Quando anunciaram seu nome para a transmissão da primeira luta de MMA em horário nobre da TV Globo, muita gente torceu o nariz.
Uma campanha ganhou corpo no Facebook, que dizia: “Galvão no UFC, não!”.
Mas não adiantou e lá estava ele, com seu bordões conhecidos, seu timbre de voz empolgante e, surpreendentemente, bem informado sobre o esporte.
De cara, Galvão Bueno chamou os lutadores de “gladiadores do terceiro milênio”.
Depois, se preocupou em explicar o evento para a grande maioria do público, como ele neófita em se tratando de MMA.
Como a luta foi curta, não teve tempo para nenhuma grande gafe, mas foi curioso ouvi-lo dizer que o árbitro Big John tinha cara de mau.
Seu fiel escudeiro na noite, Vitor Belfort, também cumpriu bem seu papel, explicando o que estava acontecendo e cobrindo as lacunas que Galvão deixava, mas não foram muitas.
Quando o combate entre Junior Cigano e Cain Velasquez começou, Galvão deve ter se lembrado das lutas que narrara de Mike Tyson, Hollyfield, Popó, Maguila e outras lendas do boxe, quando a arte nobre costumava ocupar as madrugadas de sábado da Globo, nos anos 80 e 90.
Usou termos típicos do MMA, como “single-leg”, “double-leg” e “takedown”, que se preocupou em traduzir.
Mostrou que tinha estudado o assunto.
E o desfecho final colaborou.
É sabido que Galvão ganhou nos últimos anos a pecha de pé-frio, por ter narrado algumas derrotas doloridas do esporte brasileiro, fato normal na vida de qualquer narrador, ainda mais na trejetória do principal narrador da maior rede de TV do Brasil.
A vitória fulminante do brasileiro, com um nocaute regado a golpes potentes e certeiros jogaram Galvão em um território que domina como poucos, o campo da emoção.
Não faltou nem o “Júnior dos Santos do Brasil!!!”, nem a lembrança da trajetória do menino pobre que vendia picolé até se tornar o grande campeão do UFC.
“Ele deve estar se lembrando da mãe, do pai que não está mais aqui e da esposa”, gritou Galvão, com certeza levando algumas lágrimas aos olhos de quem assistia. Poucos fazem isso melhor do que ele.
No fim, prestou mais um serviço ao MMA, ao apresentar Cigano (e todos os outros lutadores) como pais de família, trabalhadores honestos, atletas com grande possibilidade de se tornarem ídolos do esporte brasileiro.
“O Belfort aqui do meu lado tem três filhas e uma esposa maravilhosa”, sublinhou.
Ajudou a apagar ainda mais a imagem de selvageria que alguns preconceituosos, na mídia e fora dela, insistem em ligar ao MMA.
Que venham outras noites de MMA na Globo, ou na Record, Band ou SBT.
Mas é sempre bom lembrar que o MMA não ficou grande porque passou na Globo, mas passou na Globo porque se tornou grande.
Grande demais para a emissora continuar ignorando-o.
Reveja Galvão excitado para narrar a luta entre Cigano e Cain.
http://www.youtube.com/watch?v=UoabANTIbiI
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