O Mundial de Jiu-Jitsu de 2014 terminou no domingo, na Califórnia, mas ainda ecoa forte nas resenhas pós-treinos, nas academias e no site GRACIEMAG.com.
Pudera, afinal o grandioso evento da IBJJF foi marcado por lutas dramáticas em altíssimo nível, como a final do absoluto faixa-preta, em que Marcus Buchecha venceu Rodolfo Vieira mais uma vez.
No entanto, houve também as polêmicas – como ocorreu, por exemplo, durante as quartas de final do meio-pesado, no domingo.
Bronze no absoluto no sábado, o astro Keenan Cornelius (Atos) enfrentava Diego Gamonal (BTT), até que a disputa terminou precocemente, com uma desclassificação. Após embolar Diego com sua guarda lapela, o aluno de Galvão foi eliminado por cruzar a perna por cima do joelho do oponente.
O responsável pela atitude foi um dos árbitros de maior experiência no Jiu-Jitsu, o faixa-preta Maurício Russo. A pedido de GRACIEMAG, Russo comentou o episódio, e reforçou que apenas cumpriu as regras. Confira:
GRACIEMAG: Na sua visão, como ocorreu essa desclassificação do Keenan Cornelius, nas quartas de final do meio-pesado faixa-preta?
MAURÍCIO RUSSO: A luta começou desde cedo com uma movimentação muito louca e eficiente por parte do atleta Keenan Cornelius (Atos). Foi quando o atleta Diego Gamonal (BTT) conseguiu se desvencilhar das poderosas pegadas do Keenan, que por sua vez tentava dominá-lo em sua guarda. Numa de suas várias investidas, Keenan passou sua perna direita por dentro da perna esquerda de seu adversário e fez a “cruzada de perna” de fora para dentro. Ele ainda colocou o gancho por baixo da axila direita do Gamonal, que com sua experiência indiscutível, valorizou a cruzada de perna do Keenan. Foi uma posição muito fácil de analisar, então parei a luta e cumpri a regra em vigência, desclassificando o atleta da Atos.
O Keenan é um atleta fenomenal, vinha de um absoluto quase perfeito, e ainda tinha toda uma torcida por ele na Pirâmide. Como foi desclassificar um grande astro assim?
Olha, quando nós árbitros entramos para arbitrar uma luta de Jiu-Jitsu, temos de esquecer quem é ou deixa de ser o competidor. Procuro ser sempre imparcial, honesto e correto com meus princípios. Devemos lembrar que ali estão dois atletas buscando um sonho, seja ele a curto ou a longo prazo. São lutadores que se abdicam de se divertir, gastam dinheiro com alimentação, com passagens, muitas das vezes eles estão até longe de casa e da família, tudo em busca de um futuro melhor para eles. Eu estou plenamente ciente disso, sei como se dedicam, como depositam toda a vontade e a garra para conseguir alcançarem seu objetivo, ou seja, a vitória. Com o Keenan não foi diferente, arbitrei com muita consciência disso tudo, pois foi assim que aprendi com pessoas íntegras que passaram por minha vida, e jamais gostaria de decepcioná-las. O show é sempre dos atletas, mas temos de aplicar as regras como ela manda. Trabalho há 17 anos com seriedade e respeito aos atletas, embora muitos deles não procurem aprender a regra, muitas das vezes por não serem incentivados por seus líderes de equipes.
Os demais árbitros apoiaram sua decisão?
Lógico que me apoiaram, afinal apenas apliquei a regra como devia. Recebi elogios pela minha conduta e personalidade. Muitos árbitros já passaram por esse cenário, muitos desistiram porque talvez achassem que ali o negócio é diferente, realmente é pressão o tempo todo. Não tem como ser mais ou menos, ou você aguenta ou pede pra sair. Alguns permanecem firmes até hoje. Atualmente, dos árbitros em atividade, Muzio, eu e Luiz “Kbelinho” somos os mais antigos. Obviamente isso não quer dizer que somos os melhores. Há muitos outros árbitros hoje em atividade que são excelentes, e sempre que tenho a oportunidade eu aprendo com eles.
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