O ano é 1910. Em um octógono de madeira, com um cercado de cordas, um japonês mostra que a misteriosa arte do Jiu-Jitsu é capaz de derrubar quaisquer dos presentes à exibição, independente da idade, tamanho ou peso. Apesar dos indícios históricos, tudo isso não passa de uma cena da novela das seis “Lado a lado”, folhetim de época que remonta a sociedade carioca no início do século XX.
Na cena, Jun Murakami, professor de Jiu-Jitsu contratado pela Marinha e interpretado pelo judoca Rodrigo Oyie, derruba diversos desafiantes com certa facilidad, até que o apresentador pergunta se mais alguém teria coragem de testar as habilidades da arte suave. E aí entra “Zé Maria”, capoeirista interpretado pelo astro Lázaro Ramos.
A cena foi ao ar ontem, na Rede Globo. No episódio de hoje, como se poderia prever, Zé Maria derruba Murakami com um rabo-de-arraia certeiro, vencendo o duelo. Ficção? Sim, mas não exatamente.
Mestre Bimba vs judoca
Segundo o mestre de capoeira Márcio Cocoroca, o episódio ocorreu de forma similar, mas num confere entre capoeira e judô.
“A luta verdadeira foi em 1910 contra o mestre Bimba, apelido de Manoel dos Reis Machado. Ele queria mostrar que a capoeira era luta, porque as pessoas achavam que era só dança. Foi na Bahia, contra um judoca. O mestre Bimba não entendeu a reverência do japonês no início da luta e acertou uma meia-lua de compasso no desafiante”, contou o capoeirista ao site TVG.
Na cena que vai ao ar hoje, Lázaro “Zé Maria” ainda desabafa após a vitória suada:
“Meu nome é Zé Navalha, senhor. Nascido José Maria dos Santos e criado numa roda de capoeira que, como todos aqui devem saber, é proibida no Brasil. Jiu-Jitsu, greco-romana, luta livre, tudo vale aqui nesse ringue, nesse país, menos a capoeira! Porque é luta que veio dos escravos, e dos filhos deles que ainda batalham pra sobreviver num país cheio de preconceito. Só que não adianta proibir, nem prender, porque capoeira não é coisa de marginal, é coisa de brasileiro! Para jogar capoeira tem que ter ritmo, força e coragem, mas principalmente, orgulho. Eu tenho orgulho de ser capoeira, de ser negro, de ser brasileiro!”, brada o personagem criado pelos autores por Claudia Lage e João Ximenes Braga.
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