Em número recente da sua revista de Jiu-Jitsu predileta, a edição #239 de GRACIEMAG, nossa equipe publicou uma entrevista saborosa e instrutiva com um dos mais experientes mestres da arte suave. O faixa-vermelha João Alberto Barreto, mais de 65 anos de Jiu-Jitsu na bagagem, bateu um longo papo com o repórter Marcelo Dunlop, e deixou preciosas lições sobre dedicação e psicologia aplicada aos treinos.
Confira um trechinho a seguir. Assine GRACIEMAG para receber lições valiosas todo mês, sem precisar sair de casa ou do celular.
GRACIEMAG: Mestre, você se especializou em psicologia esportiva, e em seus livros destaca a importância dos pensamentos positivos para vencer desafios. O que sugere ao leitor para ter uma mente forte?
JOÃO ALBERTO BARRETO: O lutador que teme o oponente é como o cobrador que treme antes de cobrar o pênalti no futebol, que enxerga o goleiro com o dobro do tamanho ou então as traves encolhidas. Os grandes competidores conseguem manter a mente num ponto vazio na hora da verdade, porque confiam que o treinamento e a preparação já foi feita. Costumo dizer que o lutador deve encarar seus desafios como o primeiro e o último. Foco total no presente. O diplomata e escritor sueco Dag Hammarskjöld um dia ensinou: “Não olhes para trás. Nem tão pouco sonhes com o futuro. Isso não te devolverá o passado, nem satisfará teus outros devaneios. Teu dever, tua recompensa – teu destino – estão aqui e no momento presente.”
Poderia dar um exemplo prático de como fazer uso do pensamento positivo e evitar os maus pensamentos?
Olha, lembro de uma conversa que tive com o Vitor Belfort, após uma derrota no Japão. Ele perdeu para o holandês Alistair Overeem (em 2005) numa guilhotina improvável. Na volta ele me telefonou. A primeira pergunta que fiz a ele: “No que você estava pensando quando a luta começou?”. Ele respondeu que estava focado na joelhada perigosa do Overeem, que por ser mais alto era uma ameaça e tanto ao Vitor. Com a mente inundada por aquela ameaça, ele não conseguiu mentalizar o que ele precisava fazer para vencer. Só pensava no que não fazer para não perder. O resultado disso acaba sendo a derrota.
Você foi árbitro do primeiro UFC, com seu amigo Hélio Vígio (1934–2016). Que lembrança agradável tem dele?
Ah, ele foi meu grande irmãozinho. Fizemos amizade no Colégio Militar no Rio de Janeiro, eu já praticava Jiu-Jitsu e certo dia o levei para treinar com o Helio Gracie. Ele era valente desde os tempos de escola. Uma garotada do colégio Pedro II passava em frente ao nosso portão e zombava da nossa sigla, CM. Eles provocavam que CM queria dizer “Cachorrinhos Matriculados”, e passavam pela porta assobiando para nós, sacaneando a gente como se fôssemos cachorrinhos. O Hélio Vígio não queria saber, e partia para cima (risos).
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