No mês passado, o professor Cássio Francis viu um de seus atletas mais promissores deixar o time, em Minas Gerais. O líder do Cassão Team, no entanto, reagiu de maneira inesperada. Não só apoiou a troca e o novo caminho de seu faixa-roxa, Kevin Alencar, como refletiu sobre o profissionalismo, as escolhas de vida de cada pessoa e o velho termo “creonte”, que para ele não se aplica ao caso.
“Gratidão não é sinônimo de escravidão”, explica Cassão, em papo exclusivo com o GRACIEMAG.com. “Ele tem de ir, e de cabeça erguida. Não está fazendo nada de errado. Afinal, escolhas são necessárias na vida de qualquer um. E serão importantes na formação da pessoa e vão pesar no sucesso no futuro”.
GRACIEMAG: Um de seus melhores alunos, faixa-roxa, recebeu uma proposta e você encarou com tranquilidade. Como tudo se passou?
CASSÃO FRANCIS: Foi isso, o Kevin Alencar venceu recentemente três lutadores muito bons e foi convidado para defender outra escuderia. Para ser absolutamente sincero, perder um aluno é uma das piores sensações para o professor de Jiu-Jitsu – quando eles chegam, não sabem nem o que é lado direto ou esquerdo, e você mostra tudo, forma a pessoa, lapida suas técnicas, fortalece seu espírito e um dia ele se torna um ótimo atleta. E um dia vem outra equipe e tira o cara de você. Então o importante é não ver o episódio apenas pelo seu ponto de vista, mas tentando enxergar pelo lado do aluno.
Que conselho você deu a ele?
Bem, se o mestre percebe que no outro dojo ele vai ter mais estrutura, mais recursos e mais condições financeiras para ser um campeão, temos de aceitar e dar força. Ele fez tudo certo, conversou comigo, e eu o aconselhei a ir. O Kevin é um garoto que veio do interior da Bahia para correr atrás de um sonho, e nosso sonho é o dele. Antigamente nada disso era visto com bons olhos em nossa arte, mas estamos vivendo tempos de profissionalismo.
A primeira atitude do atleta que recebe esse tipo de convite continua sendo ir conversar com o mestre, certo?
Exatamente. Se o seu treinador for mesmo um mestre, em todos os sentidos da palavra, vai pensar no melhor para o garoto. O mestre verdadeiro é capaz de olhar a necessidade do próximo. Agora, é importante lembrar também que algumas propostas não serão boas, é preciso dizer não também. Pelo lado do professor, basta entender que gratidão não é escravidão, e lealdade não é uma corrente no pé. Um aluno pode não estar mais treinando na sua equipe e mesmo assim continuar carregando uma gratidão imensa por você. Se o mestre apoiar a decisão certa, o atleta vai lembrar dele e carregar seus ensinamentos pelo resto da vida.
Perfeito. Mas como evitar que a equipe e os colegas sintam essa saída?
É tudo uma questão de conscientização, de conversar com o pessoal. Mas sinto que, quando algo assim acontece, os atletas se tornam muito mais seguros, cientes de que, quando estiverem em alguma encruzilhada similar e precisarem de conselhos, terão a confiança de que estaremos prontos para direcioná-los da melhor maneira, de fazer por eles o mesmo que fizemos antes. Falei aos alunos que, se houve uma proposta irrecusável para um dos nossos, é porque a equipe faz um trabalho ideal ao lapidar e desenvolver talentos. E que, se continuarmos no caminho certo, os próximos campeões brasileiros, como o Kevin, podem ser eles.
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