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A força versus a técnica no Jiu-Jitsu, por Alexandre Café

Café no auge da forma física, durante campanha vitoriosa na Copa Cyclone de Submission, em 2004: para o faixa-preta, a técnica sempre será superior à força, como mestres Carlos e Helio Gracie ensinaram. Mas o ideal é que elas hoje caminhem juntas.

* Artigo publicado originalmente nas páginas da GRACIEMAG #242. Para mais conteúdos exclusivos com o melhor do Jiu-Jitsu mundial, assine a revista mais tradicional do esporte em formato digital *

Texto: Alexandre “Café” Dantas

O assunto tratado neste artigo é um dos maiores dilemas do Jiu-Jitsu brasileiro: o uso da força em detrimento da técnica nos treinos e/ou nas competições.

Entendemos como natural que o praticante iniciante utilize a força para suplantar sua falta de conhecimento da maioria das técnicas de ataque e de defesa. Porém, em sua essência, Jiu-Jitsu é a arte suave. Seu conceito principal é “máxima eficiência com o mínimo de esforço”. Nesse sentido, o lutador que faz muita força nas lutas é visto como uma espécie de atleta com pouco mérito. Que ainda falta muito a refinar em seu jogo.

Na academia, o praticante que faz muita força acaba ficando com poucos parceiros de treino, pois, involuntariamente, machuca os companheiros. E nas competições, seus feitos são vistos como uma espécie de fraude, como medalhas conquistadas apenas graças a sua força física. E a frase se repete nas arquibancadas: “Fulano ganhou de sicrano porque é bombado! Aí, é fácil!”. Mas tudo isso está longe de ser uma verdade absoluta. O fato é que não necessariamente aquele lutador que tem uma compleição robusta é fraco de técnica. Quem pensa assim 100% das vezes pode estar caindo num preconceito.

Posso afirmar isso, pois eu mesmo já sofri esse tipo de discriminação. Acostumado a vencer a maioria dos campeonatos na categoria superpesado, e a fechar vários pesos pesadíssimos e absolutos, com companheiros de treino como meu antigo parceiro de Gracie Barra Márcio “Pé de Pano” Cruz, eu logo comecei a escutar indiretas e acusações de que minhas conquistas eram baseadas simplesmente na força, ou seja, que meu Jiu-Jitsu no fundo era “inferior”.

Ouvir acusações desse tipo deixa qualquer um tomado de ira. Mas, em vez de ir “cobrar” aqueles que espalhavam tais fofocas, resolvi provar a minha verdade. Decidi baixar de peso e competir em meu campeonato oficial de despedida, o Mundial 2006 da IBJJF, no peso meio-pesado. Pois bem. Minha atuação foi tão boa como quando eu estava com 105 kg. Sobrepujei os mesmos atletas que derrotara em absolutos passados, e saí do Tijuca como campeão ao “fechar” o peso com meus companheiros Romulo Barral, Bráulio Estima “Carcará” e Delson Heleno “Pé de Chumbo”. Dominamos o pódio.

Alexandre Café no triunfo em cima de Marcelo Garcia, no Brasileiro de Equipes de 2002: para diferenciar força de grosseria, os praticantes de Jiu-Jitsu devem prezar e respeitar os conceitos de alavanca nos tatames.

Mas, e no caso do praticante iniciante? Como fazer que o aluno faixa-branca utilize cada vez menos força em seus treinos? O primeiro ponto é fazê-lo compreender, na teoria e na prática, que o BJJ se desenrola por meio de alavancas que, em sua grande maioria, são executadas sem qualquer necessidade de aplicação de força. A não utilização gradativa da força vai desenvolver cada vez mais a técnica do lutador, e consequentemente, sua faixa vai “escurecer” com naturalidade.

Seja como for, de maneira nenhuma quero dizer que a força não é um aspecto importante para um lutador. Os benefícios de uma pujança física são inúmeros, desde a prevenção a lesões até como um aspecto de preponderância entre atletas que têm nível técnico e gás parecidos. Vejo a musculação, quando respeitada a individualidade físico/corporal de cada um, como uma grande aliada para o lutador de Jiu-Jitsu. O principal macete é malhar sem se descuidar do alongamento e do treino aeróbico.

Mas, afinal, o que vale mais, força ou técnica? Não tenho dúvidas: a resposta sempre será que a técnica há de prevalecer. Nossos “pais fundadores” do Jiu-Jitsu brasileiro eram pequenos e franzinos. Os grandes mestres Carlos Gracie e Helio Gracie utilizavam as técnicas do BJJ para derrotar adversários muito maiores e mais fortes. Porém, na sua grande maioria, eram rivais leigos na “luta de chão”, desconhecedores da ciência do Jiu-Jitsu.

Com o tempo, devido à grande disseminação que a arte suave alcançou, tornou-se cada vez mais difícil encontrarmos lutadores sem conhecimento nenhum das técnicas popularizadas pela família Gracie. Por isso, hoje a força física se tornou um elemento crucial para que o lutador moderno atinja seus objetivos dentro do esporte.

Portanto, não negligencie seus treinos: a força e a técnica podem e devem andar juntas, para sua caminhada ser mais longa – e você se tornar um lutador mais completo.

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