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Um tributo a Rodrigo Minotauro, um semideus brasileiro

Após passar dias sem conseguir nem segurar um garfo, após operar o braço, Rodrigo descontou a fome em Herman, no UFC Rio. Foto: Inovafoto/UFC

Antonio Rodrigo Nogueira é conhecido mundialmente pelo seu apelido “Minotauro”, o monstro mitológico metade humano e metade touro que habitava o labirinto do Rei Minos na Grécia Antiga. Contudo, considerando suas performances e sua história de vida, Rodrigo assemelha-se muito mais a outra lenda grega: a da Fênix, o pássaro que renasce das próprias cinzas.

A característica mitológica do ressurgimento manifestou-se desde a infância, quando, aos 11 anos de idade, Minotauro foi atropelado por um caminhão, chegando a ficar quatro dias entre a vida e a morte. Quantos seres humanos sobreviveriam a um acidente desses, e ainda se recuperariam a ponto de se tornarem lutadores profissionais? Na Antiguidade, feitos semelhantes eram reservados a semideuses como Perseu ou Hércules.

Aprimorando-se no boxe e no Jiu-Jitsu, Minotauro logo passou a ganhar campeonatos e, como as grandes lendas, embarcou em uma jornada fantástica, repleta de acontecimentos extraordinários contra os mais fabulosos adversários. Foi sua odisseia no MMA.

Rodrigo sagrou-se campeão em todos os torneios mais prestigiados do esporte: Rings, Pride e UFC. Em sua epopeia, precisou renascer em lutas desproporcionais e em situações que encerrariam a carreira da maioria dos atletas. No Pride Final Conflict de 2003, Minotauro sobreviveu a um mortal chute de esquerda na cabeça, desferido por Mirko “Cro Cop” Filipovic. Até aquele momento, todos os oponentes de Cro Cop que haviam recebido esse golpe tombaram, sem sentidos. Minotauro caiu, mas absorveu o golpe, ressurgiu das cinzas no round seguinte e finalizou Mirko com um preciso armlock.

Em seu combate mais famoso, Minotauro enfrentou o ogro Bob Sapp, que pesava cerca de 170kg de músculos. O brasileiro era arremessado por Sapp como se fosse um minúsculo inseto e recebia socos na cabeça capazes de abrir fendas em rochas. A própria terra tremia a cada pancada que Rodrigo recebia. Minotauro apanhou violentamente por 14 minutos e os pobres mortais não acreditavam que ele poderia se recuperar daquilo. Eis que o guerreiro-fênix renasce, usa o poder de seu Jiu-Jitsu para inverter a luta e finalizar o gigante americano, levando o público japonês e sua equipe às lágrimas.

Com a idade, Minotauro passou a enfrentar não somente outros guerreiros, mas também ferimentos incapacitantes. Perdeu parte da visão de um olho, teve de se submeter a cirurgias no joelho e no quadril (a lesão era semelhante àquela que encerrou a carreira do jogador de tênis Gustavo Kuerten). Cada machucado era seguido de um tempo de inatividade e de boatos sobre o fim de sua carreira. E sempre a fênix ressurgia e maravilhava a todos. O renascimento contra Brendan Schaub no primeiro UFC Rio, após 18 meses sem lutar, comprovava a tese de que Rodrigo não era humano.

O mais recente capítulo da saga de Minotauro ocorreu no sábado, no UFC Rio 3. Dez meses depois de ter seu braço quebrado por sua nêmese Frank Mir (todo herói, afinal, tem seu inimigo mortal) e ter de colocar 16 pinos para reparar a ferida, Rodrigo regenerou-se novamente e finalizou Dave Herman. O oponente havia dito que “Jiu-Jitsu não funcionava com ele” e Minotauro fez questão de provar que o americano estava errado.

Minotauro ou Fênix, não importa. Antonio Rodrigo Nogueira já construiu sua própria lenda e se tornou um mito genuinamente brasileiro: o do lutador indestrutível, de Jiu-Jitsu apurado e que não desiste nunca.

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