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Está faltando um grande vilão no UFC?

 

Tito Ortiz Foto Al Powers Zuffa LLC via Getty Images

O sempre polêmico Tito Ortiz em foto de Al Powers/Zuffa LLC via Getty Images

“Você não conhece o poder do Lado Negro da Força” bradava Darth Vader com sua característica voz robotizada em “O Império Contra Ataca” ao destacar as vantagens de assumir seu lado malvado.

A literatura, o cinema e a televisão nos proporcionaram vários personagens que, assim como Vader, eram tão carismáticos em sua vilania que se tornaram muito mais populares do que os heróis que enfrentavam.

Não dá para negar que, apesar das maldades perpetradas por eles, secretamente torcemos por Dom Corleone (O Poderoso Chefão), Conde Drácula (Drácula), Walter White (Breaking Bad), Coringa (Batman), Iago (Othelo) e Hanibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes). Ou, no mínimo, esboçamos um sorriso enquanto torcemos para que sejam derrotados. A maioria deles combina inteligência e ironia à sua amoralidade e nos divertem ao repudiarem descaradamente as amarras éticas que restringem os mocinhos clássicos.

Com o anunciado afastamento de Chael Sonnen, o UFC perde seu mais carismático “vilão”. Ninguém incorporou tão bem um personagem malvado como este infame americano. Para alavancar sua popularidade, provocou lutadores das mais diferentes categorias, fez piadas machistas, ironizou a miséria no Brasil, superestimou suas qualidades. Nem mulheres (de lutadores e ring girls) ou crianças (pobres do Brasil) foram poupadas. Sagaz e dono de um humor ácido, Sonnen tirava da cartola frases como: “faço o Anderson (Silva) ficar de costas no chão mais rápido do que uma atriz pornô com problemas financeiros”. Impagável! E assim, mesmo sem ser um lutador excepcional, conseguiu se tornar o inimigo mortal do maior lutador de todos os tempos, Anderson Silva.

Recentemente, Sonnen quis melhorar sua imagem no Brasil, mostrando seu lado mais afável e confessando que encarnava propositalmente um tipo odioso para conseguir boas lutas. A estratégia, mais uma vez, foi bem sucedida e não é difícil acharmos fãs daquele que alguns anos atrás era fervorosamente odiado. Para os mais questionadores, fica a dúvida: estaria ele fingindo antes ou está fingindo agora? Nunca saberemos.

Todavia, Sonnen não foi o primeiro grande vilão da era moderna do UFC. Esse privilégio cabe a Tito Ortiz o “Bad Boy de Huntington Beach”, que superou até mesmo o insano brigão Tank Abbott em estilo, técnica e língua afiada.

O marrento Tito sabia provocar seus oponentes e propiciar momentos perversamente divertidos. Eu me lembro de vê-lo comemorar vitórias com uma mímica na qual simulava cavar uma vala e deitar o corpo do atleta derrotado. Foi impossível não sorrir quando Tito foi à pesagem de sua luta contra Lyoto Machida usando uma camiseta com os dizeres “Dana is my bitch” (“Dana é minha vadia”, em tradução livre) para provocar o chefão do UFC Dana White. Quem não adoraria ter a coragem de fazer isso com um patrão de quem não gosta?

Na galeria dos “malévolos”, também merece destaque o ex-campeão peso pesado Brock Lesnar. Aproveitando sua experiência no pro-wrestling (uma “luta livre coreografada”, como as que passavam no Brasil na década de 70), o gigantesco Brock dava um show no papel de bandido. Gritava, cuspia para a câmera, desrespeitava oponentes e patrocinadores, estimulava a plateia a vaiá-lo. Pessoalmente nunca gostei dele, não pelas provocações, mas por achar que só tinha tamanho e não era um artista marcial de verdade.

Quando eu assistia a Lesnar entrando no octógono, não conseguia parar de pensar nas presepadas de Hulk Rogan ou Ted Boy Marino, ícones do “telecatch”.

Com o afastamento de Sonnen, o papel de malvado do UFC pode acabar sendo desempenhado pela campeã Ronda Rousey. Não deixa de ser uma ironia. Contratada para ser a “princesa do MMA feminino” pois combinava beleza, popularidade e qualidade técnica, Ronda viu seu público voltar-se contra ela devido a sua participação no reality show “The Ultimate Fighter”. Durante o programa, a ex-judoca olímpica mostrou-se desequilibrada, agressiva e levemente psicótica. Após sua vitória contra a rival Miesha Tate, Ronda recusou a apertar a mão da oponente derrotada e a vaia do público foi estrondosa. Sem se abalar, Ronda seguiu a filosofia de Maquiavel: é melhor ser temida do que ser amada. De princesa a rainha má, sem perder a majestade.

Como cantam os Rolling Stones em “Sympathy for the Devil”, assim como todos os pecadores são santos, até o Diabo merece alguma simpatia. Ame-os, odeie-os ou ame odiá-los, os “caras maus” dão um sabor especial ao esporte.

E você, o que acha? Falta um grande vilão para esquentar as coisas no UFC hoje, ou Sonnen e Tito não deixaram saudades?

(Mauro Ellovitch escreve todo mês em GRACIEMAG. Esta coluna foi publicada na edição #209 de sua revista de Jiu-Jitsu favorita. Gostou? Assine já, clicando abaixo.)

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