Ao abrir o baú GRACIEMAG nos deparamos com a edição #223, na qual o ídolo do Jiu-Jitsu de competição Xande Ribeiro dividiu sua vasta experiência com nossa equipe.
Entre os tópicos da entrevista, o vitorioso professor detalhou a arte de “roubar a essência” dos adversários, e ainda revelou o que aprendeu ao ler os escritos de um dos artistas marciais mais famosos de todos os tempos, o ator e lutador Bruce Lee.
Visto nos anos 1970 pela comunidade do Jiu-Jitsu apenas como um ator dono de movimentos plásticos, Lee com o tempo foi ganhando respeito como pensador das artes marciais e um lutador de mente aberta – praticava inclusive a luta de chão, anos antes de o Jiu-Jitsu ganhar fama por todo o planeta.
Xande, também dono de uma cabeça aberta, mergulhou nos ensinamentos de Bruce Lee e contou o que aprendeu. Relembre trechos da entrevista de Xande, a seguir.
GRACIEMAG: Você teve a dura e deliciosa tarefa de enfrentar alguns dos lutadores mais talentosos da história, de Pé de Pano a Marcelinho Garcia, de Jacaré a Roger. O que aprendeu com eles?
XANDE RIBEIRO: Toda vez que enfrento alguém, costumo dizer que roubo um pouco da essência de cada um. O Jiu-Jitsu é a arte mais honesta e pura que existe, é a arte de se expressar com o corpo e o espírito, e no momento da luta, cada ser humano ascende ao nível mais elevado do ser, onde não existe o pensar, simplesmente o fluir. Com isso, nosso corpo, espírito e mente sempre absorvem algo de cada um. Hoje sou o lutador que sou simplesmente por ter vivido e sentido todas essas experiências. As pernas pesadas de Pé de Pano, a velocidade e técnica do Marcelinho, a explosão e pressão do Jaca e o desconforto que a técnica do Roger nos impõe, tudo isso são aspectos técnicos que me obrigaram a me adaptar e evoluir. Mas o que fica, realmente, é a satisfação de ter batalhado com esses grandes guerreiros da arte suave e ter histórias para contar às gerações por vir.
GRACIEMAG: Você recentemente mergulhou na obra e ensinamentos de Bruce Lee, em visita a academias e velhos amigos do astro de Hollywood. Que lições extraiu dessa visita?
XANDE RIBEIRO: Quando me mudei para os Estados Unidos, fui morar em Ohio com o Chris Blanke, nosso primeiro faixa-preta americano. O cara se tornou um pai para mim. Até então, eu só conhecia Bruce Lee dos filmes e sempre somos um pouco céticos em relação a artes marciais exibidas no cinema. Foi quando aprendi que o Chris era faixa-preta de uma modalidade chamada wing chu do gung fu, um discípulo do James DeMille, um mestre da primeira turma do Bruce e amigo pessoal do ator. Eu me interessei em aprender mais sobre sua vida. Certa noite, encontrei no porão da casa dele diversas anotações do DeMille e também cópias de escritas do próprio punho do Bruce Lee. Passei horas lendo tudo e aprendi que ele estava realmente muito à frente de seu tempo. O conhecimento dos aspectos físico, psicológico, emocional e de meditação aliado às técnicas era sensacional. E, naquele instante, aprendi a separar o Bruce dos filmes e o Bruce artista marcial. O Chris me ensinou um pouco das técnicas e algumas delas eu descobri que até já usava no Jiu-Jitsu, mas sem supor que eram de fundamentos tão similares. Recentemente, DeMille juntou seus alunos originais para um último seminário em Seattle, e fui convidado e tive o enorme prazer de aprender com ele. Não só teecnicas e ensinamentos, como também muitas histórias do Bruce Lee. As bases e teorias do Bruce Lee são totalmente aplicáveis ao jogo de solo e ao Jiu-Jitsu como um todo, como fundamentos de energia, alavanca, geração de força, bloqueio, fluência – todas ideias que na verdade ajudaram ainda mais a entender meu jogo e meu Jiu-Jitsu. Essa experiência me ajudou ainda mais como professor, pessoa e lutador.
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