Após a consagração de Felipe Pena, de 25 anos, na maratona do absoluto do ADCC 2017, em fins de setembro na Finlândia, uma foto viralizou na internet. Postada por seu primeiro mestrão, Vinicius Draculino, a imagem mostrava o popular Preguiça vestindo um kimono meio largão, o rosto mostrando um faixa-branca sonolento e pouco empolgado de estar na academia Gracie Barra-BH. Um contraste evidente e emocionante com o Felipão de hoje em dia, uma máquina de competir no Jiu-Jitsu com e sem kimono, com o olhar focado e uma técnica bonita, veloz e apavorante.
“Eu acho que no início não levava mesmo muito jeito, não”, diverte-se Felipe Preguiça, em papo com o GRACIEMAG.com. “Eu não gostava muito de treinar quando comecei, e ficava mais encostado na parede, trocando ideias com os amigos. Por isso ganhei o apelido de Preguiça. Mas depois de um tempo, persistindo, peguei gosto e fui aos poucos aumentando o tempo dos treinos, até que comecei a competir, fui me empolgando… Até chegar hoje (risos).”
Se você conhece algum iniciante meio desajeitado, mostre esta entrevista para ele, e cuidado: você pode estar treinando com o próximo monstro do ADCC.
GRACIEMAG: Qual foi o maior obstáculo até o topo do absoluto, neste ADCC 2017 na Finlândia?
FELIPE PREGUIÇA: Acho que o complicado no ADCC não é a quantidade de lutas, mas a duração delas. A gente sabe que alguns combates podem durar 20 minutos, e as finais 40 – como fiz com o Rodolfo Vieira no ADCC 2015 em São Paulo. É desgastante mesmo. O bom é que em 2015, apesar de ficar com a prata e não lutar o absoluto – combinamos que o Rominho Barral lutaria o absoluto naquela ocasião – aprendi bastante, tive um gostinho bom. Percebi as regras diferentes com que eu devia me preocupar (chaves de calcanhar etc) e colhi as lições este ano. Ia dormir e acordava pensando no título.
Você é uma inspiração para os praticantes que gostam de atacar nas costas. E, talvez, principalmente, para os que não gostam, né? Qual é o macete?
Pois é, fiz oito lutas no total na Finlândia, e em seis delas eu terminei nas costas. Em todas as quatro lutas do absoluto eu pontuei ou finalizei de lá. Acho que desde a faixa-azul eu tenho esta gana de pegar as costas, uma habilidade que desenvolvi há tempos treinando com kimono e hoje me ocorre com facilidade nas lutas. Eu hoje sinto que consigo enxergar o caminho para as costas dos oponentes com muita clareza. E de muitas posições diferentes – por cima, por baixo… É treino mesmo, eu acho.
Como analisa seu oponente na final, quando você meteu 6 a 0 (costas) contra o meteoro americano Gordon Ryan, surgido lá na academia do Tom DeBlass?
Ele é um cara que realmente mostra um jogo intrincado sem kimono, treina muito chaves de joelho e calcanhar, o que surpreende os competidores do Jiu-Jitsu esportivo. Ele começou a aparecer na mídia ao desafiar os outros pela internet, e tem mesmo um jogo forte. Mas nesse evento ele provou ter um jogo bem completo, pois ninguém consegue ser campeão sabendo só um ou outro aspecto da luta de chão. Foi nossa segunda luta: na primeira, ele me desafiou sem kimono, nas regras dele, sem tempo, e eu aceitei – treinei muito e consegui finalizá-lo. Agora estou esperando ele aceitar meu desafio: uma luta com kimono comigo. Quem sabe esta luta não sai?
Qual foi sua luta mais complicada das oito?
Acho que o Rafael Lovato Jr. foi meu oponente mais difícil, ele fez uma estratégia boa, conseguiu imprimir um antijogo bom, digamos, e anular bem minhas investidas por baixo. A tática dele minou um pouco meu gás. Contra o Yuri Simões, na final até 99kg, eu estava me sentindo bem mas ele está de parabéns. Achei que os árbitros deram os pontos equivocamente, rápido demais, mas não tiro os méritos dele, que foi bicampeão no evento. Foi um prazer lutar com ele, está 1 a 1 entre nós, espero que demos ainda muito espetáculo para os torcedores.
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