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Previsível e inevitável: O venenoso estrangulamento de Roger Gracie na visão de Mário Filho

Por: Mário Filho*

Nas costas de Buchecha, Roger ajusta o estrangulamento que lhe rendeu a vitória. Foto: Carlos Arthur Jr.

Exatamente uma semana após o Renzo, chegou o Roger. Os Gracies foram prestigiar a nova estrutura do Fox Sports Brasil e participaram da transmissão ao vivo pelo Facebook do canal e do Fox Fight Club. Roger foi na última terça-feira, 48 horas depois de protagonizar o momento mais escandaloso, exuberante e inspirador do Jiu-Jitsu moderno.

“Pela primeira vez na vida, eu caminhei para uma luta na condição de azarão”, reconheceu o mais velho dos decacampeões mundiais de Jiu-Jitsu. E, ainda assim, abotoou o favorito.

Aos 35 anos de idade, Roger poderia até competir como Masters 2. Mas desde 2012, quando enfrentou o número 1 do mundo na divisão dos adultos, ele sonhava com um reencontro com Marcus Buchecha. Foram 5 anos esperando o momento certo para desfazer a má impressão que deixou na luta válida pelo Metamoris. Na ocasião, não valiam pontos. Ou finalizava ou era decretado o empate. Eles empataram mas, na visão de todos, Buchecha impôs o jogo dele e foi superior. No excelente evento Gracie Pro, as regras contemplavam pontos. Mas prevaleceu a velha fórmula de Roger Gracie: desprezo pela pontuação e entrega máxima à finalização.

“Quando eu cheguei nas costas do Buchecha, eu vivi um dilema de cerca de dois segundos”, explicou na transmissão ao vivo do Fox Sports. “Cheguei a considerar sim botar os ganchos e garantir 4 pontos, mas ele estava justamente preocupado com a defesa dos ganchos e, nesse momento, a minha pegada na gola entrou mais fundo. Foi ali que eu apostei tudo no estrangulamento”, esclareceu Roger, que investiu na gola cruzada em detrimento de 4 preciosos pontos no atual campeão mundial absoluto. E, como eu sempre disse nas zilhões de reportagens cobrindo a carreira do Rojão: Nessa vida existe saída pra tudo, menos para a morte… e para o estrangulamento do Roger. E assim, o azarão fez Buchecha bater no pescoço pela primeira vez na carreira. Davi Ramos, Vinny Pezão Magalhães e Rodolfo Vieira já haviam feito o Buchecha desistir. Mas no pé e no braço. Estrangulado, somente o Roger.

Tudo foi estratégico. Cada manobra, cada polegada conquistada, cada defesa de queda teve papel determinante numa das lutas mais históricas do Jiu-Jitsu moderno. Senão a mais histórica. “Roger, quando foi que você percebeu que o espírito do Buchecha tinha sido quebrado, e o psicológico dele enfraqueceu?” Roger não pensou muito. Respondeu de bate-pronto, ele sabia a resposta com plena consciência do que tinha acontecido.

“Primeiro, nos cinco minutos iniciais que eu frustrei as entradas de queda dele. Quanto mais eu defendia, mais ele se perdia e passou a insistir ainda mais na mesma técnica e na mesma perna. Mas foi quando eu me estabilizei nas costas dele, já com uma das mãos na gola, que eu vi que ele não estava acreditando no que estava acontecendo. Deu pra perceber que ele iria se afobar, iria cometer um erro, ele não estava com o sangue frio que aquela situação exige”, revelou o agora aposentado Roger Gracie. Diferentemente da maioria dos campeões ou atletas muito bem-sucedidos, ele soube com total lucidez o momento perfeito de encerrar a carreira. “Foi mais ou menos premeditado sim”, admitiu. “Se eu fizesse uma performance que me deixasse satisfeito, vencendo é claro, ainda por cima no Rio de Janeiro, eu iria me despedir das competições de Jiu-Jitsu”. E fechando com chave de ouro a memorável noite de 23 de julho de 2017, Roger Gracie pendurou o quimono A7.

Mas as luvinhas de quatro onças não. O campeão meio-pesado do One FC, maior evento de MMA asiático, não só deixou bem claro que segue muito vivo no esporte como revelou muita fome em colecionar títulos: “Este ano ainda quero conquistar também a coroa da divisão de baixo”, avisou.

Eu, sinceramente, acho que um certo campeão peso médio no oriente vai ser esganado hein.

*Mário filho é jornalista, apresentador e comentarista no canal Fox Sports Brasil.

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