Gratidão é algo bonito de se ver no mundo das lutas, e neste início de semana o sentimento ficou evidente num flagra raro, registrado na Califórnia.
Na foto em questão, batida pelo atento vice mundial Edwin Najmi, o professor Romulo Barral vai às lágrimas no momento em que gradua seu aluno Jaeson Bianchi como o mais novo faixa-preta da GB Northridge. O normal seria o aluno se emocionar com o feito, mas o professor?
O mito das competições Barral explicou o lance: “Tive de pedir até licença aos meus outros alunos, mas a graduação do Jaeson foi a mais emocionante da minha vida até agora. E isso por que ele me salvou, quando ainda era faixa-branca”.
A equipe GRACIEMAG.com bateu um papo com o craque da GB e aproveitou para perguntar sobre a recuperação no pé, a participação no ADCC 2017 na Finlândia, e outras lições.
GRACIEMAG: Qual foi a razão de tamanha emoção ao graduar seu ex-faixa-branca e hoje instrutor Jaeson?
ROMULO BARRAL: Temos laços de extrema gratidão, vou tentar resumir. O Jaeson treina comigo há oito anos, desde que eu me mudei para os EUA. Ele entrou como faixa-branca, em 2010. Certa vez, do dia para noite, minha vida mudou aqui. Foi um tempo complicado, estava prestes a perder tudo que tinha conquistado nos EUA: carro, casa e academia. Para complicar, minha esposa estava para chegar, meu joelho estava machucado do Mundial 2010 e eu não sabia como faria. Conhecia o Jaeson da academia, saíamos para comer às vezes, mas não nos conhecíamos direito. Ele soube do problema, tocou a campainha lá de casa e disse: “Se você precisar de qualquer ajuda, qualquer uma, estou aqui. O Jiu-Jitsu me salvou de um momento delicado, estava deprimido e só. Graças ao Jiu-Jitsu hoje tenho uma família e quero retribuir.” E se ofereceu para investir dinheiro para abrirmos outra academia em outro ponto.
Um anjo então…
Exato, mas a gente sempre estranha né? Ele nem me conhece, como vai me dar dinheiro?, eu pensei. Mas ele surpreendeu de novo, e me chamou para morarmos na casa dele e ficar usando o carro da esposa, afinal ela estava em missão na África. Resumindo: ficamos sócios, morei um ano com ele e guiei aquele carro mais que a esposa dele. E tivemos de insistir para que ele se tornasse sócio, pois o Jaeson queria dar o dinheiro.
Como isso mudou a vida de vocês, da família Barral e da família do Jaeson?
Mudou tudo, pois eu não tinha nem como me sustentar, como sustentaria minha esposa naquele momento? Talvez tivesse de voltar ao Brasil, de recomeçar do zero. Já ele se envolveu de corpo e alma com o Jiu-Jitsu, e criou um programa especial para crianças que hoje atende mais de 250 alunos. Uma das virtudes que sempre aprendi com meus professores Cristiano Titi e o Draculino é lembrar de quem nos ajudou quando a gente não tinha nada. Por isso jamais esquecerei o que ele fez. E ali, ao dar aquela faixa-preta e lembrar do início, quando nossa escola era três vezes menor que o espaço de hoje, foi complicado segurar a emoção. Nunca fiquei tão feliz em graduar um aluno como faixa-preta, afinal hoje somos irmãos.
Como anda o pé?
Está melhorando a cada dia. Como sempre aprendi no Jiu-Jitsu, o corpo vai sempre desistir antes da mente, por isso tentei aguentar um pouco mais. Minha mente é blindada, e já estou aqui na fisioterapia me aprontando para a próxima. Estou confirmado no ADCC 2017 mais uma vez, vou chegar lá 100% em setembro para fazer aquela força com geral.
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