O encerramento da seletiva de Gramado para o torneio profissional de Abu Dhabi, o WPJJC 2014, marcou os torcedores no ginásio José Francisco Perini, o Perinão, neste domingo 16 de fevereiro.
Pela primeira vez, uma categoria específica foi criada para atletas portadores de necessidades especiais. Durante uma pausa entre as lutas do absoluto, uma solenidade lançou o Jiu-Jitsu Mais, como a novidade vai ser chamada pelos organizadores.
“É importante, porque serve de estímulo e inspiração. Muitos atletas deficientes treinam nas mais diversas academias do país, mas não se animam a competir porque não existe espaço. Nós só temos a agradecer por essa oportunidade. Espero que sirva de exemplo”, comemorou o pernambucano Hugo Oliveira, de 31 anos, que perdeu os movimentos das pernas quando tinha 28 ao lesionar a coluna enquanto realizava exercícios de musculação.
Outro exemplo de superação, Kelvin Clay, faixa-azul da GB Brasília, tem atrofia muscular desde que nasceu. Deixou a capital e veio a Gramado com duas missões: ganhar e ajudar a categoria crescer.
“Temos de abrir essa porta e manter o caminho livre. Foi uma atitude importante e que mostra que temos condições de ter uma categoria própria”, disse o jovem de 18 anos, que ainda tentou uma vaga em Abu Dhabi no absoluto leve, mas acabou perdendo por 4 a 3, sendo ovacionado pelo público.
Uma das lutas de Kelvin foi contra Yves Carbinatti (Atos), paraplégico há uma década após um acidente de carro. Com 27 anos, pratica Jiu-Jitsu desde os 13. Pela forte relação com o esporte (ainda luta boxe e corre de kart), o aluno de Ramon Lemos foi indicado pela organização como o embaixador da categoria. O combate emocionante arrancou lágrimas de espectadores.
“Tentamos fazer o que todos fazem, mas temos de superar nossas dificuldades. Acho que isso sensibiliza as pessoas. Se você acredita, pode conseguir o que quiser. É isso que buscamos todos os dias”, resumiu Yves, natural de Rio Claro, São Paulo.
Faixa-preta e árbitro de competições há cinco anos, Carlos Ferro foi o responsável pelo combate entre Yves e Kelvin. Não negou a emoção ao ver a entrega dos atletas. Os três trocaram longos abraços antes de ser anunciada a vitória de Yves.
“Fico emocionado pela esperança que eles transmitem. Nos trazem novos horizontes. Foi inesquecível”, contou Ferro.
Único representante do Rio Grande do Sul na categoria especial, Guilherme Vianna tem 22 anos. Com deficiência mental, encontrou no esporte uma maneira de levar uma vida mais saudável e de se relacionar com as pessoas.
“Comecei a treinar Jiu-Jitsu há quatro meses. Foi bom porque emagreci, melhorei o preparo físico e agora tenho amigos. E uma medalha (risos)”, disse Guilherme.
No meio da tarde, lutas de exibição reuniram os astros Rodolfo Vieira e Michael Langhi e os atletas da categoria Jiu-Jitsu Mais. Em pé, o público que lotava o ginásio em Gramado aplaudiu com entusiasmo o encontro emocionante.
“Se eles acham que rolar com a gente foi um privilégio, posso dizer que a alegria foi toda nossa”, disse Langhi, após ser raspado e até batucar no braço para um dos jovens guerreiros.
“Foi um dia fantástico, com emoções fortes. Espero que seja o primeiro movimento por uma inclusão definitiva dos atletas com algum tipo de deficiência. Ainda temos de evoluir em termos de organização, mas temos certeza do que queremos. Há espaço. Temos que ter coragem para fazer”, analisou Fernando Paradeda, sócio da Pro Sports, empresa que organiza as seletivas na América Latina ao WPJJCC 2014.
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