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GMI Jorge Britto e o trabalho no Canadá: “Devo o que sou hoje às amizades do Jiu-Jitsu”

Jorge Britto com seu armdrag da fechada na Jiu Jitsu For Life Team. Foto: Reprodução

Prestes a completar 40 anos de vida e 15 como faixa-preta de Jiu-Jitsu, o professor Jorge Britto tem testemunhado dias felizes em Toronto, onde mora. A cidade ganhou os holofotes do mundo esportivo recentemente, com o título dos Toronto Raptors no basquete, e durante o verão, com temperaturas próximas aos 30 graus, seus habitantes invadem os parques para variadas práticas esportivas. No Jiu-Jitsu, claro, a empolgação não é diferente, e a academia de Britto está sempre repleta de jovens e crianças cheios de energia.

“O crescimento do Jiu-Jitsu no Canadá anda mesmo acelerado, especialmente aqui no leste do país”, garante o professor da associação Jiu-Jitsu for Life Team, que hoje busca espalhar pelo grande país do norte uma filosofia tão simples quanto poderosa: “Já lutei MMA e tudo, mas acredito que o grande poder do Jiu-Jitsu é o de transformar vidas – Jiu-Jitsu não é só porradaria, é filosofia de vida, e para vida a toda.”

GRACIEMAG: Como você escolheu o Canadá para ensinar Jiu-Jitsu?

JORGE BRITTO: Eu não escolhi o Canadá, foi mesmo o Canadá que me escolheu, e me acolheu muito bem. Em 2007 eu passei um tempo com o Saulo Ribeiro nos Estados Unidos, e ali me deu uma vontade danada de ensinar Jiu-Jitsu fora do Brasil. Não obtive o visto americano, queria fazer tudo certinho então voltei para o Brasil. Um dia o professor Saulo Ribeiro recebeu do líder da academia Toronto BJJ um pedido: ele precisava de um professor para ensinar full-time na academia. A coisa era tão destinada a acontecer que eu estava dando entrada no meu passaporte português, que saiu quatro dias depois do Saulo me convidar. E a cidadania portuguesa só consegui graças a amigos do Jiu-Jitsu. Acho que tudo que sou hoje devo mesmo às amizades do Jiu-Jitsu. Sou muito grato ao Saulo e a todos da Gracie Tijuca que me ajudaram, pois vir para o Canadá foi a melhor oportunidade da minha carreira. Sou feliz aqui, é um povo semelhante ao brasileiro na questão da receptividade, no acolhimento caloroso, pois é um país rico em imigrantes.

Como anda o panorama do esporte por aí?

O cenário competitivo do esporte está animal, sólido e acelerado e se multiplicando. Tem um pessoal do Brasil chegando sempre para ensinar, academia do Cicero Costha, da Alliance, o Fabio Holanda em Quebec, o Bruno Fernandes da GB… Criamos recentemente um evento chamado Next Gen BJJ, com o objetivo de desbravar novas fronteiras para o esporte em pequenas cidades canadenses. De costa a costa do Canadá a receptividade está muito boa. Já há vários lutadores canadenses duríssimos que ainda não aparecem tanto mundialmente – os campeonatos são longe, custa caro. Mas em breve eles vão ganhar o reconhecimento, pouco a pouco. O título da final da NBA foi uma injeção de ânimo bacana, os canadenses estão acreditando mais em seu talento.

Conte um pouco de seu início no esporte, na Tijuca: é verdade que o surgimento do UFC e o fechamento de um campo de futebol no seu bairro, mais ou menos na mesma época, influenciaram sua vida?

Pois é, eu perdi meu pai muito cedo e passei a infância jogando bola no clube do América, tentando fazer parte do time de futebol. Quando o América vende o campo de Vila Isabel e se muda para Nova Iguaçu, eu fico sem meu esporte. Foi ali que acabei seguindo os amigos para o Jiu-Jitsu. Era o ano de 1993, e o UFC estava surgindo e influenciando a garotada. Comecei treinando com o professor casca-grossa Fernando Nutribaby, da Carlson. Depois ele se mudou e fui para a Gracie Tijuca com o Vini Aieta, cujo primo era meu amigo. Ali pude aprender com Vini, Saulo e com mestre Royler, que tinha uma ética de trabalho, uma dedicação para os Mundiais, que nos inspirava instantaneamente. Havia a Leticia Ribeiro, o Fabricio Morango, o Daniel Moraes, todos me ajudaram demais. Eu era um garoto que poderia ter tido más influências ali onde eu morava, mas tive a sorte de ter bons modelos para seguir uma vida saudável.

Qual a maior lição técnica de Jiu-Jitsu que você aprendeu e passa aos alunos?

Creio que o pensamento número um do praticante deve ser: o meu Jiu-Jitsu precisa funcionar em qualquer situação – sem tempo ou com tempo, com pontos ou sem, kimono ou não, no tatame ou numa situação de perigo, contra caras mais leves ou mais pesados, num treino sereno ou sob forte carga de emoção… Se o seu jogo ainda deixa você na mão, é preciso ligar o alerta, compreender melhor as alavancas do Jiu-Jitsu e buscar mais ferramentas para se aproximar dessa eficiência total. Para isso, concentre-se nos fundamentos do Jiu-Jitsu, passe e repasse o básico.

Um dia você recebeu um conselho do Wellington Megaton que mudou sua carreira… Lembra como foi?

(Sorri) Claro. Estava rolando um camp para o Mundial de Jiu-Jitsu de 1997 da IBJJF, se não me engano, e eu era um rato de academia, um juvenil empolgado para ser campeão de kimono, e depois um bom professor. O Megaton percebeu que eu era esforçado, pois eu levava de bicicleta o kimono dos professores para lavar como forma de fazer um troco, e me disse: “Se você sonha um dia em viver do Jiu-Jitsu, anote aí. Apenas ser campeão não vai ajudá-lo a pagar todas as contas. Entenda as técnicas, aprenda como dar aulas, faça um curso de inglês que você vai poder ensinar onde quiser.” Naquele Mundial eu trabalhei como mesário da IBJJF, ouvi o Carlinhos Gracie dizendo como o esporte iria crescer lá fora, e investi muito nisso. Hoje estou aqui e sou grato àquela mensagem do Megaton que abriu minha mente.

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