Era uma vez um faixa-preta de Jiu-Jitsu respeitado e altamente técnico que vivia infeliz (caso verídico). Desconfiado que o problema era com a cidade onde morava, migrou do Rio de Janeiro para os Estados Unidos, onde abriu nova academia. Continuou insatisfeito e voltou a ensinar no Brasil, em cidade diferente. Mas sua mente rapidamente passou a planejar ir para a Europa, talvez Bali ou Havaí. Até que o professor se deu conta: ele não gostava era de ficar entre quatro paredes ensinando turma atrás de turma – o que ele gostava mesmo, o que lhe dava prazer, era lutar, treinar e competir.
O primeiro passo para saber do que um professor é feito, portanto, é olhar para dentro e perceber o que ele quer para si. A chama de transmitir conhecimento e a vontade de mudar a vida das pessoas está no interior de cada um, e não em outro lugar.
Segundo o professor José Henrique Leão Teixeira, nosso GMI no Rio de Janeiro, há três ingredientes principais que o bom mestre deve cultivar: “Paciência, disciplina e amor pelo que faz”. Sem isso, dificilmente o faixa-preta será um bom instrutor.
A boa notícia é que são aspectos que podem ser conquistados por qualquer um: recente pesquisa sobre educação e didática, publicada em junho de 2016 na revista “The Economist”, concluiu que ninguém nasce com o dom de dar aulas. Sim, assim como um grande lutador começa do nada, na faixa-branca, um professor também se faz com pura dedicação.
Arnaldo Niskier, escritor de 80 anos e dedicado à questão dos professores no Brasil, resumiu, em artigo na “Folha de São Paulo”: “Assim como treinadores ajudam atletas a melhorar em suas modalidades, professores também podem ter suas vocações aprimoradas.”
Mas como treinar para ser um bom professor de Jiu-Jitsu? Há cursos bem elogiados, como o lançado pelo próprio professor Leão Teixeira, citado acima. E há outros modos básicos de se aprimorar. Um exemplo: se você é faixa-roxa ou marrom e pensa em dar aulas no futuro, apresente-se para auxiliar seu professor, em aulas particulares ou em grupo. Participe de seminários, como aluno ou auxiliar. Tudo isso vai aos poucos moldar sua didática, bem como sua qualidade técnica.
No fim das contas, o professor competente não lida somente com pessoas e informações, mas com sonhos: “O bom mestre”, define Carlos Gracie Jr., fundador da Gracie Barra, “é aquele que tem a capacidade de motivar o aluno a realizar seus próprios sonhos”.
Outro bom método para se tornar um professor de excelência é entender as recompensas do ofício, que culminam no amor falado por Leão Teixeira, e também atraem fatores como disciplina e paciência. Como diz mestre Rickson Gracie: “O aluno mais fraco da academia é o que mais precisa de ajuda, e o que vai render a maior recompensa quando você conseguir ajudá-lo a alterar sua vida.”
Seja como for, o que se sabe hoje é que qualidade de ensino não depende de turmas grandes ou pequenas, academias luxuosas, elegantes ou bem equipadas. O que importa, na questão do aprendizado, é a qualidade do professor. É por isso que vemos campeões mundiais de Jiu-Jitsu formados em lugares tão diferentes.
O mestre digno, no fim das contas, será aquele que motivar o aluno a não desistir, a respeitar hierarquias, a lidar com sua vaidade, a aprender com os erros, a entender que a vitória só é doce com sacrifícios. E isso só consegue quem fizer o aluno se divertir ao aprender.
De acordo com o escritor Arnaldo Niskier, o professor “precisa aprender como transmitir conhecimento e preparar jovens mentes para recebê-lo. Bons professores definem objetivos claros, aplicam padrões altos de comportamento e administram o tempo da aula com sabedoria.”
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