeira final de Mundial na faixa-preta, em 2007, na Califórnia, contra o Saulo Ribeiro, um cara que respeito demais. Enfrentava ali uma lenda do Jiu-Jitsu, usei bem minha guarda, venci por 6 a 0 e conquistei um título que mudou minha carreira. Nessa luta inclusive o Saulo tentou atacar meu pé, mas defendi e caí por cima.

Sua guarda na faixa-roxa e marrom já eram quase intransponíveis, ou a perfeição veio na faixa-preta?

Creio que o primeiro mandamento do guardeiro é ter uma guarda intransponível, daquelas que o pessoal comenta: “Ih, aquela guarda é duríssima”. Aí os passadores e os adversários já ficam com aquele frio na barriga. Uma pegada forte e afiada e um arsenal de ataques fazem o grande guardeiro, e isso que eu buscava aos poucos. Na roxa não lembro de ninguém que tenha passado minha guarda. Na marrom chegaram a pegar minhas costas, umas situações que me montaram, caíram montado… Mas eu dava trabalho aos passadores já (risos). Mas agora estou ficando velho.

Sua guarda era uma das que parecia dar mais trabalho ao Roger Gracie, tanto em treinos como nos campeonatos, inclusive em finais memoráveis nos Mundiais. O que aprendeu ao lutar contra ele?

Acho que aprendi muita coisa. Aprendi a ter calma, por exemplo: o Roger é um cara muito calmo e determinado durante as lutas, nas boas e más situações. Aprendi também, na final do Mundial 2009, que não se deve demorar tanto a atacar. Fico feliz de ter chegado em três finais do absoluto em Mundiais com ele, que foi o melhor de todos os tempos.

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