[ Texto: Willian von Söhsten – Jornalista com pós-graduação em semiótica, faixa-preta de Cícero Costha e professor de Jiu-Jitsu da Team Nogueira em Ribeirão Preto, SP ]
O triângulo não é um golpe exclusivo do Jiu-Jitsu brasileiro, ou sequer é invenção nossa. Mas a técnica de envolver o pescoço do oponente com as pernas passou a ser um grande cartão de visitas da arte suave. Por algum motivo, o nosso amado triângulo encontrou em solo brasileiro as condições ideais para proliferar, e ser aperfeiçoado. Alguns dos motivos? Sua eficácia e sua capacidade de amansar qualquer ofensor grandalhão.
Em artigo recente publicado no site dos irmãos Valente, o faixa-preta Julian Ortega relembrou a origem da técnica.
No judô, ele é conhecido como sankaku jime, ou “estrangulamento através do triângulo” na tradução. É difícil dizer quem de fato inventou o golpe, mas pesquisas apontam para o mestre Tsunetane Oda, um dos seguidores de Jigoro Kano que mais gostava de treinar no solo. Mestre Oda é também um dos principais nomes no Kosen Judô, uma vertente mais focada nas lutas de chão, porém ligada a Kodokan, como uma escola dentro de outra.
Ao que tudo indica, o triângulo começou sua trajetória nos dojôs de Jiu-Jitsu graças à inquietude de Rolls Gracie, que sempre ávido por aprender novas técnicas teria redescoberto o movimento num livro antigo de judô.
Grande mestre Pedro Valente era um que corroborava com a história: o faixa-vermelha afirmava que jamais vira o golpe ser executado pelos membros da família Gracie antes da década de 1970, apesar de registros em jornais mostrarem que a técnica era de fato conhecida por lutadores japoneses que viviam no Brasil, como Geo Omori, Takeo Yano e Yasuichi Ono.
Ono chegou a enfrentar Helio Gracie em 1935, e o jornal que anunciava o combate veiculava foto do japonês aplicando o estrangulamento com as pernas durante um de seus treinos. A luta entre Ono e Helio, por sinal, terminou empatada.
Um dos vídeos mais antigos onde o triângulo é documentado data de 1954. A cena mostra o mestre Tsunetane Oda aplicando um grande número de variações da técnica. É possível perceber que na execução do movimento com as costas no chão o braço do adversário não fica cruzado, mas reto, pronto para se aplicar uma chave de braço. Muitos vídeos posteriores a este mostram o triângulo sendo executado da mesma forma.
Por isso, ao que tudo indica, o Jiu-Jitsu brasileiro foi o responsável por refinar o golpe, uma vez que o ato de cruzar o braço do adversário diminui o espaço entre o ombro e o pescoço, aumentando consideravelmente a pressão exercida pelas pernas no entorno da garganta.
A fama viria mesmo por obra de Royce Gracie, quando este enlaçou Dan Severn no UFC 4, em 1994, deixando o mundo chocado ao ver o jovem atleta de 79kg esganar o veterano de 115kg com as pernas. Desde então o triângulo tem sido marca registrada dos lutadores de Jiu-Jitsu mundo afora.
E você, amigo leitor, sabe aplicar quantas variações deste temível golpe ancestral?
*** Artigo publicado originalmente em GRACIEMAG #241. Para não perder as melhores reportagens sobre o passado e o presente do Jiu-Jitsu, assine logo sua revista favorita, aqui.
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