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A arte de vencer um favorito no Jiu-Jitsu, com Vinicius “Trator” Ferreira

Trator com o braço erguido após a vitória sobre Kaynan no Brasileiro 2019. Foto: IBJJF/Focados no Tatame

Campeão peso pesado do Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu 2019, realizado no início de maio, em Barueri, Vinicius “Trator” Ferreira teve de passar por algumas provações até o ouro. Com poucas horas de sono disponíveis e um adversário indigesto na sua chave, Trator teve força de vontade de sobra para superar ambos os desafios e fechar a final com o companheiro de treinos Dimitrius Souza para a Alliance.

Antes de ficar com a vaga a finalíssima, Trator, que estava na correria para se mudar para Nova York, teve de encarar o antigo rival Kaynan Duarte, que vinha embalado por grandes conquistas na faixa-preta. Pois Trator foi pra cima, manteve a base sólida e superou o adversário de tantos anos.

Confira como ele fez, na entrevista exclusiva dada a GRACIEMAG:

GRACIEMAG: Como foi a doce tarefa de dividir o prêmio no Brasileiro com o Dimitri?
Vinicius Trator: A gente na verdade nem conversou antes sobre isso. Estávamos focados em lutar. Quando chegamos de fato juntos à final, dividimos numa boa – nós somos bem próximos, não houve problema. Sabemos bem como é o dia a dia um do outro. Ele já foi campeão brasileiro, eu cheguei há pouco, então sou grato a ele por ter deixado eu ficar com o ouro. Pensando bem eu devia até ter dado um pouquinho mais do prêmio para ele, né? (Risos!)

Você viu logo que o Kaynan estava na sua chave. Como fez para ignorar isso e pensar luta a luta, degrau a degrau?
Não tive preocupação com isso. Eu treino muito e sei que posso enfrentar qualquer um. Nunca me abalo pensando nos adversários duros que eu possa encontrar. Dou um passo por vez, e isso é muito importante para as minhas campanhas. Não fico olhando lá na frente. Às vezes a gente até olha por curiosidade (risos), mas não para pensar na frente, é sempre um passo por vez. Não importa o meu adversário, eu sempre dou o meu melhor. E acho que é importante ter uns caras muito duros na chave, pois é o que nos força a evoluir e trabalhar a mente.

Como você procurou anular o jogo do Kaynan?
Para anular o jogo dele eu não pensei em muita coisa não, só ajustei alguns detalhes de coisas que eu vi que estava errando. Por exemplo, recordei do meu duelo com ele no Spyder, em Seul, no ano passado, e tentei consertar isso. Acredito que, mesmo sem pontuar, anulei o jogo dele e evoluí bastante mentalmente, passei agora a lutar mais inteligente.

E você estava mal dormido. Conte como fez para ignorar o sono durante o Brasileiro em Barueri.
Isso, acabei de me mudar para os Estados Unidos, e estava resolvendo muitas coisas ao mesmo tempo. Se eu dormi um total de 20 horas naquela semana do Brasileiro foi muito. Estava ansioso com a resolução de algumas coisas, fico sempre pensando na cama. Um dia antes do Brasileiro, e do sábado para o domingo, eu dormi três horas por noite. Mas antes disso treinei forte. O engraçado é que tudo isso pode ter me ajudado, pois não senti um pingo de adrenalina no campeonato. A vontade de vencer e a confiança em mim mesmo me fizeram seguir em frente e não pensar muito. O problema é que, na segunda-feira, estava todo quebrado, e ainda fui dar aula para me despedir dos meus alunos. Mas no fim deu certo.

Qual foi o momento chave na luta com o Kaynan?
Eu toquei no kimono dele e já senti que eu estava bem na luta, estava me sentindo ótimo. Ele me chamou na guarda e tentou me raspar, mas a minha base estava boa. “Hoje ele não me raspa”, pensei. Quase cheguei na lateral uma hora na luta, foi um duelo sem erros, muito justo, e tentei me posicionar bem no meio dos ataques dele, e numa dessas eu quase cheguei. Senti que dava e essa tentativa me fez chegar na meia-guarda. Depois dessa luta eu entendi que posso mesmo ganhar de qualquer um.

Você e ele já lutaram quantas vezes?
Já lutamos umas dez vezes, desde o juvenil. Fico feliz em ver o quanto ele está crescendo no esporte, e enfrentar o Kaynan desde o início da carreira, a gente ali se testando ao longo da jornada foi muito legal. A primeira vez em que ficamos frente a frente foi em 2011, na faixa-azul!

Qual seria a sua lição para o leitor que vai enfrentar um favorito?
Primeiramente você tem de acreditar em si mesmo. É o primeiro passo. Existem várias formas de se preparar mentalmente, mas o principal é fazer o seu melhor nos treinos, trabalhar duro e entrar para lutar com a cabeça forte, pensando apenas em ganhar e dar o melhor de si no duelo – se você treinou, é possível ganhar de qualquer um. É aquilo, ninguém é invencível, então basta acreditar em você mesmo e lutar o que sabe. Às vezes as pessoas falam dos méritos, que alguém é bom nisso e aquilo, ganhou desse e de outro atleta, mas a realidade é que ninguém é imbatível. Se você der o melhor de si e acreditar em você, você pode ganhar de qualquer um. Outra dica: rejeite as palavras negativas, pois elas vêm na cabeça com força. Mas você tem de ser mais forte e espantar essa escuridão que por vezes aparece. Acredite em você e pense positivo!

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