O professor Jean Feijó começou a ensinar como quase todo mundo: cobrindo o horário de um faixa-preta ausente. E lá se vão 20 anos de aprendizados, muito kimono suado e alunos formados para a vida, desde seu primeiro contato com o Jiu-Jitsu. Hoje, nosso GMI que é referência no ensino em Santa Catarina faz um balanço dessas primeiras duas décadas de Jiu-Jitsu, e o que tem aprendido de mais valioso sobre a vida.
GRACIEMAG: Qual foi a maior lição desses 20 anos, professor?
JEAN FEIJÓ: Tive meu primeiro contato com o Jiu-Jitsu perto do ano 2000, e creio que a maior lição que aprendi foi de humildade. Não importa quanto tempo a gente treina, nunca sabemos tudo. Aprendi muito nesses anos, e sigo aprendendo. Outra grande lição para a vida: não existe jamais uma luta ganha, nem luta perdida. Você saca isso na própria academia – mesmo um aluno sendo menos ” técnico” ou menos graduado, ou mais “fraco”, ele ainda pode achar uma maneira de vencer seu oponente.
E sobre seu trabalho como professor? O que aprendeu de mais valioso?
Cada dia descubro uma nova lição. Mas creio que uma das mais importantes é que, por mais que você estude, sempre haverá algum detalhe a aprender ou melhorar. Isso é puro Jiu-Jitsu, uma arte que não para de evoluir e mudar, como o próprio mundo. Frequentemente somos apresentados a coisas novas e o professor que ficar preso no passado, achando que sabe tudo, acaba ficando para trás muito rápido. Quando comecei a trabalhar com o Jiu-Jitsu, nunca imaginei que o esporte e a comunidade seriam do tamanho que são hoje. Se fizermos um bom trabalho e conseguirmos mostrar ao mundo o quanto o Jiu-Jitsu transforma vidas, assim como já provamos o quanto ele é eficiente contra qualquer rival, nossa arte só vai crescer ainda mais.
Essa evolução constante do Jiu-Jitsu se nota logo nos torneios, certo?
Exato. Nas lutas ocorre da mesmíssima forma. Os torneios são verdadeiros laboratórios. Um aspecto importante que vi ao longo da minha carreira é a importância do controle mental e emocional. Vejo muito atleta treinando bem a parte técnica e física, sobrando nesses quesitos, mas dando pouca atenção à cabeça, e por isso não rendem tanto quanto poderiam. Um dos macetes para isso é aprender a perder na academia, se colocar em situações difíceis no treino. Acho que nossa arte é uma metáfora muito forte da vida – o que aprendemos e vivenciamos nos tatames, nós levamos para nossa vida fora da academia.
Por que você se filiou ao time da Aurum Jiu-Jitsu?
Viramos Aurum por diversas razões, mas principalmente para conseguir organizar melhor nosso trabalho e crescimento. Acredito que para uma equipe crescer sólida, é fundamental uma boa organização e planejamento. Na questão de ensino, sempre pensei o Jiu-Jitsu mais como uma escola do que como academia. Isto é, eu acho importante ter metodologia, didática, separação de turmas, controle objetivo de graduação, treinamento e formação de professores, estrutura hierárquica, ambientes padronizados, uniformização, entre tantos outros pontos. Tentei várias vezes propor essas mudanças na minha antiga equipe, mas por pensarmos um pouco diferente, decidimos seguir rumos diferentes, com total respeito, clareza e coerência sempre. E assim foi. Em 2018 demos os primeiros passos na construção da Aurum, onde com muito trabalho e dedicação, estamos conseguindo aplicar um modelo diferenciado de entrega do Jiu-Jitsu que vem dando resultados incríveis, tanto no crescimento da equipe, quanto na velocidade de aprendizado dos alunos.
Ainda recorda de seu primeiro dia como instrutor?
Do primeiro dia não lembro exatamente, porque na época em que comecei ainda era comum o professor se ausentar e pedir para o aluno mais graduado puxar o treino. Era a época em que quase todos tinham o Jiu-Jitsu como uma segunda profissão. Portanto, comecei dando essa assistência na academia já na faixa-azul. Logo que fui graduado a roxa, em 2006, meu professor vendeu os tatames e fechou nossa academia.
Como você superou esse primeiro obstáculo?
Sem me abater ou jogar a toalha. Aluguei uma sala pequena de aproximadamente cinco metros por cinco, montei o tatame de lona e continuei a treinar. A ideia inicial era manter o time treinado e dar aula caso aparecesse algum aluno interessado, o que não sabia se ocorreria. Foi nesse momento que descobri minha verdadeira missão. É a minha grande paixão dentro do Jiu-Jitsu, formar, ensinar e educar os mais novatos. Em 2010 eu decidi que o Jiu-Jitsu seria minha única profissão, e é o que faço até hoje sem parar, com amor e alegria. Depois disso migramos para uma associação de moradores, até que consegui montar um espaço melhor e fomos ampliando aos poucos. Hoje, nossa matriz tem 450 metros quadrados, com dois andares e quatro tatames – o maior tem 170 metros quadrados. Estamos aproximadamente com 500 alunos, de 3 a 60 anos. Está sendo um bom começo (risos).
O que planeja para o futuro?
Vejo nossa equipe como uma referência no ensino de Jiu-Jitsu no médio prazo, daqui a uns cinco anos. E creio que seremos uma das maiores e principais equipes do mundo a longo prazo. Hoje nosso foco maior é na organização e criação de um modelo de negócio e ensino diferenciado e sólido, para então começar a expansão que planejamos. Queremos construir uma base solida para validar nossa metodologia tanto na parte de ensino quanto competitiva. Estamos também com a nossa primeira filial fora do Brasil, em Dublin, na Irlanda, com meu sócio Guilherme Toto, onde estamos desenvolvendo um modelo de franquia que depois queremos replicar pelo mundo todo. Confio que de fato não existe mais limites para o quanto nossa arte pode crescer, no Brasil e no planeta todo.
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