A reportagem de GRACIEMAG tentou pegar Augusto Mendes ainda com a adrenalina correndo pelo corpo depois do ADCC 2019, encerrado dia 29 de setembro na Califórnia, e pelo Whatss entrou em contato: “Arrebentou! Falta algum título agora?”. O campeão até 66kg do mais charmoso evento de luta agarrada do mundo devolveu na hora: “Não! Acho que agora zerei a porra toda”, e riu muito.
Após quatro grandes lutas na categoria mais leve do ADCC, o faixa-preta da Soul Fighters falou com o editor Marcelo Dunlop e contou como o UFC e os treinos de alto nível o ajudaram a “zerar” os títulos no Jiu-Jitsu. Confira!
GRACIEMAG: No Mundial de Jiu-Jitsu 2013 você precisou superar caras como Rubens Cobrinha e Rafa Mendes até o ouro. Desta vez, venceu o filho de Cobrinha na final, Kennedy Maciel. Quais os outros paralelos entre as duas conquistas?
AUGUSTO TANQUINHO: Vencer no Jiu-Jitsu exige aquela história de entrar na mente do adversário, você precisa tentar desequilibrar seus principais rivais mentalmente. E para isso você precisa estar mentalmente muito forte. No Mundial 2013 eu consegui sair na frente do placar em todas as lutas, mas além da parte técnica a cabeça estava no ponto certo, e só assim consegui vencer o Rafa e o Cobrinha. Já no ADCC 2019, creio que minha maturidade fez diferença – já enfrentei inúmeras gerações no Jiu-Jitsu e ainda estou aí. Então, por incrível que pareça, ser mais velho fez a diferença. Nos tapetes do ADCC eu me senti mais inteligente, estratégico, calmo, técnico e com o físico em dia do que em outras competições. Estava completo e pronto e alguns dos meninos que enfrentei ainda vão passar por algumas dessas etapas. Foram duas épocas diferentes mas duas sensações indescritíveis. Ser o melhor do mundo novamente é especial.
Como o fato de você ser lutador do UFC o ajudou a chegar ao título?
O treinamento de wrestling foi o aspecto principal que fez diferença. Ao ser capaz de treinar com wrestlers de alto nível aqui nos EUA, isso solidificou muito a minha parte em pé. Num evento como o ADCC isso faz bastante diferença.
Tudo que funciona no solo do UFC funciona no ADCC?
Não, eu não diria tudo. Técnicas de defesa pessoal e bloqueio são extremamente importantes no octógono. Agora, se um campeão do ADCC treinar MMA e achar uma brecha, vai dificultar para qualquer atleta do UFC. O problema no MMA é que quando entra a pancada tem gente que esquece do Jiu-Jitsu, por isso é preciso estar esperando tudo.
Qual foi seu duelo mais duro no ADCC 2019?
Acredito que a luta contra o Paulo Miyao foi a mais dura. O Paulo é incrível, não desiste nunca, você não o quebra mentalmente, a técnica dele é absurda. Eu vejo muito poucos pontos fracos no jogo dele, então creio que o venci mais na vontade e no coração mesmo.
E o Kennedy? O jogo lembra o do pai Cobrinha?
Difícil falar porque só tive a chance de lutar uma vez com o Kennedy. Já com o Cobrinha foram sete lutas (está 4 a 3 para ele). Mas o pouco que senti foi que eles têm similaridades sim, mas senti que muita coisa é do próprio Kennedy. O Cobrinha me deixava mais nervoso sendo o coach na luta do que o próprio Kennedy lutando. Tudo o que ele falava e observava dos meus erros e espaços eram muito ricos em detalhes, foi incrível. Talvez se fosse ele ali eu não teria a chance de me recuperar a cada espaço. Enfim, me sinto um privilegiado de enfrentar pai e filho num alto nível como enfrentei os dois. Respeito total pela família Maciel.
Como esse título muda sua carreira, se muda?
De verdade não sei, está muito cedo ainda para saber, talvez mude, talvez o mundo do MMA queira saber mais de mim e consiga algum contrato bom num evento melhor, talvez mais pessoas queiram aprender comigo em seminários, mas de verdade fico feliz de entrar numa lista única de pouquíssimas pessoas que foram campeãs faixa-preta no Mundial da IBJJF, no Mundial Sem Kimono da IBJJF e do ADCC. E se contar os que ganharam também o World Pro em Abu Dhabi, essa lista fica menor ainda. Então fico feliz de cravar o meu nome na história do esporte.
O que achou da final do absoluto? Por que Gordon Ryan frustra os melhores do pano, na sua visão de professor?
Simples, porque ele pode até falar muito mas ele treina muito, e nada bate o trabalho duro na academia. Talvez os melhores do pano estejam pecando no seu treinamento e acabam falhando quando enfrentam alguém bem treinado, pode ser um aspecto. E o gringo é bom demais, tem de tirar o chapéu para ele, ninguém fica nesse nível sem dedicação e esforço.
Qual o seu plano agora?
Treinar mais! E agradecer ao carinho dos fãs comigo e com a minha carreira, são mais de 20 anos competindo em alto nível, 15 como faixa-preta, e ainda estou entre os melhores. Só gratidão!
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