O circuito gaúcho de Jiu-Jitsu encerra sua temporada 2013 no próximo dia 10 de novembro, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e por trás de uma quebra de recordes de público, do número de competidores e do valor das premiações, está uma equipe comandada pelo faixa-preta Fernando Paradeda.
Campeão de diversos torneios nacionais e internacionais em seus tempos de atleta, o presidente da Federação Gaúcha de Jiu-Jitsu (FGJJ) tem comemorado números auspiciosos para o esporte no Sul, como os 8 mil fãs, atletas, familiares e espectadores que passaram pelos ginásios de quatro cidades diferentes, desde o início da temporada em maio.
Paradeda, de 37 anos, vem de uma família de esportistas e treina desde 1994, portanto há praticamente 20 anos. Desde cedo, começou a ajudar na organização do Jiu-Jitsu, de todos os modos imagináveis. “Carreguei muitos tatames nas competições”, lembra o professor.
Há uma década na diretoria da entidade e há dois anos na linha de frente, Paradeda soma cerca de 80 eventos de luta como organizador, em que vem aplicando a experiência adquirida com e sem kimono – ele também estudou Administração de Empresas, é formado em Educação Física e hoje faz MBA de Gestão Empresarial. O profissionalismo à frente da FGJJ é palpável e vem agradando competidores, técnicos e investidores: ao cabo de seis etapas do campeonato estadual, serão mais de 160 mil reais em premiação, valores consideráveis em se tratando de Jiu-Jitsu.
Sempre apoiado pelos diretores Lucas Sachs e Luciana Rangel, Paradeda expôs o que tem aprendido e a receita para alavancar o Jiu-Jitsu na região. Aprenda com ele a seguir:
GRACIEMAG: Como começou sua relação com o Jiu-Jitsu e a Federação Gaúcha?
FERNANDO PARADEDA: Comecei a treinar com 18 anos e sempre ajudei a Federação. Como atleta, participava de todas as competições. No pré-evento e no término do mesmo, estava sempre disposto a trabalhar. Carreguei muitos tatames nas competições. Fui me dedicando e pegando muito gosto pelo Jiu-Jitsu. Naquela época, em 1994, quase ninguém vivia do Jiu-Jitsu aqui no Rio Grande do Sul, e eu estudava Administração enquanto treinava. Mas eu queria abrir esse caminho e me dedicar, tinha nutricionista, acompanhamento psicológico para o esporte, treinamento funcional, coisas que ninguém fazia, porque o esporte não era profissional, era atividade secundária. Mas eu queria ser o melhor. Isso sempre me motivou. Queria ser o melhor da minha academia, depois o melhor da minha cidade, do meu estado, do meu país, do mundo. E assim fui crescendo e evoluindo. Levo esse espírito para cada projeto de que faço parte. Sem esse sentimento, fica difícil vencer. Hoje olho para trás e fico feliz por ter contribuído com essa profissionalização. Estamos indo cada vez mais nessa direção.
Já é possível viver do Jiu-Jitsu no Rio Grande do Sul e no Brasil?
Hoje o cenário no Brasil permite isso. O esporte cresceu em termos de organização, estrutura, investimento. A tendência é crescer ainda mais. Como no futebol, um garoto de 10 anos já pode pensar em ser um atleta profissional. No final dos anos 1990 isso seria impossível no Rio Grande do Sul e muito difícil em outras regiões do país. Essa é uma das minhas preocupações, estamos proporcionando aos atletas tudo que a minha geração não teve. São oportunidades que não tive. Campeonatos que oferecem viagens internacionais como premiação auxiliam não só na formação de um competidor melhor, mas de um ser humano melhor. Estamos tentando proporcionar experiências de vida que talvez muitos desses jovens nunca tivessem. Acho que isso é o que faz a sociedade evoluir: cada um proporcionando ao próximo algo que ele próprio não teve acesso. Se a roda girar assim, construiremos uma convivência muito melhor em qualquer área.
Como é a atenção que vocês dão às categorias infantis?
Temos uma categoria, a Kids, para a qual damos total atenção, e isso vai dos pais aos pequenos. Há uma safra de meninos e meninas entre 5 a 10 anos que frequenta academia regularmente e disputam campeonatos. Para fazer com que as crianças façam parte dessa vivência, é preciso conquistar os pais. Os pais precisam gostar do que estão vendo, confiar que estão entregando os filhos a pessoas responsáveis. Isso exige tempo, dedicação. Não se conquista a confiança de alguém de uma hora para outra. Não é simples. Vale lembrar que nos anos 1990 não havia campeonatos assim. Nos orgulhamos por termos uma média de 200 competidores dessa faixa de idade por evento. E, para 200 que competem, existem muitos outros que ainda não disputam. O cenário é animador.
Qual é o segredo de um campeonato de Jiu-Jitsu atraente para todos?
Parceria, patrocínio, lei de incentivo, apoio e equipe de trabalho. É necessário ter um relacionamento e uma contrapartida. Não adianta só vender e divulgar, tem de entregar o que foi combinado. Hoje é difícil fazer um evento sem patrocínio, porque você fica dependendo do número de inscritos e isso é um risco para o sucesso da competição. O evento precisa se pagar. Quando você consegue um patrocinador para pagar as despesas, já tem mais tranquilidade para oferecer a melhor estrutura possível, sem prejuízo. Mas a boa condição financeira não é garantia de evento qualificado. Já vimos competições, dentro e fora do país, em que havia tudo em termos de estrutura, mas faltava gente capacitada e acostumada com eventos entre 500 e 1.500 atletas. São muitos fatores que influenciam e determinam o sucesso. Nossa receita é buscar fazer competições atraentes não apenas para os atletas, mas para o público, para as famílias que vão aos ginásios, para os patrocinadores, que são fundamentais, para a imprensa, que impulsiona um trabalho bem feito e ajuda a corrigir equívocos quando eles acontecem.
Como é a estrutura ideal para um campeonato de Jiu-Jitsu no Brasil hoje?
Nos tatames, procuramos juízes qualificados, equipe treinada para orientar e conduzir tudo da melhor maneira possível, boa área para descanso, alongamento, relaxamento, concentração. O atleta tem de se preocupar só com o adversário. Os prêmios têm sido nosso diferencial. Conseguimos oferecer mais de 160 mil reais em premiações, com passagens para diversas competições nacionais e internacionais, como o Europeu da IBJJF em Portugal, o Pan dos Estados Unidos, o World Professional Jiu-Jitsu Championship (WPJJC), que é o campeonato profissional de Abu Dhabi. Para os melhores do ranking, obtivemos 14 passagens para o Mundial da IBJJF na Califórnia, isso é inédito e atrai competidores de outros estados, elevando o nível do esporte no Rio Grande do Sul. Nossos lutadores precisam estar prontos quando forem disputar torneios lá fora. Temos essa preocupação. Já os espectadores precisam de conforto, de atrações enquanto suas lutas de interesse não ocorrem, de segurança para chegar, acompanhar e sair do evento com tranquilidade. Buscamos melhorar tudo isso a cada etapa.
Quais são seus objetivos hoje?
Nosso intuito principal é desenvolver o Jiu-Jitsu no Rio Grande do Sul. Queremos expandir, criar a cultura de competição, porque isso vai desenvolver o esporte em cada cidade. Nem me refiro a Porto Alegre, porque aqui isso já existe, mas cito Gramado, São Leopoldo, Novo Hamburgo como exemplo. Fizemos etapas lá e as respostas foram ótimas. Quando o campeonato chega a uma cidade, o Jiu-Jitsu se torna mais conhecido. Atletas locais buscam apoio com os empresários, isso movimenta o mercado interno também. Nós plantamos a semente, e as academias explodem de gente, lá e nas cidades vizinhas.
Como organizador, como vê o nível técnico do Jiu-Jitsu no Brasil hoje?
Muito avançado. O Brasil continua sendo o maior formador de atletas qualificados. Alguns dos melhores lutadores hoje estão nos Estados Unidos como treinadores, e isso levou a qualidade lá fora a crescer também. Mas o brasileiro tem criatividade e apresenta uma capacidade de improviso que é decisiva para diferenciar os melhores, porque o Jiu-Jitsu é isso, é imprevisível. Mesmo que todos tenham acesso às posições, a escolha de cada uma no momento correto é o que vai definir a luta. Vemos hoje uma geração e tanto, com Rodolfo Vieira, Marcus Buchecha, Leandro Lo, Rafael Mendes, Rubens Cobrinha… São atletas diferenciados, fazem parte de outra turma.
(Agradecimentos a Bruno Junqueira e TXT Assessoria em Comunicação)
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