Tudo começou às 4h30 da manhã do domingo 22 de janeiro, quando acordei para ir à cata das lições do primeiro All Star, evento organizado pelo GMA Cláudio França.
A primeira lição: se o motivo não fosse assistir à final da Conferência (NFC), entre os locais 49ers e os Giants de Nova York, não era a ocasião mais apropriada para ir até San Franciso. Dia chuvoso na deserta Califórnia, com aeroportos lotados.
Mas tudo parecia ir bem às oito da matina, já estava sentado cochilando, e o avião na pista de decolagem. Foi quando abri os olhos e reparei, estávamos de volta ao hangar. Aeronave quebrada. Para poupar o leitor de uma novela pessoal, vamos direto ao final: cheguei ao auditório civil de Santa Cruz, local do campeonato, às 3h30 da tarde.
Cheguei a tempo de registrar a derrota de Erik Benaquisto para Bradford Sandoval, na semifinal do master faixa-preta, categoria médio. Resignado, Erik avaliou, ainda esbaforido, o óbvio: “A lição do dia é não deixar de treinar o cárdio”. Seu algoz Bradford acabaria perdendo para Luis Fraga na decisão.
Jiu-Jitsu vs Futebol Americano
Organizador também das franchises US Open e American Cup, Cláudio França também tirou proveito do dia: “Olha, melhor não marcar campeonato no dia da final de futebol americano,” ponderou, apontando para as arquibancadas, já vazias num momento tradicional de estádio lotado, a disputa dos faixas-brancas. E concluiu: “Mas estou feliz, é a primeira edição do evento, e o número de inscritos superou as expectativas.”
De uniforme de árbitro, o simpático porto-riquenho Marcos “Yemaso” não vestiu o kimono, mas veio como sempre conversar, e titubeou quando perguntei qual teria sido a aula. “Olha, este lugar é muito especial para mim. Foi ali, naquele canto ali, que eu disputei minha primeira competição, com dois meses de treino de Jiu-Jitsu, em 1999,” disse ele, mas acabou interrompido, pois seus serviços foram requisitados.
Enquanto isso, o faixa-azul Nicholas Greene comemorou a vitória no absoluto azul com uma sequencia plástica de break dance sobre a área de luta (“Era o meu hobby antes do Jiu-Jitsu, justificou). O segundo colocado, o local do Arizona Gary Hatch, tirou uma lição técnica: “Eu não devia ter deixado ele ir pro norte-sul.”
Na roxa, os companheiros de equipe Amir Mahboobi e Benjamin Mendoza disputaram a final no par ou ímpar. Antes da disputa, Amir já tinha me dado uma lição, não do dia, mas de vida: “Não perder!” Infelizmente, ele cumpriu bem até a final, mas Mendoza levou a melhor no sorteio e ficou com o ouro.
Yemaso não foi embora sem concluir o raciocínio: “Foi aqui que eu comecei, e o Jiu-Jitsu me deu tudo. Hoje estou feliz de estar arbitrando e dando um pouco de volta para o Jiu-Jitsu. A lição, pelo menos para mim, é gratidão. Sempre ser grato.”
A única derrota definitiva, tanto no Jiu-Jitsu quanto na vida
Com a garoa caindo e a sacola cheia de aprendizados, peguei a serra da estrada 17 em direção a San Francisco. Enquanto isso, na prorrogação, os Giants garantiam o passaporte para o Super Bowl XLVI, e o clima fúnebre no aeroporto de San Francisco — onde milhares de torcedores, cabisbaixos mas ainda vestidos de vermelho, passariam dali a pouco em direção às suas casas.
A maior lição do dia pode vir do futebol ou do Jiu-Jitsu, tanto faz. É que não tem como levar a sério uma derrota temporária, aquela num evento, ou numa luta, naquele momento da vida. A única derrota definitiva é a desistência.
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