Que Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi um dos maiores poetas e escritores do Brasil, todo mundo sabe. O que poucos lembram, porém, é que o lírico Drummond não era de levar desaforo para casa. Quem conta o episódio, ocorrido ali pelos fins de 1945, é o também escritor e poeta mineiro – tão genial quanto o amigo – Paulo Mendes Campos:
“Caíra o Estado Novo. Carlos Drummond de Andrade foi nomeado, entre outros, para transformar o DIP em Departamento Nacional de Informações. Entro no seu gabinete pela manhã e encontro o poeta desalinhado, procurando os óculos: embolara-se com um funcionário malcriado que o ofendera. E estava bem feliz com o resultado do round”. Drummond estava então com 43 anos.
Mas o poeta nascido em Itabira costumava mesmo era se embolar com as palavras. Podia sair exausto ao fim de um poema, mas do outro lado saía volta e meia uma obra-prima. Em seu poema “O lutador”, ele escreveu:
“Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue…
Entretanto, luto.
Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.”
Autor de mais de cem livros e hoje estátua famosa na praia de Copacabana, o poeta de pequenos óculos e grande coração é o criador também de uma famosa ode aos atletas perdedores, útil para quando o leitor voltar de um amasso severo nos treinos. Drummond escreveu “O atleta” em homenagem aos jogadores da seleção brasileira de 1966, derrotada na Copa da Inglaterra:
“Eu, poeta da derrota, me levanto
sem revolta e sem pranto
para saudar os atletas vencidos.
Que importa hajam perdido?
Que importa o não-ter-sido?”
E por fim:
“Hoje completos
são os atletas que saúdo:
nas mãos vazias eles trazem tudo
que dobra a fortaleza da alma forte.”