A campeã Carina Santi sabe o que é enfrentar o sofrimento. Aos 19 anos, a lutadora paulista sofreu com a partida do pai, e em poucos meses ganhou 20kg na balança. Pressentindo que a depressão do luto começava a vencê-la, Carina lembrou do avô, judoca, e procurou uma academia de artes marciais. Encontrou o dojo de Jiu-Jitsu do professor Júlio Pinheiro, e recuperou-se para sempre.
No papo a seguir, a hoje professora, esposa do faixa-preta Diogo Almeida, comenta sobre seus cursos para mulheres, como tem mudado a vida de muitas alunas e como ela procura retribuir a tudo que o Jiu-Jitsu lhe proporcionou.
GRACIEMAG: O Jiu-Jitsu está sempre quebrando preconceitos. Já foi o esporte de “dois caras se agarrando”, já foi “esporte de macho”, e agora a luta é um grande trunfo para as mulheres. Como anda essa luta contra o preconceito, na sua visão?
CARINA SANTI: Por um bom tempo as mulheres praticantes de Jiu-Jitsu sofreram muito preconceito, porque o Jiu-Jitsu não era visto como um esporte feminino. Mas, com o tempo, estamos quebrando os paradigmas e mostrando cada vez mais o nosso espaço. A batalha é constante, e acho que o preconceito sempre vai existir. Mas o antídoto para isso é estarmos sempre lutando contra isso, enfrentando o problema com coragem e mostrando que somos tão boas quanto os homens em qualquer função.
Quando você percebeu que viveria do e em prol do Jiu-Jitsu?
Foi durante a faixa-roxa, quando obtive meu primeiro patrocínio. A partir dali, enxerguei no Jiu-Jitsu uma oportunidade de trabalho, um modo de ganhar a vida. Aí comecei a me dedicar de forma mais intensa, e a buscar ser uma profissional do esporte.
Muitas mulheres não se sentem seguras de noite, ou mesmo em casa. Os benefícios do Jiu-Jitsu para elas é ainda maior do que para nós homens?
Sim, o Jiu-Jitsu é uma ferramenta capaz de mudar para sempre a vida de uma mulher. O conhecimento de defesa pessoal e o desenvolvimento da força, de reflexos e de consciência corporal são habilidades suficientes para incutir autoconfiança, e levar as mulheres a enfrentar ou evitar com sucesso possíveis situações de risco.
Como seus cursos mudaram vidas?
Já recebi depoimentos de incontáveis alunas que, graças ao que aprenderam nos módulos do meu curso, passaram a se sentir muito mais seguras nas ruas. Algumas delas, inclusive, puderam se defender de casos de violência doméstica e se livraram desse mal. A partir da sabedoria do Jiu-Jitsu e das técnicas de defesa pessoal, minhas alunas têm melhorado a autoconfiança e os reflexos contra imprevistos.
Ensinar uma aluna menina ou mulher é mais fácil para uma professora mulher, na sua visão?
Olha, a metodologia de ensino é a mesma, e eu jamais desvalorizo uma turma dirigida por um homem, mesmo porque aprendi com eles. Mas percebo que sim, o modo de lidar com as alunas pode ter sutilezas e diferenças. Por exemplo, na parte do diálogo, da interação, da percepção e solução de problemas… Creio que uma turma dirigida por uma mulher tenha uma dinâmica muito melhor para as alunas, pela facilidade de comunicação e entendimento entre elas. Acredito que a aula pode fluir bem melhor.
Você é uma competidora cheia de medalhas douradas. Os reflexos talhados nos campeonatos mudaram sua mentalidade de professora?
Creio que sim. Uma disputa que mexeu muito comigo, por exemplo, foi o ADCC 2017, tanto o evento internacional na Finlândia quanto a seletiva. Aquele torneio envolveu todo um processo de preparação, com treinos fortes e lutas muito duras, contra as melhores do mundo. Eu creio que ali estava na minha melhor fase, e aprendi muito. Com aquela competição, pude ver que eu estou entre as melhores lutadoras do planeta.
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