Admito que, ao encarar Anderson Silva no aeroporto, não achei que seria fácil. Mas peguei a capa escura com o rosto do campeão do UFC, paguei os 24 reais no caixa e comecei a ler no avião. Seria uma viagem inesquecível.
Eu achava que dificilmente leria algo novo sobre Anderson, depois de tantos anos acompanhando sua carreira. Conheci o lutador pouco antes do Natal de 2003, em Vitória da Conquista, Bahia, às vésperas do evento que traria sua carreira de volta aos eixos. Na beira da piscina do hotel, sentamos e falamos sobre sua saída da Chute Boxe, o começo no Corinthians. Durante a luta, contra o local “Diamante Negro”, não esqueço do espanto do assessor de imprensa Fernando Flores: “Olha o jogo de pernas dele! Esse cara é o melhor do mundo, Dunlop, como pode estar lutando aqui?”
No livro, revisitei esses tempos de vacas medianas. Os períodos de vacas magras também estão lá, um contraste e tanto com o tempo de vacas obesas de agora. Não admira que Anderson tenha chorado pelo menos três vezes durante o depoimento que deu origem ao livro, escrito por Eduardo Ohata. A seguir, o que aprendi com o livro e a vida do campeão:
1. Respeito aos mestres
Anderson não foi um aluno com muitos mestres porque quis, e sim porque o destino se encarregou disso. A prova de seu respeito por eles está nas primeiras linhas, quando o campeão cita todos os treinadores que o formaram: Leandro Frates, Kang, Edmar Cirilo dos Anjos, Cláudio Dalledone Jr, Fábio Noguchi, Almir Ramos, Diógenes, Gibi, Vitor Ribeiro, André Xaropinho, Rogério Camões, Edelson, Luis Dórea, Sérgio Cunha, Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro.
2. Anderson Silva no Carandiru
No jornalismo como na luta, o profissional que começa soltando seu golpe mais forte pode surpreender e ganhar de cara. O livro faz isso bem, e abre com o pequeno Anderson chegando ao Carandiru, complexo penintenciário em São Paulo onde o filho chora e a mãe não vê. Era um dia frio e Anderson visitava o padrasto. Prometeu jamais por os pés ali novamente, ser honesto. Não seria a primeira vez que o faixa-preta tiraria algo positivo de um momento tão pesado.
(Veja Anderson na Rede Globo, no último domingo. “A briga (com Sonnen) vai ser sinistra”, prometeu:)
http://www.youtube.com/watch?v=fIPC6OrDCWI
3. Mente aberta
Silva começou na capoeira, abraçou o taekwondo, aprendeu boxe, apaixonou-se pelo muay thai e pelo Jiu-Jitsu. Nunca ficou satisfeito em dominar apenas um aspecto da luta. Abriu a cabeça e graças a isso hoje é visto como o melhor do mundo.
4. Lições para quem briga na rua
O livro traz dois ensinamentos profundos para jovens que brigam. A primeira, de seu professor de taekwondo, o coreano Kang: “Brigar na rua é para os fracos. Quando alguém dá um presente ruim para você e você não pega, com quem fica o presente? Com ele. Provocação é a mesma coisa. Não aceite”. E a melhor, do tio Benedito: “Anderson, se brigar na rua, te boto dentro do canil com o cachorro”.
5. Como lidar com a raiva e o racismo
Anderson levou muita pancada – fora do UFC, claro. Foi esmurrado na barriga por um policial preconceituoso, ofendido por um cliente quando trabalhava no McDonald’s, foi visto como ladrão por seu próprio professor. Tais episódios forjaram um homem que aprendeu a não revidar. O que ajuda a entender, por exemplo, sua postura diante de Chael Sonnen. Sua falta de jeito ao dar um revide fica evidente contra Demian Maia – do que se arrepende. Fiquei com raiva do Demian, perdi o foco e extrapolei, explica no livro.
(Veja o lado bem-humorado do Aranha na TV, escondendo-se de Sabrina Sato e ensinando o triângulo que usou contra Sonnen:)
http://www.youtube.com/watch?v=yi4gavwL5yU
6. Desejo de matar
No trecho mais forte, Anderson recorda o dia em que tomou um tapa na cara do treinador Rafael Cordeiro, hoje no TUF Brasil, que exigia que ele interrompesse as aulas de Jiu-Jitsu que dava numa academia nobre da cidade. Anderson não era nem faixa-roxa, e temeu ficar desempregado de novo, com filhos para criar. Revólver na mão, oferecido por um amigo barra-pesada, Anderson tomou a decisão que salvou sua vida, dentro de um carro parado em frente à Chute Boxe. “Não vou fazer isso. Não é da minha índole – disse, cabeça baixa, devolvendo a arma”, recordou ele, na quentíssima página 66.
7. A lição final
Fechei o livro com o ensinamento final de Anderson – na verdade, três ensinamentos que ficaram após a conclusão da obra.
1. Mais importante que formar um campeão é formar bons homens.
2. A luta mais importante na vida é tornar-se um homem do qual os filhos podem se orgulhar.
3. A situação está dura? Mantenha sempre o bom humor.
Para mim, o espírito alegre de Anderson Silva ao longo de sua carreira é a principal inspiração, e sua maior arma. Deve ser por isso que Chael Sonnen e outros rivais tentam primeiro miná-lo. Se Anderson não perder o bom humor e a alegria de treinar e lutar, acredito que realmente eles “nunca serão”.
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