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A inesquecível lição de gratidão do campeão mundial de Jiu-Jitsu Isaque Bahiense

Isaque na final do Mundial de 2018 contra Tommy Langaker. Foto: Gustavo Aragão/GRACIEMAG

Conteúdo publicado originalmente nas páginas da GRACIEMAG número #257. Para ter acesso a outros artigos especiais sobre o melhor do Jiu-Jitsu e do MMA, assine a nossa edição digital e leia antes! Clique aqui e confira!

Aos 22 anos, o peso médio Isaque Bahiense chegou lá. Mas seu primeiro título mundial na faixa-preta acabou coroado por um gesto de rara nobreza, flagrado por câmeras na arquibancada da Pirâmide de Long Beach, na Califórnia, e viralizou nas redes sociais quase na mesma intensidade que a imagem de Marcus Buchecha cedendo seu título absoluto ao amigo Leandro Lo, que machucara o ombro na luta anterior. A equipe GRACIEMAG conversou com o jovem campeão da Alliance sobre o que passava na sua cabeça naquele domingo especial, dia 3 de junho, o dia em que ele conquistou e doou sua medalha de ouro para um amigo especial.

GRACIEMAG: Muita gente durona se emocionou com seu gesto na Pirâmide, ao tirar do pescoço e entregar sua medalha para o professor Fábio Andrade, líder da Nova União Bangu que treinou você até a faixa-roxa. Como nasceu na sua cabeça a ideia de presenteá-lo ali, diante de todos os torcedores?

ISAQUE BAHIENSE: Não foi nada programado, não. Lembro agora que antes de conquistar minha vaga para a final dos médios, passaram alguns pensamentos na minha cabeça, feito um filme. Eu comecei a lembrar de tudo que eu passei na minha vida, desde garoto, para estar ali enfrentando os melhores do planeta no meu peso, e com chances de superá-los. Daí meu coração pareceu falar comigo: “Olha, quando você pegar aquela medalha de ouro, lembre-se que ela é do Fábio…”

Muitas pessoas não conhecem toda a história que temos juntos, mas ele foi o meu primeiro professor, o cara que me treinou desde a faixa-branca até a roxa, e quem me deu meu primeiro e meu segundo kimono. Ele pagou diversas competições para que eu lutasse, quando não havia patrocínio. Houve uma época em que eu pai tinha sido preso, e sem meu pai presente o Fábio entrou e me abraçou como abraçou como um filho, e cuidou de mim. Então a minha gratidão por ele é inabalável. Sem ele, eu jamais seria um faixa-preta e muito menos um campeão mundial, pois foi ele que insistiu e acreditou em mim desde o início. Na verdade ele merece muito mais, aquela medalha de ouro ainda foi muito pouco.

Sua saída da academia na faixa-roxa certamente foi dolorida. Como foi a conversa entre vocês naquela época?

Conversei com o Fábio e expliquei a ele que eu tinha recebido uma proposta. Ele então me disse: “Independentemente da sua decisão, eu vou continuar seu amigo, pois nossa relação vai além de bandeiras e equipes.” Depois do nosso papo fiquei ainda três meses pensando e repensando, vou, não vou, e acabei decidindo ir a São Paulo, treinar com o Michael Langhi e o Fabio Gurgel no time de competição da Alliance. E desde que fui, a gente parou de se falar. E na verdade não nos falamos direito até hoje. Mas eu entendo o lado dele totalmente. Pois eu sei que magoei muito ele ao tomar aquela decisão, ele que é um cara extraordinário e botava muita expectativa no meu futuro como lutador.

O Fábio já teve muitos convites para ser professor lá no exterior ganhando mais, e ele recusou diversas vezes para manter o projeto social dele em Bangu, e continuar ajudando as crianças do nosso bairro. Ele sempre dedicou sua vida toda ao projeto. Quando eu falei que sairia, isso por certo machucou ele demais. Mas a mágoa é normal no momento, e muda com o tempo, acredito.

Você diz que ele ficou machucado… E você, como ficou?

Foi muito duro para mim. Foi certamente a época em que eu mais sofri na minha vida, pois eu era muito novo, tinha 18 anos, e mudei para São Paulo deixando para trás meu treinador e meus amigos de infância. Na equipe nova, eu não tinha amigos ainda, eram meus companheiros de equipe, ainda não havia intimidade. Mesmo para minha namorada na época e para minha mãe, eu não queria demonstrar fraqueza para elas, e não conversava sobre o assunto. Treinava de dia e passei noites e noites chorando na cama. Comecei a achar que eu tinha me enfiado num beco sem saída, pois tomei uma decisão que não tinha mais volta.

Durante uns seis meses eu só pensava nisso, e minha vida não andava, pois não aparecia uma luz no túnel. Eu queria competir tudo para provar para todo mundo, e para mim mesmo, que minha decisão havia sido acertada e meus treinamentos agora eram mais competitivos, mas ao mesmo tempo a cabeça estava ruim nos treinos e torneios, e eu batia sempre na trave. Ainda estava na roxa e lutei o Pan, o Brasileiro, o Mundial e seletivas para Abu Dhabi e não passava da prata. Foi quando eu percebi o que me ajudaria. Pus os pés no chão e pensei: “Não deu nada certo… Por quê? Porque não preciso provar nada para ninguém – tenho é de fazer meu trabalho, viver a minha vida, treinar tranquilo e pronto.” Foi quando minha vida voltou a andar. Me libertei dos sentimentos ruins, peguei a faixa-marrom e voltei a conseguir bons resultados.

Sua geração está inaugurando uma nova era do profissionalismo, em que os atletas não são mais julgados se trocam de equipe, se treinam com outros ou se buscam novos horizontes. O “creonte” acabou, na sua opinião?

Esse negócio de “creonte” não existe, é algo que atrasa a vida de muitas pessoas. Porque se o cara não está feliz onde está, se ele acha que tem outro lugar que é capaz de ajudá-lo a ser feliz, ele tem de seguir o coração dele e ousar seguir seu próprio caminho. Na verdade essa pecha acaba sendo uma covardia que as pessoas fazem com alguns jovens atletas. Quando alguém é chamado de “creonte”, mira-se na postura do atleta, mas esquecem que ali tem um ser humano, um amigo ou irmão seu, com muitas outras qualidades e carências. Não podemos gostar da pessoa só porque ela treina contigo, e amanhã desgostar porque ela não está do seu lado. Mesmo porque a vida de atleta dura apenas alguns anos, e as amizades são para a vida toda. Eu hoje recebo muitas mensagens de pessoas que dizem: “Tenho vontade de trocar de equipe, mas fico com medo…” Hoje temos de ser profissionais, buscar nossas necessidades. Com meu gesto acho que mostrei que sou um lutador profissional, mas com uma gratidão eterna em relação a quem me ajudou. Não esqueço de nenhuma delas.

Como foi o seu primeiro treino, ainda lembra?

Quando eu tinha uns 10 anos, o Fábio passava na rua e me chamava para aparecer na academia e dar um treino. Eu trabalhava já, enchendo garrafas de cloro desinfetante num depósito, mas eu recusava os convites, afinal sabia que minha mãe não poderia pagar a academia. Um dia ele apareceu e disse que me daria o kimono se eu fosse, e eu fui. Descobri que a mensalidade que ele cobrava era cinco reais, e fiz questão de pagar: eu olhava o carro das pessoas na porta dos restaurantes, e arrumei o dinheiro. Minha primeira competição também foi assim, consegui o dinheiro em moedas e paguei a inscrição. Sempre fui de correr atrás, carreguei galão, bujão de gás… No meu primeiro campeonato, inclusive, eu perdi, depois perdi no segundo, mas continuei insistindo. Nessa época meu pai foi preso, meu avô materno já havia sido preso, mas graças ao Fábio e ao Jiu-Jitsu meu destino mudou, e pude me desviar desse caminho marcado por coisas erradas.

Como foi a história do seu segundo kimono?

Pois é, um dia eu parei de ir treinar, e o Fábio bateu lá em casa para que eu voltasse. Tanto insistiu que eu comecei a chorar. “Meu pai precisou vender o kimono”, desabafei, cheio de vergonha. Ele então me disse para voltar que tinha outro lá me esperando. Dali em diante nunca mais parei de treinar Jiu-Jitsu, e por isso minha gratidão a ele. Acho que gratidão no fundo é isso: não esquecer quem ajudou você, saber e exaltar sua importância, e não apenas ficar ali grudado a ela a vida toda. Muitas pessoas ficam presas a relacionamentos por medo de parecerem ingratos, mas cada indivíduo tem sua missão, seu caminho, seu coração para seguir.

Você fez cinco lutas para vencer o Mundial, eliminando entre outros o Claudio Calasans, o Jaime Canuto e, na final, a sensação norueguesa Tommy Langaker. Qual foi a maior pedreira?

Eu estava muito confiante apesar da trilha espinhosa, pois mesmo em relação ao Gabriel Arges, que era com méritos o bicampeão da categoria, eu já tinha enfrentado quando era faixa-marrom, então já conhecia bem todo mundo. A semifinal com o Jaime foi desafiadora ao extremo, precisei raspar para virar a luta restando menos de dois minutos. Mas a final com o Langaker foi mesmo a mais complicada. Acredito que não consegui me soltar 100% no combate, mas fiz dois pontos e fui controlando a luta. Acho que tive ali um bloqueio mental, de agarrar a vitória e não querer soltar de jeito nenhum, e acabei me segurando demais. No fim deu certo, e a meta agora não pode ser outra: quero amadurecer ainda mais, manter o título e dominar o peso médio (risos).

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