Encerrado o UFC Rio, um experiente faixa-preta de Jiu-Jitsu carioca estava impressionado. Não com o supremo domínio verde-amarelo, mas pela quase total ausência de golpes de chão no show realizado pela primeira vez na cidade berço da arte suave.
Teria sido um acaso ou tornou-se uma norma no UFC hoje? Os strikers teriam vencido a guerra?, pensou o faixa-preta, fotógrafo por profissão, após ver pela TV, nas cinco lutas finais, um festival exclusivo de socos e pontapés. Pior: nas demais lutas, nenhuma finalização para concorrer ao prêmio de melhor da noite. O que houvera?
Passamos a dúvida para um ex-campeão do UFC com talento e gana de finalizador, presente no UFC Rio. Com a palavra, Murilo Bustamante, técnico da BTT e córner de Rousimar Toquinho.
“Primeiro vale dizer que a festa foi espetacular. De todos os UFCs e Prides que fui, como espectador ou atleta, este talvez foi o melhor evento em que já estive, pela energia da torcida, pelas exibições dos lutadores. Mas acabou que foi muita pancadaria, e menos Jiu-Jitsu. Não é propriamente uma norma, o card foi para isso mesmo, recheado de strikers, o que acaba sendo bom para conquistar a audiência leiga”, analisou Bustamante.
“No nosso caso, o Toquinho estava indo bem no Jiu-Jitsu, mas depois do recomeço da luta ele desandou. Acho que ficou com raiva e quis mesmo bater no cara… No começou ele estava seguindo o plano de derrubar e fazer o jogo de chão, até a hora em que foi comemorar sem o juiz sinalizar. Na hora nem entendi, ele disse que o cara gritou. Eu não sei se o americano foi malandro ou se ficou atordoado e apenas achou que tinha acabado o round, mas pode reparar que o cara demorou a protestar. Foi ingenuidade dele, de qualquer forma”, disse.
“Quando a luta recomeçou, o Toquinho sentiu dificuldade em se concentrar de novo, eu sei como é difícil voltar no mesmo ritmo, no mesmo foco. E atribuo o knockdown que ele levou a isso, entrou um jab e um upper que o desconectou, ainda bem que já acordou vindo para cima e deu tudo certo no fim”, detalhou o ex-campeão até 84kg do UFC, que já viveu drama similar contra Matt Lindland, em 2002. Na ocasião, Big John interrompeu equivocadamente a decisão do cinturão quando Murilo tinha uma chave de braço encaixada. Bustamante teve de lutar novamente e finalizou mais uma vez, na guilhotina.
“Para mim, foi a melhor luta da noite, pois mesmo no terceiro round a luta continuou na trocação franca”, ressaltou. “Toquinho provou que evoluíu muito em pé, no ataque e na defesa, mas pode melhorar muito mais. E, mesmo assim, eu quero que ele lute mais no chão, vamos treinar e conversar com ele para isso”, observou.
Sobre as outras lutas, Bustamante elogiou o controle de Thiaguinho Tavares, que dominou a pedreira Spencer Fisher no chão, para despachá-lo com socos na montada pelas costas. Para encerrar, Murilo não podia deixar de comentar a vitória do ex-companheiro de time Minotauro (clique aqui), que trocou a suavidade pelo murro e se deu bem.
“O Rodrigo se superou, como de costume. Estava lento ainda, mas o coração dele está sempre em forma, é gigante. Mesmo começando a levar a pior em pé, com dois uppers que já tinha feito ele dobrar as pernas, ele continuou indo para cima, encurralou o garotão, soltou a mão e entrou”, resumiu.
UFC Rio
HSBC Arena, Barra, Rio, RJ
27 de agosto de 2011
Anderson Silva venceu Yushin Okami por TKO aos 4min2s do R2
Mauricio Shogun venceu Forrest Griffin por TKO no R1
Edson Barboza venceu Ross Pearson por decisão dividida
Rodrigo Minotauro venceu Brendan Schaub por TKO aos 3min9s do R1
Stanislav Nedkov venceu Luiz “Banha” Cane por TKO aos 4min do R1
Thiago Tavares venceu Spencer Fisher por TKO aos 2min21s do R2
Rousimar Toquinho venceu Dan Miller por decisão unânime
Paulo Thiago venceu David Mitchell por decisão unânime
Raphael Assunção venceu Johnny Eduardo por decisão unânime
Erick Silva venceu Luis Beição por TKO aos 40s do R1
Yuri “Marajó” Alcantara venceu Felipe “Sertanejo” Arantes por decisão unânime
Yves Jabouin venceu Ian Loveland por decisão dividida
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