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Desclassificação em debate – Antes e depois de Cornelius vs Miyao em Abu Dhabi

(Por Breno Sivak, professor convidado em Abu Dhabi •••• O artigo a seguir reflete a opinião do autor, e não necessariamente a visão de GracieMag)

Urge a necessidade de entendermos que para o Jiu-Jitsu crescer e almejar a utopia olímpica cabe, em primeiro plano, a aceitação de que na telinha do vídeo muitas lutas são difíceis de entender e feias de assistir.

Grande mestre Helio Gracie certa vez comentou esse aspecto: “Bonito é dança, luta é para ser eficiente e eficaz”.

O Jiu-Jitsu, recriado no Brasil pelos Gracie, visava a princípio a defesa pessoal e assim foi por décadas, sem a conotação competitiva, até decidirem escrever as regras do Jiu-Jitsu esportivo e darem início aos campeonatos oficiais.

O fato é que em lutas não agarradas como boxe, muay thai, karatê etc, o mais desinformado dos leigos entende rapidamente o que está acontecendo. Com o Jiu-Jitsu, a mais eficiente porém menos cinematográfica das artes, isso não ocorre.

A virada definitiva do Jiu-Jitsu vai acontecer no dia em que entendermos que qualquer esporte que queira sobreviver nestes novos tempos precisa compreender que o dinamismo é a palavra-chave. Afinal, a reprodução dos campeonatos ao vivo via internet, nas telas dos telefones, computadores, televisões etc, será algo tão comum como falar no celular hoje.

Paulo Miyao e Keenan Cornelius na final do absoluto marrom em Abu Dhabi

Paulo Miyao e Keenan Cornelius na final do absoluto marrom em Abu Dhabi

A “amarração” nem de longe é uma novidade no Jiu-Jitsu. Em campeonatos mais antigos, alguns lutadores trancavam seus oponentes na guarda ou os imobilizavam no cem-quilos por eras, e apenas quando a plateia gritava enlouquecida para o árbitro a punição por vezes vinha.

Houve uma enorme evolução no julgamento das lutas de Jiu-Jitsu, e o esporte conta hoje com quadros de árbitros profissionais e frequentes cursos de reciclagem, o que é fundamental. O ponto crucial, porém, é o “feeling” do juiz para entender que é dele a responsabilidade de não permitir a amarração – esse pântano onde sempre afundaram as pretensões da popularização da arte suave no planeta.

Como em todo esporte, posições novas foram criadas e aperfeiçoadas, como berimbolos, 50/50, com o intuito inicial de buscar a eficiência, e talvez até mais dinamismo. O lutador que as utiliza fica então posicionado de tal forma que se seu oponente vier para cima será certamente raspado e se retroceder tomará os mesmos dois pontos. Isto, porém, funcionava apenas quando poucos as conheciam. Agora, quando das posições, ninguém se mexe, pois sabe que mexer significa perder pontos.

Estive em Abu Dhabi como convidado, e vi bem de perto a final do absoluto faixa-marrom entre Keenan Cornelius, de 88kg, contra Paulo Miyao, de 61kg, que na semifinal derrotara o ótimo lutador e ídolo local Faissal Al Ketbi, um monstro de 100kg e que há dez anos é treinado pelos melhores professores do mundo e vive para lutar. E eu, que pensava que estava para ver um peso-pluma ser campeão absoluto, algo extraordinário, em vez disto, assisti a algo ainda mais inusitado.

O juiz principal Luciano Mendes, vale dizer, respeitou exatamente o que está escrito no livro de regras no que tange a punir quem amarra lutas. Como ambos ficaram embolados, cada um esperando o outro se mexer para raspar, começaram a tomar advertências e punições. Os dois continuaram sem tomar a iniciativa de atacar, apenas simulando ações sem efeitos. Após a quarta e última punição, o faixa-preta Luciano, como reza a regra, interrompeu a luta, desclassificou os dois e os mandou para fora do tatame sem os dólares, as medalhas e o cinturão destinados ao campeão, glória que acabou indo para o colo do vencedor da disputa do terceiro lugar.

Para mim, este foi o fato mais marcante ocorrido no Jiu Jitsu esportivo desde a profissionalização da arbitragem, e pode ser um divisor de águas. Este episódio pode e deve ser aproveitado como exemplo para que os lutadores entendam que amarrar ou enganar os árbitros com simulações não rende a medalha de ouro, mas a eliminação. Só assim daremos um grande passo para que as lutas sejam dinâmicas e emocionantes de assistir, bem diferente do que vemos na maioria dos campeonatos.

*** E você, concorda com a opinião do faixa-preta da Gracie Humaitá? O que achou da eliminação dos finalistas? Comente.

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