Um espectro ronda os dojôs de Jiu-Jitsu de todo o planeta – o fantasma da estagnação. É uma assombração normal nas academias, irmã gêmea da evolução, mas que ainda é capaz de assustar muita gente. E que ainda leva muita gente promissora a desistir dos treinos.
Começa a aparecer com um, dois anos de academia. Ele surge depois da empolgação inicial, quando o praticante começa a beliscar boas atuações aqui e ali contra mais graduados. Não mais que de repente, depois de um amasso ou de um mau treino, o faixa-branca ou azul se vê num labirinto: para onde vou? O que faço para largar este patamar e subir mais um degrau? Por que minha determinada técnica não está mais dando certo como costumava? A boa notícia é que tais indagações são mais comuns numa academia do que os rolos de esparadrapo e os chinelos à beira do tatame.
A seguir, ajudamos o leitor a reconhecer o problema na hora certa, e especialmente alguns métodos simples e eficientes para contra-atacar e pegar logo a próxima faixa.
1. Mudanças pequenas, grandes resultados
Antes de tomar medidas drásticas como mudar de academia ou, pior, largar o kimono no fundo do armário, procure avaliar com honestidade os sintomas de sua estagnação. Primeiro é preciso observar sua rotina: você chega aos treinos na hora certa? Você fica atento ao treino dos mais graduados? Quando você cai numa posição ruim, você pede ajuda aos instrutores ou praticantes experientes para perceber no que está errando? Lembre da lição de Roger Gracie, o monstro das competições: “Há sempre um pequeno detalhe a ser descoberto capaz de fazer uma diferença gigantesca no seu jogo”.
2. Medindo a estagnação
OK, você tem feito tudo corretinho. Não se rende ao sofá, treina de duas a três vezes por semana sem falta, presta máxima atenção ao mestre. Mesmo assim, faz meses que não vem um grauzinho, o povo passa sua guarda de todos os jeitos, e o professor parece que nem sabe o seu nome. Calma: o lado bom de tudo isso é que muitos craques do Jiu-Jitsu passaram por essa situação. De fato, muitos atletas reconhecidos por suas técnicas de defesa só a desenvolveram por terem batucado muito nas divisões de base. O melhor termômetro para você medir sua evolução não é olhar para sua faixa nem para o companheiro de treino voando ao seu lado lado; afinal, cada um tem uma velocidade de aprendizado, uma compleição física e mais ou menos tempo para treinar. Olhe, então, para si mesmo: repare em como você estava quando chegou, sua movimentação, o seu fôlego, sua autoestima. Olhar para você ontem é o melhor modo de perceber quanta estrada você já percorreu. Persevere! “Tenha suas metas, mas saiba viver um dia por vez”, prega o campeão da Alliance Dimitrius Souza. “Tente ser o melhor que puder todos os dias, com dedicação.”
3. Empacou? Dê um arranque e saia da lama
Fique tranquilo: é normal sentir dificuldades numa dada posição. Muitos campeões consagrados, como Vitor Shaolin, Gilbert Durinho e Rodolfo Vieira, contam histórias de técnicas que não conseguiam executar propriamente, obstáculos atravessados com conselhos e treinos de repetição. Não fique aflito com o problema, pense em maneiras de solucionar e você terá feito do limão uma saborosa limonada. Dicas para dar um arranque quando se sentir empacado: invista numa aula particular e aprofunde suas dúvidas. Compareça a seminários de lutadores com um estilo que você admire. E a mais eficiente, apesar de evitada: treine com os melhores da academia, enfrente o perigo de frente, e aprenda com os erros.
4. Sua vida, suas metas
A estagnação, seja no Jiu-Jitsu, no trabalho ou na vida pessoal, normalmente ocorre quando não entendemos o que desejamos. Qual é sua meta? O que você realmente almeja? Procure entender isso no dojô, ao subir as escadas para a academia: quero aprender a me defender? Quero ser um competidor? Quero me divertir com meus filhos e esposa no treininho? Quero fazer amigos e ter uma vida saudável? Pois é, dependendo de sua real motivação, o ambiente da sua academia pode não ser o ideal para você. Converse com seus mestres, troque ideia com amigos e visite outras academias antes de desistir do Jiu-Jitsu de vez.
5. O recurso do casa-jitsu
Muitos graduados e leitores de GRACIEMAG tiveram problemas com estagnação, e remediaram o problema não trocando de professores, mas pedindo ajuda. A quem? A amigos, vizinhos, colegas de turma mais experientes e familiares que treinam há mais tempo. Muitos problemas de praticantes estagnados já foram solucionados num tapete de casa ou num tatame na casa de amigos, no que é chamado popularmente de casa-jitsu. É como levar o carro à oficina: arrume alguém de confiança e explique que ruídos há no seu jogo. A solução e as dicas podem ser mais simples do que você suspeitava.
6. Use as férias para refletir, mas leve o kimono
Pintou uma viagem, perfeita para relaxar o corpo e a mente? Aproveite a temporada para descansar a carcaça e pensar em seus pontos fortes e fracos na academia. Anote num caderninho ou no celular. Este tempinho fora do dojô pode até ser um antídoto para a estagnação: muitas vezes o praticante está rendendo pouco pois está treinando forte demais, o famoso overtraining. Seja como for, leve sempre o kimono para o caso de encontrar uma academia legal e fazer amigos. Com a mente aberta para o novo, típica dos turistas, você pode absorver algum ensinamento que nunca tinha percebido antes.
7. Ajude o professor
O craque do UFC Demian Maia era um faixa-marrom duro, mas só desenvolveu seu potencial e aprimorou os detalhes quando topou auxiliar seu professor, Fabio Gurgel, em várias aulas particulares. Ofereça ajuda ao seus instrutores, e aprenda com a dúvida dos outros.
8. Distraia a ansiedade
A pressão por melhorar e conseguir executar técnicas básicas com perfeição pode ser um fardo para o praticante assombrado pela estagnação. Lembre-se que a evolução caminha lado a lado com a diversão. Procure não se cobrar tanto, e de noite busque livros e filmes leves sobre mestres, alunos e aprendizado em geral. “Cada fracasso ensina ao homem algo que ele precisava aprender”, já disse o escritor Charles Dickens. O corpo vai aonde o cérebro empurra. Não se desespere jamais, pois a caminhada é longa e todo samurai já foi um aprendiz atrapalhado.
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