Do Rio das Pedras para Londres. Foi por essa singela troca de ares que a campeã mundial Tayane Porfírio pegou a todos de surpresa nessa terça-feira, após divulgar uma foto vestindo as cores da Gracie Barra. Faixa-preta consagrada no time da Alliance, a fera falou com exclusividade à GRACIEMAG que estava de fato indo para o time liderado por Carlinhos Gracie, e por motivos bem específicos.
Tayane frisou que não teve nenhum problema com a Alliance, e que tinha partido de mala e cuia para a Gracie Barra Fulham para buscar melhores oportunidades de carreira e poder ajudar sua família aqui no Brasil.
“Cheguei a um ponto de não mais conseguir ajudar meus pais, e isso se tornou doloroso”, disse Tayane. “Meu pai não pode trabalhar por problemas de saúde e minha mãe se mata de trabalhar para poder prover aos meus irmãos e sobrinho. Quero ver minha família bem e me sentir realizada trabalhando com o que eu amo.”
Contudo, o que mais se ouviu nas redes sociais e a maior pergunta gerada por conta da mudança é se agora, com Tayane na Gracie Barra, os fãs podem esperar um duelo entre ela e Gabi Garcia. Antes elas defendiam a mesma bandeira, e um fechamento poderia acontecer. Tayane, contudo, foi comedida.
“Bom, eu prefiro não falar sobre lutar com ela. Acho que cada um tem um tipo de atitude em se expor, e não é legal ficar falando em específico de uma só atleta, até porque são várias atletas no Mundial e ninguém sabe se a gente vai se esbarrar ou não.”
Confira abaixo o papo na íntegra, na nossa entrevista exclusiva desta quarta-feira!
GRACIEMAG: Como foi a saída da Alliance?
TAYANE PORFÍRIO: Cheguei na equipe em 2014, há 5 anos. A relação com a equipe sempre foi tranquila, tanto com os professores quantos demais competidores. Seja nas sedes ou filiais. Minha relação com o Gigi sempre foi maravilhosa, eu o tenho como pai. Ele me acolheu, e ensinou muito além do Jiu-Jitsu. Sobre valores, princípios, me orientou inúmeras vezes profissional e pessoalmente falando. Um verdadeiro mestre. Um guia. A conversa com o Gigi foi difícil. O assunto, querendo ou não, é delicado. Não quero que pensem que o Gigi perdeu uma atleta, na verdade o Gigi me tornou esta atleta. Agora, ele só fez com que a atleta dele ganhasse o mundo. O reconhecimento vai ser sempre “ela foi aluna do Alexandre Paiva” “ela é faixa-preta do Gigi”. Estou com ele desde a azul, foi ele que me tornou a Tayane Porfírio que eu sou hoje!
E como foi o convite para ir para a GB?
Ninguém de fato me chamou ou convenceu a compor a equipe GB. A decisão de vir para a Gracie Barra de Londres foi apenas de abraçar a oportunidade que tenho aqui. Londres provem de mais infraestrutura e qualidade de vida.
Já considerava sair do Brasil por vários motivos como segurança, reconhecimento, etc. Conheci Londres em 2016 e já “sonhava” com esse lugar por filmes e fotos, acabei me apaixonando. Londres e Portugal sempre foram minhas paixões. Além do mais aqui tenho amigos, não me sinto desamparada e aprenderei inglês. Sabemos o quanto isso é importante em qualquer profissão, principalmente para lutadores. Precisar viajar, dar seminários e saber comunicar bem. Sinto que esse momento chegou. Vinha estudando essa possibilidade desde agosto, conversava com amigos meus sobre minha situação no Brasil e sempre me falavam que eu precisava sair do Brasil pra dar aula, ter melhores condições financeiras etc. Eu acho que eu sei onde meu calo aperta, sei que vão falar que sou creonte e coisas do tipo, mas quem vai pagar minhas contas? Sou eu! As pessoas do meio do Jiu-Jitsu precisam amadurecer e parar de falar tanta besteira. Eu não deixo de ser brasileira
Qual foi o real motivo da sua mudança?
Aqui vou poder ganhar um bom salário, fazendo o que eu amo e poder ajudar minha família! Infelizmente no Brasil você tem que decidir entre pagar aluguel ou comer. O Jiu-Jitsu não é reconhecido no Brasil como deveria. As pessoas reclamam de um seminário que custa R$ 40,00, acham caro. Cobrar R$ 100,00 numa aula particular vão dizer que você está louco. Há muitas empresas também que vêem o atleta como um total pedinte. Não entendem a logística de patrocínio. Precisamos de roupas sim, mas roupas esportivas não pagam conta de luz, por exemplo. Atletas se machucam, precisam pagar consultas médicas, remédios, fisioterapia etc. O principal motivo de mudar é minha família. Sempre fui uma pessoa que pensei muito na família, em ajudá-los. Se eles estão bem, eu estou bem. Tenho emocional e inspiração pra seguir. Cheguei a um ponto de não mais conseguir ajudar meus pais, e isso se tornou doloroso. Meu pai não pode trabalhar por problemas de saúde e minha mãe se mata de trabalhar para poder prover aos meus irmãos e sobrinho. Quero ver minha família bem e me sentir realizada trabalhando com o que eu amo.
E para quando podemos esperar sua estreia na GB?
Ainda não sei. Preciso me organizar e minha família se adaptar a isso também. Meu irmão morava comigo, minha mão voltou pro nordeste.. enfim, muita coisa acontecendo. Preciso me estruturar para então voltar a ativa.
Com a ida para a GB, fica inevitável projetar uma colisão de estrelas entre você e Gabi. Como acha que vai ser?
Bom, eu prefiro não falar sobre lutar com ela. Acho que cada um tem um tipo de atitude em se expor, e não é legal ficar falando em específico de uma só atleta, até porque são várias atletas no Mundial e ninguém sabe se a gente vai se esbarrar ou não. Colisão de estrelas vemos várias vezes, em diferentes organizações. Eu entendo a expectativa do público mas não tenho nada específico com ninguém. São várias atletas “nessa rota de colisão” e ninguém sabe ao certo quem vai “pro confere” ou como vai acabar. O importante é sempre fazermos uma luta limpa, honesta e com profissionalismo. Fico extremamente feliz de hoje ser uma das atletas que se destacam. Tenho 24 anos, ainda tem muita coisa por vir, e sei que vão surgir diversas outras atletas. Acredito que cada uma faz a diferença em seu meio e todas tem espaço para brilhar! Mais uma vez irei usar essa frase: Deus trabalha em silêncio, planeja em oculto e honra em público!