Entre julho e dezembro do ano 2000, o YouTube só existia na cabeça de seus criadores, o UFC era um evento maldito, o canal Combate ainda não fora fundado e a internet apenas engatinhava. Os fãs de Jiu-Jitsu recorriam então a fitas VHS, iam aos ginásios para ver os torneios ao vivo ou assistiam a eventuais programas sobre a modalidade no canal por assinatura Sportv. Para o público em geral, no entanto, o BJJ passava batido. Era como se não existisse.
Até que a MTV Brasil, canal já extinto, criou seu reality show, chamado “20 e poucos anos”, e escalou um certo Fernando Pontes, um jovem paulista de 20 anos, que desde o primeiro episódio do seriado aparecia de kimono e apresentava seus pitbulls que subiam em árvores. Era o estilo de vida dos lutadores de Jiu-Jitsu começando a chegar a qualquer cidadezinha do Brasil via satélite. “Eu jamais ouvira falar do esporte até ver o Margarida na MTV. Quis ser lutador inspirado nele”, confirma o campeão mundial Lucas Lepri, mineirinho de Uberlândia.
Antes da fama na telinha, porém, Fernando já aparecia nas páginas de GRACIEMAG, sempre de olho vivo nos talentos promissores. Pesquisando nos nossos arquivos, encontramos uma reportagem de janeiro de 1999, quando o craque ainda era faixa-roxa e, apesar da graduação intermediária, já conquistava destaque em nossas páginas, por conta de seu Jiu-Jitsu vistoso e dos resultados expressivos.
Na cobertura daquele longínquo Pan, realizado no Centro de Convenções do Hotel Hyatt de Miami Downtown, na Flórida, lia-se a manchete: “Margarida cumpre a promessa: campeão meio-pesado e absoluto.” Narramos assim:
Sem dúvida Fernando Pontes, da academia Godói/ Macaco, foi o maior destaque da faixa-roxa. Com um Jiu-Jitsu solto e finalizador, o lutador esticou o braço dos adversários e, enquanto estavam todos muito cansados, visto que o absoluto da faixa-roxa foi a última categoria a ser disputada (lá pelas 4h da manhã), Margarida insistia para ser chamado de volta aos tatames, chegando a lutar a quarta de final do aberto em seguida (sem descanso) à dificílima batalha final no meio-pesado com o campeão mundial Erik Wanderley. O paulista estava disposto a cumprir a promessa feita quatro dias antes na hora do embarque no aeroporto de São Paulo: “Vou levar meu peso e o absoluto da faixa-roxa neste Pan”, apostou.
Naquele mesmo evento, só que entre os faixas-pretas, Nino Schembri, da Gracie Barra, foi o campeão meio-pesado e absoluto, consagrando-se como o grande nome da competição. Das arquibancadas, com brilho nos olhos, Margarida observava Nino lutar, como se intuísse que ali estava uma grande referência para ele seguir em termos de estilo e genialidade, mas também como um ícone a ser enfrentado e derrotado.
CAÇANDO OS CAÇADORES
No mundo da competição esportiva, essa característica de “caçar os caçadores” tende a alimentar a evolução técnica e física de quase todos os atletas de relevância. Por um longo período, desafiantes rondam os grandes campeões, aqueles que estão em evidência, sob os holofotes, em pleno auge. Até que, de repente, erguem-se contra os donos do pedaço e tentam tomar-lhes o posto de rei.
Em 2005, por exemplo, Margarida e suas travessuras tiraram os editores de GRACIEMAG da cama, no meio da madrugada, quando a revista estava indo para a gráfica com uma reportagem especial sobre Marcio Cruz Pé de Pano e seu jogo quase imbatível. O faixa-preta peso pesadíssimo havia acabado de conquistar o tricampeonato na categoria absoluto do Pan (2002/03/05). Eis que, uma semana após o grande feito no evento da IBJJF, Pé foi finalizado por Margarida na final do absoluto de um evento comemorativo dos Yamasaki, o “10th Anniversary Celebration Yamasaki Tournament”.
“Como é que é?”, perguntou um de nossos editores, ao receber a notícia por volta das duas da manhã, sem saber muito bem se o telefonema fazia parte de um sonho ou era real. “Pé de Pano finalizado?”, certificou-se.
Até então, na faixa-preta, Pé de Pano nunca havia dado três tapinhas (ou “batucado”, como Margarida gosta de dizer). O caçador de caçadores comentou seu triunfo via chave de braço: “A luta foi boa, ataquei o tempo inteiro e no único momento em que tive oportunidade de pegá-lo, eu peguei”, lembrou Marga, que agora representava a Brazilian Top Team. “Estou de passagem, mas não a passeio”, brincou.
Outro bamba que Margarida obrigou a dar os três tapinhas pela primeira vez na faixa-preta foi Fabio Gurgel. “Como é que é? Gurgel finalizado?!”, certificou-se novamente o editor de GRACIEMAG, em nosso QG no Rio, ao receber pelo telefone a notícia do repórter que cobria o Pan 2001, direto dos Estados Unidos.
Margarida era assim, autor de feitos que impressionavam tanto os fãs como também a imprensa – além de uma novíssima categoria que nascia naquela época e antecipava a era das redes sociais: os debatedores de Jiu-Jitsu que movimentavam os fóruns na internet pré-Facebook.
Um detalhe que chama atenção no combate contra Gurgel é o tipo de finalização que Margarida aplicou: um estrangulamento da guarda aberta, com mãos cruzadas em X contra as golas inimigas. Sim, aquele estrangulamento que aprendemos nas aulas iniciais de Jiu-Jitsu. O mais simples de todos.
Claro, não há nada de errado com tal estrangulamento, aliás uma das técnicas preferidas do saudoso mestre Helio Gracie. Mas, seja sincero, estudioso leitor: quantas vezes você aplicou esse tipo de estrangulamento nos últimos anos? Quantas vezes você conseguiu finalizar um colega de treinos (com a mesma graduação que você), utilizando esse tipo de estrangulamento?
Pois é… E Margarida aplicou o golpe num campeonato de grand slam e finalizou ninguém menos que o general da Alliance, certamente um dos passadores mais temidos daqueles tempos. Essa, aliás, era uma marca registrada do jogo do astro meio-pesado (até 88kg), a mão cruzada bem firme na gola do paletó do oponente, quebrando sua postura e deixando o seu gogó em alerta. Enquanto isso, a guarda do lutador paulista ficava aberta, permitindo que o adversário se movimentasse e, caso cometesse uma pequena falha, fosse devorado. Uma verdadeira Margarida carnívora.
GÁS INFINITO
Quando por cima, Marga gostava de se movimentar de forma frenética, embrulhando os oponentes com seu giro vertiginoso, dando a impressão que tinha gás infinito. De repente, espetava o joelho na diagonal contra as meia-guardas. Quando passava a guarda, gostava de castigar seus adversários com o joelho na barriga, induzindo as vítimas a se abrirem e deixarem braços e pescoço em situações vulneráveis.
Quando jogava em pé, Margarida chegava a ser petulante. No Mundial 2000, contra o peso pesadíssimo Leonardo Leite, atleta da seleção brasileira de judô, aceitou trocar entradas de quedas pelos dois minutos iniciais. Não chegou perto de desequilibrar Léo, mas também não foi derrubado. A partir do segundo minuto, teve bom senso estratégico e puxou o oponente para a guarda. Raspou e passou a guarda de Léo Leite, avançando para a final do absoluto contra Rodrigo Comprido.
Era o primeiro Mundial de Marga na faixa-preta e ele estava na final do aberto. Buscava, aos 20 anos, cumprir a promessa feita no seriado da MTV: ser campeão mundial e viver do esporte. Rodrigo Comprido, porém, conseguiu domar aquele atrevido garoto de cabelos raspados, queixo pronunciado e olhar marrento de baixo pra cima, típico da juventude da época. Comprido venceu Margarida por 2 a 0, pontuação definida com um single-leg logo nos segundos iniciais do combate.
Apesar de derrotado duas vezes naquele Mundial de 2000 (perdera também a final da categoria meio-pesado, para Roberto Roleta), Marga deixava a tribo do Jiu-Jitsu em alerta para a sua fome finalizadora. Vale constar que, ao longo das chaves daquele evento, Fernando finalizara Flávio Almeida, o Cachorrinho, com um estrangulamento beisebol e esticara o braço de Alexandre Café, dois dos cascas-grossas mais talentosos dos anos 90/00.
“Era uma época em que as lutas costumavam ser mais travadas, pois ninguém queria ser finalizado. Nas categorias mais pesadas e nos campeonatos mais importantes, não havia tantas finalizações como nos dias de hoje”, analisa uma testemunha dos torneios de Jiu-Jitsu da época. “O Margarida começou a mudar isso, abria o jogo e ia para cima de todo mundo, era um conferidor nato. Comentavam nos bastidores: ‘Caramba, o cara não cansa…’. Vários lutadores ficavam amedrontados quando caíam na mesma chave que o Margarida, pois achavam que não teriam gás para dez minutos naquele ritmo dele”.
Além de Margarida, começava a germinar ali uma geração que competiria de forma diferente. Pé de Pano, por exemplo, contemporâneo a Margarida, também era um conferidor que buscava a finalização. Puxava para a guarda e se sentia confortável ali, apesar de ter mais de 100kg. Fernando Tererê é outro expoente dessa safra de lutadores espetaculares. Margarida, contudo, chegou primeiro ao trono absoluto. Com suas lutas movimentadas, em combates lembrava um filme de ação, cheio de reviravoltas, Fernando chegou ao ouro absoluto mundial em 2001.
“Acho que um cara que procura o jogo pra frente, de finalização, que procura simplesmente lutar – aliás, às vezes as pessoas esquecem que o nome do negócio é ‘luta’ -, enfim, um cara que procura isso tudo atrai a plateia que quer ver finalização, a essência da coisa. Portanto, esse tipo de atleta deve ser valorizado”, disse Fernando, certa vez, à nossa reportagem. Não foi sem luta que Marga conquistaria seu principal título até hoje.
2001, O ANO DO MARGARIDA
De volta aos preciosos arquivos de GRACIEMAG, encontramos a reportagem de capa sobre o Mundial 2001. O texto começava assim:
Quando Fernando Margarida montou na Honda Bis com a Ninja do Funk na garupa e virou o acelerador ao máximo, arrancando para iniciar uma espécie de volta olímpica na área de lutas do Tijuca Tênis Clube, seu rosto estampava uma expressão de felicidade quase infantil. O trajeto da scooter foi irregular, desajeitado e engraçado, uma das mãos do campeão segurava no volante enquanto a outra acenava para o público. A resposta veio em forma de aplausos do estádio inteiro para o maior destaque da competição, o faixa-preta que abocanhou de uma só vez as duas mais disputadas categorias em jogo, o meio-pesado e o absoluto, fato inédito até então.
Na semifinal do absoluto, Marga reencontrava seu rival Rodrigo Comprido. Mal iniciou o combate, um contragolpe em pé colocou Margarida em boa posição, por cima e com apenas um gancho o separando da montada. Os dois atletas estavam quase fora do ringue e antes que a luta voltasse para o meio, o paulista montou. “Quando a gente caiu naquela posição, eu parei, pensando que o juiz ia voltar a luta para o meio, e ele foi malandro, montou e o juiz deixou rolar, dando os pontos da passagem e da montada,” descreveu Comprido, sentido-se prejudicado. A seguir, além de ter de explodir para sair da posição ruim, ainda teve que correr atrás de sete pontos. Isso contra alguém como Margarida, cheio de disposição e vontade de finalizar.
No restante da disputa – a melhor de sábado – os dois deram show de movimentação, e o paulista se manteve na frente após uma troca de pontuação de quedas e raspagens. “Gostaria de agradecer a Deus essa vitória. Até hoje, eu só tinha tido derrotas contra ele. O Comprido já foi campeão absoluto duas vezes e consegui, numa luta muito emocionante e disputada, tirá-lo da jogada e ir para a final,” comemorou Margarida, ansioso para enfrentar Saulo Ribeiro no dia seguinte, na luta que definiria o campeão do aberto.
Garantidos na final da categoria mais visada de um campeonato de Jiu-Jitsu – o absoluto faixa-preta – Saulo e Margarida não se comoveram com a ideia de brigar descansados pelo título e pela premiação de uma Honda Bis e uma passagem Rio-Miami, e chegaram mais cedo no domingo para lutar a divisão, que com a presença de Eduardo Jamelão, Flávio Cachorrinho, Roberto Gordo, Xande Ribeiro, Murilo Rupp entre outros, era a categoria mais difícil do campeonato.
Enquanto Saulo – de kimono, casaco por cima e walkman no ouvido – se aquecia com leves pulos no aguardo de seu primeiro compromisso, um desesperado Margarida chegava atrasado no estádio, pulava os dois alambrados que o separavam da área de lutas e se dirigia ao coordenador de lutas para saber o que estava acontecendo. O meio-pesado havia começado, mas, por sorte e como estava de baia, sua primeira luta ainda não tinha sido chamada.
Saulo passou bem pelos seus primeiros três compromissos, marcando presença na final. Primeiro foi Roger Coelho, depois Murilo Rupp e por fim derrotou Flávio Cachorrinho. Fernando teve pela frente Vinicius Jorge na primeira luta e, a seguir, lutou contra Eduardo “Jamelão” nas quartas. “Ele é um cara que já me ganhou duas vezes, na malandragem. Sempre eu ia pra cima, mas ele conseguia me segurar. Então eu falei: ‘Desta vez vou fazer o jogo certo e vou ganhar dele’”, explicou Margarida, que venceu por pontos e fez a semifinal contra Roberto Gordo. O último havia acabado com as esperanças da família Ribeiro de fechar a categoria ao derrotar Xande, mas parou ante o inspirado Margarida, por pontos. Assim foi desenhada a segunda final do campeonato entre Saulo Ribeiro e Fernando Margarida.
Enquanto a organização definia que o meio-pesado seria disputado primeiro, na abertura do horário da televisão, às 18 horas, e o absoluto encerraria o campeonato, por volta das 20 horas, Saulo descansava com o mesmo casaco azul e plugue no ouvido, na arquibancada, e Margarida devorava uma marmita de macarrão, sentado numa cadeira da tribuna de honra.
DUPLO IMPACTO
Chega a hora da primeira batalha. Saulo com o kimono azul com que disputou as lutas do domingo, Margarida de branco. Os dois se encaram enquanto Hélio Sonequinha é definido como juiz da luta. Sonequinha não perde tempo dando instruções aos lutadores, apenas olha ambos pedindo prontidão e faz sinal à mesa para dar início ao combate.
Agressivo, Saulo faz suas pegadas e entra em queda, abrindo o placar. No chão, se ajeita e emenda uma eficiente passagem de guarda, a mesma que nenhum dos adversários da competição tinha conseguido evitar, anteriormente. Parece que a história vai ser a mesma. Parte para o lado, abraça o pescoço e se ajusta, mas Margarida dá as costas, acha espaço, repõe e está de novo com o escudo das pernas pronto. Saulo tenta de novo e de novo, mas nada consegue, e a luta acaba voltando em pé.
Saulo faz sua pegada com a mão esquerda. Margarida pega a lapela do kimono abaixo do apoio de Saulo e arranca a pegada. O faixa-preta vindo do Amazonas repete o movimento e Fernando arranca seu ajuste novamente. Alguém repara na plateia: “O Saulo cansou”.
Margarida está longe para escutar o comentário, mas perto o bastante do oponente para sentir isso e entra com uma queda perfeita. Saulo não resiste e cai. Fernando não para e transpõe rapidamente a guarda do adversário, já colocando o joelho na barriga. Saulo nem esboça defesa quando as mãos de Margarida se dirigem ao seu pescoço. Assim, uma fração de segundos depois, vem a finalização.
Margarida levanta com os braços para cima, comemorando. Saulo se recompõe, espera o juiz erguer o braço do campeão meio-pesado e o cumprimenta, com olhar irado, avisando: “Ainda tem outra!” A guerra não havia terminado. Exatamente cem minutos se passam quando Saulo reaparece para a disputa do absoluto, desta vez de kimono branco, o mesmo com o qual havia vencido as demais lutas do aberto, no sábado.
Na encarada anterior à decisão, Margarida exibe o mesmo olhar ansioso. Saulo, apesar de visivelmente mordido, aparenta estar abatido e não tem mais a agressividade de costume estampada no semblante. Margarida então passa a ditar o ritmo e, logo no início, consegue bonita queda, abrindo o marcador.
Saulo volta em pé e, jogando no contra-ataque, parece querer se poupar para uma explosão no final. A luta continua com Margarida dando giro e conseguindo algumas vantagens, até que a mesa anuncia seu fim. Antes de perceber o que acaba de concretizar, Fernando esboça uma reclamação ao gritar um “Não, já terminou?”, mas em seguida se toca que é o grande campeão e sai comemorando loucamente a dupla vitória.
Obviamente triste, mas mantendo o espírito esportivo, Saulo analisa sua atuação no dia: “Hoje fiz cinco lutas. Até a minha terceira contra o Cachorrinho eu estava legal, mas nas duas últimas contra o Margarida faltou gás e pujança. Independente disso, foi mais do que justa a vitória dele, que estava num dia muito bom e conseguiu ser campeão com justo mérito”.
APÓS O AUGE
Depois de se consagrar no Jiu-Jitsu com pano, Margarida tinha tudo para brilhar nos eventos sem kimono e faturar os tão cobiçados petrodólares dos torneios de Abu Dhabi, o que acabou não acontecendo. Na edição 2003 do ADCC, em São Paulo, a participação de Marga ficou completamente ofuscada pela ascensão de atletas da nova safra: Roger Gracie, Ronaldo Jacaré, Marcelo Garcia, Fabrício Werdum… Nomes já consagrados também brilharam no evento, como Pé de Pano, Saulo, Ricardo Cachorrão, Dean Lister e Leozinho Vieira. Margarida, que perdera na seletiva num lutão contra Jacaré, perdeu logo no primeiro combate no evento principal, contra o americano David Terrel.
Certa vez, perguntamos a Marga: “Você é um fenômeno no Jiu-Jitsu, mas ainda não despontou no submission. Por quê?”. Fernando respondeu: “No ADCC 2003 dei dois suplês no David Terrell durante os cinco primeiros minutos do combate [quando não se contabilizam pontos]. Com certeza foram as quedas mais bonitas da competição, só que ninguém me deu esse prêmio. Perdi a luta porque puxei para a guarda, ao arriscar uma finalização via guilhotina. Durante a luta ainda machuquei o joelho num choque acidental, depois tive de me afastar quase um ano dos campeonatos por causa dessa contusão. E o Terrell é muito bom lutador sem pano. Em resumo, acho que venço as minhas lutas no submission, mas perco nas regras. A minha desculpa ou explicação, seja lá o que for, tem a ver com as regras. Essas minhas lutas foram filmadas e estão aí para provar o que eu disse”.
O tal afastamento de Marga acabou abrindo espaço para uma geração de lutadores galácticos, com destaque para dois em especial: Ronaldo Jacaré e Roger Gracie. Em 2004, Fernando disputou a Copa do Mundo da IBJJE, que pagava prêmios em dinheiro. Até fez bonito, chegando à final do absoluto, porém, parou para Jacaré na luta decisiva: 7 a 0 para o hoje astro do UFC, num lutão. O vídeo do combate está na internet.
Em 2005, quando voltou a lutar o Mundial da IBJJF, Margarida acabou finalizado por Roger com um estrangulamento pelas costas. Naquele mesmo ano, na Copa do Mundo, Fernando foi eliminado por Xande Ribeiro por 9 a 2. Em novembro de 2006, Margarida migrou para o MMA, mas não obteve constância nos eventos nacionais, fazendo apenas duas lutas, com duas vitórias.
O GÁS É INFINITO ENQUANTO DURA
Com o passar do tempo era natural que uma das principais virtudes de Margarida não se perpetuasse de forma intacta: o esplendor físico e a magia do “gás infinito”. É muito comum os leitores de GRACIEMAG mandarem mensagens para a nossa redação até hoje, com a seguinte pergunta: “Afinal, por onde anda o Margarida?”.
Embora tenha se consagrado como competidor ao longo da carreira, Fernando Pontes não aproveitou suas glórias e popularidade para formar uma academia sólida e proliferar um grupo de alunos que mantivesse o seu nome ou o nome de sua escuderia em evidência. Marga optou pelo filão dos seminários, o que condiz de certa forma com sua essência inquieta.
Não cabe, entretanto, julgarmos aqui o craque no que diz respeito à forma como quis guiar a trajetória de sua carreira. O que importa é homenagear o Jiu-Jitsu fenomenal de Fernando Pontes e assim inspirar o estilo de lutar de nossos leitores. A arte de caminhar sempre para a frente, para cima dos grandes desafios, dos grandes adversários, em busca da finalização. “Gosto de nocautear, procuro fazer meu adversário pedir pra parar. Batucou é nocaute”, ensina Pontes. Que o povo da divisão master fique atento, pois o velho fenômeno pode reaparecer um dia.
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